Vozes do Punk vol. 20: as frequências sonoras de Olga Costa.

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Com vasta experiência no jornalismo cultural e com uma estrada longa no cenário da produção musical, Olga Costa vai além da experiência com o punk rock e compartilha sua trajetória, uma verdadeira inspiração a todas e todos os amantes da música pesada. Da Paraíba para o mundo, Olga percorre um caminho sonoro multifacetado que é incrível conhecer. Senta aí e lê que a história é bonita! A série está nos últimos episódios. Em breve temos o grand finale.

“Não quero ser refém do que as pessoas acham que seria melhor eu fazendo. Eu sou livre, eu faço o que eu quero. Agora, você pode perfeitamente não gostar do que eu tô achando que é lindo e perfeito, acabou.” (Maria Bethânia).

Everaldo Pontes me ensinou a gostar das bandas com mulheres e apenas com mulheres no rock/pop. Antes dele, apenas as longínquas vozes das cantoras da Motown ainda na infância, seguidas de Rita Pavone e Françoise Hardy. No final dos anos de 1970 ouvi, pela Transamérica FM de Recife (em João Pessoa ainda não tinha rádio FM), a música da Kate Bush – era o primeiro disco da artista – uma mulher que assumiu todo o processo do seu trabalho e deu de ombros para muitas regras que regiam o mercado fonográfico na época.

Ali estava um D.I.Y. (Do It Yourself) resgatado das mulheres do pós-guerra americano, mais tarde apossado pelos punks e anarco-punks. Kate Bush, com sua voz agudíssima, me conquistou sem muito esforço, pois para mim, já existia Geddy Lee – a voz que todos gostavam de odiar…

E aqui no Brasil, para mim, já existia Rita Lee nos Mutantes, fora dele ou com Gilberto Gil – Refestança – um dos LPs que mais ouvimos na época, enquanto na TV dávamos de cara com os Sex Pistols.

Conheci Everaldo fazendo teatro na Escola Piollin, da qual é um dos fundadores, junto com Luiz Carlos Vasconcelos. Descobrimos que tínhamos o mesmo gosto pelo rock, mas não mantivemos contato por algum tempo. Fui reencontrá-lo na Rádio Universitária quando já fazia a produção do programa Jardim Elétrico.

Me and Bobby McGee!

Eu estava finalizando o Curso de Comunicação Social na UFPB. O meu orientador e diretor de programação da Rádio, Carmélio Reynaldo, disse: Fale com Everaldo para você colaborar com o Jardim Elétrico (nome dado pelo próprio Carmélio ao programa e que ia ao ar todos os sábados, das 15h às 18h).

Na época, eu estava ouvindo muito o Born Again, do Black Sabbath, que tinha acabado de sair. Perguntei ao Everaldo quantas músicas eu podia tocar no programa. Ele olhou para mim e disse: Toca o disco inteiro! (risos) E assim o fiz pulando num pé só. Até hoje tenho parte do script que fiz para a apresentação do álbum (era preciso fazer um roteiro para que o locutor do horário pudesse apresentar – nem Everaldo, nem eu éramos locutores e nem tínhamos ideia de que seríamos em breve).

É claro que Carmélio tinha vislumbrado todo o futuro! Foi ele, mais uma vez, que sugeriu que a gente apresentasse o programa. Everaldo foi primeiro sob o pretexto que, como ator, tinha as manhãs de empostar a voz e tal. Para se jogar no fogo é preciso coragem, pois nada acontece se não houver uma ação (citando o Reggie Leach). Em pouco tempo estávamos fazendo a produção e apresentando o programa. O primeiro programa que apresentei foi um especial do Iron Maiden! Mas…cadê o punk dessa história?!

Um pouco antes de ouvir a Kate Bush na rádio Transamérica, assistíamos, eu e minha irmã (Bete) um programa chamado Rock Concert. Foi onde ouvimos boa parte das bandas que passaríamos a gostar e ir atrás de ouvir mais e mais músicas.

Em 1977 apareceu na nossa frente, um cara com cabelos espetados, descoloridos, com roupas rasgadas e gritando que era anarquista! Nome da banda anotado. Só que descobrimos que não existia nada da banda lançado por aqui. Apesar de ter as cifras das duas músicas – God Save the Queen e Anarchy in UK – publicadas em revistas que eram vendidas nas bancas de jornais.

Dois anos antes de nos deparar com esses caras, vindos não sei de onde (era o que achávamos na época) fomos ao cinema, eu e minha irmã (com 13/11 anos respectivamente) ver Elton John, que fazia parte do elenco de Tommy. Foi massa ver o Elton naquela performance nonsense do Pinball Wizard! Só que, saímos do cinema nos perguntando que banda louca era aquela que o guitarrista tacava a guitarra no chão, o baterista era insano e com cara de louco a chutar tudo?! Essa foi a primeira rachadura, o punk só fez acabar de quebrar.

No início dos anos de 1980 tivemos acesso a alguns LPs importados de um vizinho amigo da nossa vizinha de frente do bairro: Fly – Yoko Ono e Plastic Ono Band: Two Virgins. Um divisor sem precedentes! Isso também era música! Yoko tinha uma visão de mundo e musical que jamais havia vivenciado antes! Até já tinha ouvido no Álbum Branco dos Beatles, mas não sabia ainda da importância da Yoko na vida monótona do 4/4 de John Lennon! (risos).

Quando comecei a conhecer a pequena sala que guardava os LPs da Rádio Universitária, vários discos chamaram a atenção, alguns estão na memória até os dias atuais: 1. Joan Armatrading – Me, Myself I (nunca tinha ouvido antes, mas Everaldo tinha vários discos dela na sua discoteca particular. 2. Frank Zapp – Hot Rats, dispensa comentários, 3. Scorpions – Virgin Killer (edição nacional com o escorpião na perna. A capa original, proibida, não foi editada no Brasil. História que só iríamos conhecer anos depois), 4. Bon Jovi – o primeiro LP, ninguém conhecia ainda, depois que ele “estourou” o disco sumiu! 5. Quiet Riot – Condition Critical, alguns meses depois propus a troca com o Clara Crocodilo do Arrigo Barnabé!

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E é claro que Everaldo tinha vários discos de bandas punks! E de mulheres no punk! Foi quando soube das Slits, X-Ray Xpex (da Poly Styrene), Laura Nyro (ela não é punk na sonoridade mas estava entre as mulheres que Everaldo gravou numa fitinha para mim!), Patti Smith, Lydia Lunch, Laurie Anderson, Babies in Toyland (que mais tarde, em TV aberta seriam comentadas por Fernando Naporano, pasmem! Isso aconteceu no início dos anos 1990, quando Fernando já tinha debandado do Brasil). Nessa época a Rádio Universitária tinha uma parceria com a Rádio Cultura de São Paulo e veiculava o programa Rock Expresso do Thomas Pappon que sempre tinha novidades incríveis!

Meu trabalho final do curso foi em radialismo, ainda não existia o famoso TCC. Ao finalizá-lo fui contratada pela Rádio para fazer a programação normal diária e o Jardim Elétrico era o melhor bônus da vida! A programação da Rádio Universitária era segmentada. Tomamos como exemplo e segmentamos também as 3 horas do Jardim Elétrico.

Na primeira parte do programa (1h30) tocávamos de tudo! Era um Jardim de verdade, onde tudo florescia, mas nem todos pensavam assim, inclusive os nossos parceiros que convidávamos para colaborar com a parte do punk e do heavy metal.

Eu e Everaldo éramos dois estranhos numa terra estranha em que punks e metal se digladiavam, além de condenarem em silêncio o que ouvíamos e o que tocávamos na primeira parte – a saber: Echo and The Bunnymen, Joy Division, The Cure, The Smiths, Siouxsie and the Banshees, The Cult, R.E.M., Warren Zevon, Davi Edmunds, Nick Lowe, The Dream Academy, Elvis Costello e as bandas que (quase) ninguém gostava do Paisley Underground. Recebíamos cartas com xingamentos e pedindo para parar de tocar! (risos) e é claro que nunca paramos.

A segunda parte do programa era do punk rock e por fim o heavy metal, que só tocava os pedidos dos ouvintes, na maioria das vezes. Depois do Rock in Rio, a sessão ganhou mais 30 minutos, uma vez que os “metaleiros” (headbangers, um pouco mais tarde) começaram a surgir de todos os cantos. Eram presentes e ativos para que seu estilo favorito tocasse cada vez mais no programa.

Outro cara que me apresentou diversas vozes femininas e em estilos fora do rock/punk foi Antônio Aécio, que nos anos de 1990, tinha uma locadora de CDs e filmes XXX. Chegamos a trabalhar na mesma locadora de filmes VHS antes de montar a própria empresa.

Tirei férias em 1985 e fui direto para Brasília.  Passei um mês indo em rádios, catando material para tocar no programa, indo a ensaios de várias bandas. Fui diversas vezes a BSB. Em 1989 fiz uma entrevista com as Volkanas (ainda tenho a fita k7 de um lado as músicas do EP e do outro a entrevista gravada dentro de um carro em movimento), além de assistir um show delas junto com P.U.S.

Outra artista que me marcou muito por sua força e presença de palco foi a Cássia Eller, que tive a sorte de assistir no barzinho Bom Demais situado na Asa Norte junto com meu amigo Rosualdo Rodrigues (jornalista e escritor), antes de gravar seu primeiro álbum.

Falei com ela pós show (preciso dizer que foi algo arrebatador?) e me pediu para aparecer onde ela morava no dia seguinte, numa quadra comercial, em algum lugar de uma das asas e me deu uma fita k7 que guardo até hoje e que tem versões nunca lançadas!

No final dos anos 1980 fui convidada para integrar uma banda de heavy metal. Eu teria que compor melodias, fazer as letras e cantar! Nunca tinha feito nada parecido antes. Sabia apenas alguns acordes no violão e uma música do Led Zeppelin que um namorado do heavy metal tinha me ensinado.

Waldir Ridlav foi o cara que mostrou o caminho das pedras, me ensinou o pouco que sei sobre fazer música. A banda era Marcha Fúnebre e depois se tornou Avadut (não lembro ao certo se a escrita era essa). Fiz uma música para Everaldo com citações de Have you Ever Seen the Rain do Creedence Clearwater Revival e cheguei a tocar e dedicar a ele em uma ou duas apresentações da banda, mas não existe registro disso. Nem da música para Everaldo, nem música alguma da banda, até onde sei e lembro.

Everaldo foi ao Rock in Rio. Eu já não ia por não ter grana, de quebra fiquei em casa de molho com catapora. Fazia os textos para o Jardim e Carmélio ia pegá-los para um locutor apresentar no sábado subsequente. Em 1987 fiz a primeira viagem longa com Everaldo. Fomos ao Rio de Janeiro de busão, quase dois dias na estrada, para o Hollywood Rock com Pretenders (a inesquecível Chrissie Hynde com Johnny Marr na guitarra), Simply Red (magnífico), Simple Minds (show longo demais! Eles dobravam o tempo das músicas ao vivo), Titãs (sem comentários), Ira! (um show péssimo – 3 décadas depois “descobrimos” a razão), UB40 (com participação especial de Robert Palmer – quando foi anunciado para subir ao palco, Everaldo, dramaticamente – desnecessário dizer – se jogou no chão! (risos), Duran Duran (muito bom, mas muito longo também). E ainda teve Supertramp fechando o último dia.

No primeiro dia do festival Everaldo me chamou para perto do palco dizendo: venha que vou te apresentar aquele cara de paletó amarelo! Era Fernando Naporano, que junto com Pepe Escobar escreviam na Folha e Estadão – não sei ao certo se a sequência temporal foi essa. Everaldo conheceu Pepe Escobar em uma entrevista coletiva do Ozzy Osbourne, não lembro quando, e não manteve contato nunca mais. Já o Fernando, antes de bater as areias da terra brasilis dos seus sapatos, concedeu uma entrevista para Everaldo e Ulisses de Freitas, que foi ao ar no Jardim Elétrico. Provavelmente essa fita k7 ainda existe em algum lugar do caos habitacional do momento. Fernando voltaria para nossas vidas nos anos 2000…

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Duran Duran fez um coquetel no Copacabana Palace para a imprensa, mas apenas um representante do veículo de comunicação, presente para cobrir o evento, poderia entrar. Everaldo foi o único que teve acesso a sala fechada. Ficamos eu e Leo (amigo nosso que nos acompanhou na saga) do lado de fora, pescando champagne das bandejas e vendo o povo passar. Vendo inclusive o John Taylor (uau) nos cumprimentar antes de adentrar a tal sala.

Nessa época, na Rua Sete de Setembro, no centro da cidade do Rio, só tinha lojas de discos. Passávamos o dia inteiro garimpando LPs aos montes. Muitos deles pensando no Jardim. Um LP que ficou na minha memória dessa época foi da Danniele Dax, um single importado que fizemos questão de trazê-lo, pois nada dela tinha sido lançado por cá. É uma das coisas que mais sinto falta nessa vida depois da minha mãe: ficar por horas numa loja de discos com Everaldo!

Antes de Ulisses de Freitas partir para morar em BSB tivemos uma banda chamada Volks 69. Eu “toquei” baixo com ajuda do meu supergeneroso amigo Guga, que tocava guitarra. No repertório apenas bandas do power pop e de algumas da Flying Nun que incluía Posies e Chris Knox! Chegamos a fazer umas duas apresentações antes de Ulisses debandar para longe.

Pouco tempo depois, a banda Nailspop ficou sem a vocalista e… lá fui eu de novo! Primeiro registro em estúdio foi um CDr produzido pelo Alexandre Alves em 1997, se não falha a memória…

Em 1999 fiz a segunda viagem longa com Everaldo. Fomos para Los Angeles assistir mais de 100 bandas que se apresentariam no Festival Poptopia. Chegamos uns 5 dias antes. Quando colocamos os pés na Record Surplus – uma loja magnífica que fica na Santa Monica Blvd. – logo na entrada tinha o material promocional de uma banda chamada Catatonia (não, não é a de heavy metal da Suécia e sim do País de Gales).

Eu nunca tinha sequer ouvido falar. Everaldo enlouqueceu quando soube que a banda ia fazer uma apresentação no famoso Troubadour, que fica na divisa de West Hollywood com Beverly Hills na Santa Monica Blvd. Pegou a fita K7 que só tinha duas músicas, uma de cada lado – ideia essa de divulgação que foi roubada pelos americanos de Carmélio, que já fazia isso desde muito com os artistas locais que não tinham gravações oficiais para tocar na rádio (risos). Era a chamada Prata da Casa!

Voltando a Catatonia…eu falei para Everaldo que não ia ao show. Afinal eu não conhecia nada da banda. Mas isso era apenas uma desculpa para ver o que ele ia dizer. Ele sentava na cama da pousada, ligava o walkman e ficava cantando as duas músicas sem parar! Mais desafinado que Joãozinho! E eu pensava: essa banda deve ser chata pra cacete! No dia do show estávamos lá, no famoso Troubadour que acolheu Elton John, Tim Buckley… Lugar pequeno com um bar na entrada e o palco do lado direito da entrada. Assistimos antes uma banda que gostávamos, não lembro agora qual foi.

Cerys Matthews, a frontwoman, tinha/tem um carisma inigualável! A cada música eu fica mais hipnotizada por aquela mulher que nunca tinha visto na vida! E ela bebia e cantava! E como cantava! E como bebia! Trajava um vestido com uma estampa azul e branco que parecia ter sido feito no corpo dela. E o resto da banda? Sei lá! Com a Cerys você não vê mais nada ao redor.

Quando show acabou, depois do bis, poucos deixaram o local. Tinha um casal na nossa frente que a mulher bateu no ombro e disse: hey, vamos! Acabou! E ele só repetia: She is gorgeous! (Ela é maravilhosa!). Saímos e nos sentamos no banco do ponto de ônibus e ficamos olhando pro nada por alguns minutos sem dizer palavras…

Um dia levei Everaldo em outra loja. Essa era famosa pelas feiras no park (as feiras no estacionamento da loja). Eles vendiam CDs a 25 cents de dólar! Chegamos às 9 da manhã e saímos às 9 da noite! Sem comer, sem beber! Eu não sei explicar como o tempo passou tão rápido…

Nos anos 2000 embarquei numa mudança bombástica para São Paulo. Trabalhei em uma loja de discos na Galeria Presidente e tive uma banda chamada Chandler. A banda teve início quando Anderson me chamou para substituir o cantor da banda dele.

Eles tinham um show agendado no Teatro da Galeria Olido (maravilhoso) no centro da cidade. Quando ouvi as músicas nenhum tinha refrão. Eu disse que cantava com a condição de fazer refrões para todas as músicas. Ele topou!

Nos ensaios saíram as primeiras músicas da Chandler. Acho que foram umas sete no total. Recrutamos o baterista Eduardo Pedroso – uma cara incrível que faz muita falta nesse mundo insano… e Tuizim no baixo e escaleta. Lembro de uma apresentação na finada casa de shows Outs, na Augusta. Gravamos algumas músicas no Quadrophenia, estúdio de Sandro Garcia do The Charts, Momento 68 e Continental Combo, que nunca foram lançadas.

Crédito da foto: Vinícius Navarro
Joan Baez do agreste

Em 2006 fui parar em Florianópolis. Reencontrei Fernando e Melody (a Cocker Spaniel mais doce e linda que conheci!). Posso resumir esse período como um encontro de alguém que viveu e sabe de muitas histórias, com alguém que amava ouvir!

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Foi o período que mais li e ouvi sobre histórias diversas e experiências dentro do rock. O assunto que mais li, pesquisei e fiz muitas anotações foi sobre o processo criativo de artistas (tenho uma agenda inteira cheia delas). Ainda em Floripa, a convite de Claudia Reitberg (queridíssima, que também faz muita falta por aqui) do Portal Rock Press comecei a escrever e fazer entrevistas por lá.

Pouco tempo antes de ir para a mais completa tradução da Rita Lee, o Festival Coquetel Molotov trouxe o Teenage Fanclub. Fui para a entrevista coletiva com meus amigos Alexandre e Henrique (que tinham a banda The Automatics (RN) – que me orgulho de ter contribuído com duas músicas no álbum More Senseless – o primeiro CD triplo independente nacional).

Na época o Teenage estava sem baterista e levaram um baterista convidado que filmava a entrevista coletiva. Em algum momento, ele tirou a câmera do rosto e eu disse para Alexandre: eu conheço aquele cara que tá filmando! E Alexandre de pronto disse: como? O cara veio lá da Escócia, como você pode conhecer? E eu fiquei a entrevista inteira pensando de onde eu conhecia aquele cara…

Quando a entrevista acabou eu lembrei. Cheguei perto dele, que continuava a filmar as pessoas pedindo autógrafos, e disse que o conhecia de outra banda. Ele riu e nem deu importância, continuou a filmar. Quando eu disse que tinha visto show da banda dele em Los Angeles e que no dia ele não estava tocando guitarra porque tinha cortado o dedo, imediatamente ele tirou a câmera do rosto e disse: você conhece minha banda! A propósito, ele se chama Douglas Stewart e a banda chama-se BMX Bandits – creio até hoje poucos conhecem por aqui.

Antes de voltar para João Pessoa ainda fiz algumas músicas de um projeto chamado Mondatta Blue, que não saíram para o mundo.

Em 2010 é o ano do Jornal Microfonia. Nome inspirado em um fanzine dos anos 1990 de Aracaju, editado pelo criador e vocalista da banda Karne Krua, Silvio Campos, que mantém banda e a loja Freedom, até hoje, como um ponto de encontro rock na cidade de Aracajú.

Com a criação do Jornal Microfonia e posteriormente os braços de selo, shows e produções de diversos CDs, segui trabalhando como produtora executiva em diversos álbuns e coletâneas com bandas punks e de hardcore de várias cidades do Brasil: João Pessoa, Recife, Natal, Aracaju, São Paulo, Fortaleza, Teresina. E assim, se passaram quase dez anos sem banda, sem compor…

Durante a pandemia um anúncio no Instagram me chamou atenção: Pós em Rock em uma Faculdade de São Paulo. Minha irmã me perguntou o que eu iria fazer com isso. Não lembro o que respondi. Eu estava em uma depressão mais profunda que o Grand Canyon e não tinha nada a perder! O que eu iria fazer era o que menos importava naquele momento.

Durante as aulas descobri que era preciso alguns conhecimentos de teoria musical! Eu já tinha estudado em um curso de extensão da UFPB trocentos anos atrás, não lembrava mais de nada! E agora? Já estava na chuva… vamos simbora! Por isso a Maria Caram criou esse jargão “vai com medo mesmo”, que afinal, sintetiza muito de tudo o que vivi até hoje com as aulas da pós.

Atualmente estamos escrevendo os TCCs e a saudade já se instalou. O vazio de não ter mais as aulas é latente! A Pós em Rock fez redescobrir o gosto de compor. É bonito de se ler, mas é ainda mais bonito viver e ver a música atrair e atrair para realizar, não importa onde isso vai dar. O processo é mais importante do que a chegada, seja lá aonde for!

“But the biker didn’t like her”
Crédito da foto: Fábio Nosferatus

Logo no primeiro semestre da Pós, o professor da disciplina de Prática de Banda I, Heraldo Paarmann, me libertou de várias formas! Foi uma sincronicidade oportuna e necessária. Uma lição de vida inestimável. Provavelmente, sem essa experiência, não teria tido êxito em Harmonia e Morfologia do Rock (Ciro Visconti), nem em Laboratório de Composição (Rodrigo Bragança – as amarras que restaram foram extirpadas de vez). Foi um efeito cascata magnífico!

Em setembro de 2021 fui convidada a escrever algumas linhas para o livro de memórias do meu amigo Altaide Pedreira, Chakal – o frontman da banda Obtus de Teresina, PI, escrito e idealizado junto com Aristides Oliveira e Heitor Matos da Silva. Obtus participou da coletânea Ponto de Ignição, lançada pelo selo Microfonia em 2014 e foi a banda entrevistada na edição #34 do Jornal Microfonia em julho de 2017.

O duo, criado como atividade da disciplina de Laboratório de Composição em 2022, Motosserra, quase sem querer, transpôs os muros da Faculdade. A Hominis Canidae Records (HC) lançou a música AmaZona em todas as plataformas digitais. Recentemente lançou o segundo single rua_rio que contou com a produção da Tuca Records – Produção Musical – trabalho primoroso da Ju e do Rafa. Breve lançamento do vídeo clipe.

Lembro quando fiz o texto de abertura da entrevista com Ariel citei que “não se podia dar asas ao punk”…

Mês passado acordei com uma base de uma música entre minhas mensagens. A letra surgiu rápido e a melodia veio em seguida. Agora é só aguardar as cenas dos próximos capítulos!

Crédito da foto de capa: Fábio Nosferatus.

6 comentários em “Vozes do Punk vol. 20: as frequências sonoras de Olga Costa.”

  1. Primeiramente, obrigado por lembrar da Claudia Reitberger e do @Portal Rock Press. Conhecia a Olga Costa por volta de 2002, na loja de disco de SP. Visitava a trabalho pela Rock Press, as lojas e anunciantes da Revista/Site. Era sempre muito bem recebido, ela até me convidou para um show dela, mas infelizmente, minhas idas a São Paulo era Sempre um bate e volta de ônibus saia do subúrbio carioca e voltava ao subúrbio carioca em menos de 24 horas.

    Ler esse texto é conhecer e reconhecer a importância de uma pessoa que fez de sua vida uma motivação, para tantos produtores, músicos, fanzineiros, jornalistas… e artistas como um todo.

    Parabéns Olga, você é um exemplo cultural para a cena independente nacional.
    Namastê
    Michael Meneses – Atual Editor da Rock Press e criador do Selo Cultural Parayba Records.*

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    • Michael! Não precisamos ir muito longe para conseguirmos a inspiração que precisamos! Você, Cláudia e todos que permanecem nessa estrada serão sempre um norte! As suas visitas e os exemplares da revista Rock Press estão fincados na memória e no coração. Obrigada pelas palavras, pelo carinho e pela resistência! Abração!

      Responder

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