5 poemas de Pedro Albuquerque

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Pedro Albuquerque nasceu em Aveiro (Portugal) em 1992 e, desde cedo, mostrou apetência para as artes. Antes de escrever, já ditava seus textos e, aos 6, com a entrada na escola, descobriu a poesia e a declamação. Mestre em Engenharia e Design de Produto, trabalhou vários anos na área até se virar para dentro e não mais largar os livros. Em 2022 lançou “ExTratos Dramáticos” e, imediatamente, começou a participar em Feiras do Livro, programas de rádio e televisão e a dar palestras em Universidades. Ultimamente, mantém a sua coluna “POEMA-PONTE” na Revista Geração de 20 (Bahia, Brasil), onde publica poetas luso-brasileiros emergentes, e encontra-se publicado em antologias, revistas e jornais nacionais e internacionais (Brasil, Chile, México, Espanha…), estando a terminar o próximo livro.


DITA-DORES

Porque o pássaro voa
Damos o pátio ao cão
Porque o cão corre
Damos-lhe um portão
Porque o portão se abre
Damos-lhe um trinco
Porquê?

***

A LINHA TORTA DE CAETANO
ao Caetano Veloso

A palavra
Doce travo a japoneira
Viajou de mão em mão
Da tua unha reta
Rente ao céu da boca da Bahia
Até ao coração dos meus dias
Como missa de porta aberta
Uma ode à vida e a Deus
Que mais uma vez
Escreveu certo por linhas tortas
Pois, ao conhecer-te – Caetano
A voz te deu como um rio
Para que lá longe no exílio
O coletivo acordasses.

DESAMPARO II

E no dia seguinte à morte
Como cortina encerrando a cena
Irromperá uma manhã de nevoeiro
Para a silhueta do meu palco perder
E jamais um aplauso repetir.

***

ARTILHARIA PESADA

Na defesa estreita do papel
Uma caneta barrica-se
E lança sua pólvora
Mais seus q’s de fumo
Na esperança de vencer
Ou somente desorientar
O mundo num argumento
Pois se a caneta é uma arma
As palavras serão seu chumbo
Conclui-se.

***

AGRICULTOR DE PALAVRAS

Os versos escondidos nos dedos das árvores

Nas colmeias, as estrofes com ferrão e asas

As minhocas que alimentam o estômago

Dos pássaros que cantam nos ninhos

De rima, os gestos das galinhas

Nos galinheiros

Enchendo o papo

De canção em canção

A geometria dos dias

Onde tudo crio e colho

Como o nabo e o repolho

Que saco da terra fecundada

De poesia

Esta é a minha vida

De agricultor de palavras.

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