“Cosmos”, o novo disco de Rogério Skylab foi lançado ao mundo e está incrível

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por Aristides Oliveira

É maravilhoso saber que o meu próximo disco, COSMOS, que será lançado no próximo dia 2 de outubro, não será indicado a prêmio nenhum. E esse é o meu maior orgulho: não vai ganhar prêmio nenhum e muito menos terá alguma faixa interpretada por algum cantor ou cantora famosos (Rogério Skylab).

Skylab afirma que não é um músico intuitivo. É um artista focado na construção e racionalidade sonora. Cada obra é marcada pelo amor a serialização, sequência e números: Decálogo, Trilogia do Carnaval, Skylab & Tragtenberg Vol. 1,2,3, Trilogia do Cu. Após se consolidar no underground e ganhar popularidade nas aparições fantásticas no Jô Soares e ter seu próprio programa de TV no Canal Brasil, é impossível deixar de comentar o novo trabalho lançado ontem (02/10) nas plataformas de música: “Cosmos” (outra trilogia a caminho).

Tratore – 2020.

Para quem é acostumado com a fase rock de Rogério, talvez torça o nariz para o novo projeto. É um mergulho profundo nas suas influências com o samba (Rogério curte João Gilberto), jazz e a manutenção dos traços melancólicos de praxe, com letras mais intimistas e uma pegada musical sofisticada.

 Skylab está numa fase de calmaria, amadurecimento musical e sendo mais exigente com seus arranjos. Cosmos segue minimalista, leve e informado por uma possível conexão articulada com os discos produzidos nos tempos da Trilogia do Carnaval, fase em que ele transita do Decálogo para outro nível de experimentalismo.

Ele comenta:

Na verdade, a “Trilogia do Cosmos” foi concebida em homenagem a três grande compositores brasileiros: Moacir Santos, Eumir Deodato e Hermeto Pascoal. E a ideia era que cada volume da trilogia contivesse 15 faixas, 2 das quais fossem de autoria desses compositores. Pra essa empreitada, eu busquei a luxuosa companhia do pianista Leandro Braga.

E para o primeiro volume, “Cosmos”, recentemente lançado, escolhi duas composições de Moacir Santos: Kathy e Coisa nº6. Compor uma letra pra essas músicas geniais foi uma experiência maravilhosa. Gravamos o disco, inclusive essas 2 faixas, e o resultado superou as expectativas. Animado pelo resultado, escolhi duas composições do Eumir Deodato, para o disco seguinte: “Univac loves you” e “Amani”. E o mesmo eu fiz em relação a Hermeto Pascoal, pensando já no terceito volume: “Montreaux” e “Ailin”. A pandemia me ajudou muito: além dessas co-autorias, nunca compus tanto. Toda a trilogia do cosmos foi composta. Restava então a burocracia: pedir a autorização à editora.

Eu estava em êxtase pelo belo resultado que obtive na gravação das duas músicas do Moacir. Só que… tudo desandou. O herdeiro de Moacir Santos não autorizou. É a velha história dos direitos autorais. De nada adiantou o belo arranjo do Leandro Braga, que, inclusive, tinha me alertado pra essa possibilidade. Tentei de tudo, falei com advogados especializados em direitos autorais, mas, se o herdeito disse NÃO, é não, não tem o que fazer. Com isso deixei de lado as composições de Hermeto e Eumir Deodato, já imaginando futuras decepções, ainda que esses estejam vivos.

Conceber ideias é estar preparado pra deixá-las de lado, principalmente quando colidem com as leis. Quando as concebemos, sabemos dos riscos. Mas vamos até o fim. É um desperdício dos infernos. Cabe agora ficar ouvindo solitariamente essas duas músicas que gravamos do Moacir: ” Peço, vê se te orientas, vai enquanto é tempo compor uma canção de paz. Olha, não é tão difícil, é pular o abismo compor uma canção de paz. Olha, é um absurdo, sem nenhum sentido compor uma canção de paz. Olha, todo mundo goza, é mesmo impossível compor uma canção de paz…”.

É raro a gente acompanhar artistas independentes que não se curvam as cobranças do show-business e fazem um som autêntico. Skylab é a prova que ainda é possível fazer projetos autorais com padrão elevado, produzindo uma marca única na história da música brasileira. Cosmos é a vitalidade de um senhor que tem 64 anos, mas com uma juventude criativa atravessando boa parte da preguiça e mediocridade que ocupa o cenário das músicas de plástico financiadas pelas grandes gravadoras.

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Rogério Skylab é a reinvenção em si.

Para degustação, prove aqui:

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