Vozes do Punk: saiu o novo som do Banheiro de Rodoviária (BxDxR)

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Assisti um show do Banheiro de Rodoviária na calçada do Cine Rex, numa noite dedicada a atacar o Brazil Distópico, no evento Hardcore contra o Fascismo (2018).

BxDxR faz parte da nova geração de bandas punk rock em Teresina.

Com bastante vitalidade na proposta sonora, os caras traçam um percurso firme e conquistam o público a cada música tocada.

Vivemos um momento carregado de obscurantismo e marcas de ódio, mas eles chegaram pra oxigenar nosso sangue diante de tudo que está rolando e nos ajudam a meter a porrada no absurdo cotidiano bolsonarista.

Hoje (02/03/20), somos presenteados com Ruas Sangrentas, um álbum de 12’59’’ para qualquer ouvinte ficar sem ar. É muita velocidade, juventude e raiva dos anos anti-democráticos em processo.

A Revista Acrobata conversou com a banda para saber o que eles têm a dizer.

E seguimos de Vozes do Punk.

por Aristides Oliveira

A (BxDxR) Banheiro de Rodoviária, é uma banda de Hardcore Punk formada em meados de 2015 na cidade de Teresina – PI. A banda foi criada por Gustavo Paz    (Carne Morta), que no início tocava somente com uma guitarra, vocal  e uma bateria gravada. Logo depois, Dan Havoc entrou na banda para segurar o vocal podre e em seguida, entrou Marcello Pesseghini (Micróbio) na Bateria.

Após composições e shows, foi lançado o primeiro álbum, intitulado “Mundo Destruído”, logo depois entrou Alex Barbosa no Baixo. A banda seguiu fazendo shows e eventos e após um tempo, a formação mudou e entrou Matheus Sifite na bateria. Então foi gravado um vídeo clipe com duas músicas, Mundo Destruído e Que Vergonha. Atualmente a formação da Banheiro de Rodoviária é Dan Havoc no vocal, Alex Barbosa na guitarra, Rodrigo Rodrigues no Baixo e Reyel Caires na Bateria. O intuito de passar uma mensagem de protesto, com atitude agressiva, presença de palco e letras inusitadas, chamou bastante a atenção do publico em geral e isso vem sendo bastante marcante na história da banda, garantindo uma parceria com Fábio Crazy e seu selo Solar 6voltz. Após essa parceria firmada, foi gravado no estúdio na cidade de Parnaíba – PI o segundo cd da banda, “As Ruas Sangrentas. (Crédito do texto: BxDxR)

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Ruas Sangrentas
Arte da capa: Artur Fontenelle (banda Elefante 011)
Banda: Dan Havoc (voz), Alex Barbosa (guitarra), Rodrigo “TR” Rodrigues (baixo), Reyel (bateria).

Qual o significado político de lançar um trabalho novo nos tempos que vivemos?

Dan Havoc: Eu acho que o significado político de lançar um novo trabalho underground nesse tempo é de resistência, por que eles tão querendo privar e tirar a liberdade de expressão, nos calar, então estamos aí na resistência.

Rodrigo Rodrigues: Acredito que mais do que nunca é momento de nos posicionarmos. Infelizmente com essa polarização política que vivemos hoje, não podemos ficar em cima do muro, independente de ideologia política. Ou você é contra de todo esse assassinato a democracia, ou você é condescendente a tudo que está ocorrendo neste país.

Falem um pouco das influências que vocês dialogam nesse novo som.

Dan Havoc: Acho que a influência é a realidade da atualidade: Ruas sangrentas, as guerras politicas, guerras santas, a realidade do povo que vive na favela que tem que lidar com tiroteio, crianças que são baleadas mortas pela polícia saindo ou indo pra escola, o povo ter que conviver com sangue de jovens sendo derramado diariamente… Uma guerra sem fim, que é na verdade pra favela virar ponto turístico pra gringo. Essas coisas me irritam por que não é nada turístico ver pessoas em situação de risco de miséria, pobreza, pessoas amontoadas… Muitas delas que saíram do Norte/Nordeste em busca de oportunidade e fora, muitas outras coisas como o comodismo das pessoas em relação ao que acontece ao redor.

Como vocês estão fazendo para fazer a música circular? Além da internet, os espaços para shows estão contemplando as expectativas?

Dan Havoc: Ah… em questão de zines, fanzines, também estamos colocando em rádios. Nosso material vai sair numa rádio de São Paulo. E com a galera punk mesmo, do Brasil inteiro que mantemos contato nas redes sociais. Vamos mostrando pra um, pra outro, e cada um vai divulgando pra cenas deles, espalhando regionalmente. Dão muito apoio, oferecendo até para tocarmos por lá. Já apareceram dois shows aqui pra nós. Estamos no Spotify e no Deezer também.

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Que diferencial podemos encontrar nesse trabalho com os anteriores?

Rodrigo Rodrigues: Diferente do álbum “Mundo Destruído”, que era mais Hardcore, este atual consegue mesclar o gênero anterior com Punk propriamente dito, tendo músicas inteiras com essa pegada. Isso é resultado de que a partir de agora o Dan é o compositor principal da banda.

Mesmo mesclando mais com o Punk, essa atual formação tem uma pegada mais pesada e com tons mais graves, com uma afinação diferente da anterior. O Alex é baixista, mas agora está na guitarra, executando muito bem esse papel, e entrei já no contrabaixo, trazendo minhas influências do Metal também. O Reyel completa na batera esse novo timbre da banda.

Fora que o álbum está bem melhor produzido, desta vez por um selo fonográfico, a “Solar6Voltz Discos” com Fábio Crazy (Narguilé Hidromecânico) por trás de toda a produção e Levi Nunes, do “Estúdio Vig” de Parnaíba.  Está sendo um prazer ter essa equipe crescendo junto com a gente, por que estamos de igual pra igual. É uma galera da mesma loucura que a nossa.

Créditos: BxDxR

Qual a importância do punk rock no Brasil bolsonarista? Virou uma estética, visual ou podemos considerar elemento de resistência? Como seria o enfrentamento punk em 2020?

Dan Havoc: Com certeza resistência. O punk virou algo do TSJ. Tá funcionando total, eles estão se incomodando, isso é o que importa. O nosso protesto está dando certo. Não é questão de estética, não é questão de divulgar banda, é questão de resistência mesmo. A gente sempre esteve na luta. Mas dessa vez tocamos bem na ferida.

Rodrigo Rodrigues: Acredito que em muito tempo não existe um melhor momento para as bandas do movimento se manifestarem e irem para frente. Eu vejo umas de maneira muito discreta fazendo algo, não querendo arriscar tanto. Acredito que podemos mais, fazer mais diferença. Não é momento de segregação, mas de união, de meter as caras e fazer acontecer!

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Além de tocar. Em que os integrantes trabalham? Como conciliar com a música?

Rodrigo Rodrigues: Metade dos membros trabalham de CLT. Para estes, tempo é complicado mesmo, as gravações tiveram que ser nas férias de um para poder rolar com tempo total.

A maioria dos membros mora na Zona Norte de Teresina, consideravelmente próximo. Eu e o Dan somos quase vizinhos haha, então tem essa facilidade também. Só o Alex que mora numa região mais afastada, mas sempre damos um jeito.

Como é atacar o Capitalismo habitando nele?

Rodrigo Rodrigues: Eu tive uma realidade diferente, vamos dizer “privilegiada” em relação aos outros, pois sou de família classe média. Mas os meninos, principalmente o Dan, nunca viveu nele. Ele foi punk de verdade, de morar nas ruas com outros punks anos atrás. Já levou surra, já sofreu, já passou fome, já passou por cada história que vocês nem podem imaginar. É uma realidade muito dura. Um guerreiro mesmo. Ele tem suas revoltas, e todas elas com seus motivos. Eu conhecendo eles de perto, eu passei a respeitar muito o movimento punk, mesmo não seguindo diretamente ele. As pessoas (até mesmo eu, antes de conhecer direito) tiram conclusões muito erradas sobre os punks. Só lembram como baderneiros, arruaceiros, drogados. Posso dizer que conhecendo de perto, a fundo, e com uma realidade totalmente da minha, que são as pessoas mais humildes e acolhedoras que você pode imaginar. Eles se importam, com o que importa de verdade nesse mundo: As pessoas.

3 comentários em “Vozes do Punk: saiu o novo som do Banheiro de Rodoviária (BxDxR)”

  1. Muito boa a entrevista e o ponto de vista dos caras….Firme e divulgar pra lançar o material fisíco nem q seja pouco. Mas vale a pena, a galera das antigas, ainda gosta de comprar…cd e vinil…blz
    Até breve,
    Banheiro de Rodoviária (Reyel Caires)

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