por Aristides Oliveira
Há 10 anos atrás era lançado o filme-documentário Sem Palavras.
Encerro o ano lembrando deste trabalho, feito com urgência, de forma artesanal, sem grana e com muita coragem.
Arnaldo Albuquerque estava bebendo demais e raramente conseguíamos gravar com ele sóbrio, pois estava no bar em frente a sua casa tomando uma cerveja. Cheguei para Bernardo Aurélio e comentei a necessidade de fazer esse trampo logo, sem esperar se inscrever em edital, captar grana ou produzir com a melhor câmera e técnica do momento.
Foi feito assim: rápido.
Lançamento na Sala Torquato Neto, com a presença do próprio Arnaldo, bêbado, interrompendo a exibição de vez em quando para se contrapor as falas sobre ele no filme.
Sempre me incomodava o fato deste artista, pioneiro em várias frentes em Teresina (quadrinhos, fotografia, cinema, artes plásticas e gráficas, animação, edição, super-8…) ser um ilustre desconhecido. Andava pela cidade sem homenagens, reconhecimento e principalmente: ser aproveitado em cursos, palestras e aulas para a nova geração de artistas que, até hoje, nunca ouviram falar dele.
Dez anos se passaram e roda na minha cabeça a provocação feita a mim pelo poeta Paulo Machado: “Arnaldo é um artista intencionalmente esquecido”. Depois que o filme foi rodado e deixamos circular pelo You Tube, o tempo passou e essa questão não ficou resolvida.
Por que nomes são silenciados e outros enaltecidos?
Quem são as pessoas que legitimam e obscurecem as vozes na história da arte brasileira?
Por que Arnaldo, mesmo com toda potência criativa e protagonismo nas artes experimentais é ignorado em boa parte dos círculos acadêmicos que se dedicam a estudar cultura na década de 70?
Já dizia Jomard Muniz de Britto, nós, piauienses, temos uma forte herança da cultura egípcia, que é a de cultuar os mortos. E seguimos desse jeito, traçando ritos de culto e mitificação aos artistas que morreram e hoje são nossos heróis.
Será que já é hora de mumificar Arnaldo Albuquerque?
Imagem: Bernardo Aurélio.