Uma nota sobre “Inaudito”

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por Henrique Douglas (jornalista)

Talvez “Inaudito”(2017) seja bem estranho porque estamos acostumados ao brilho de festejar, a comemorar o belo da vida, a aventura do meio, a explosão de nossas melhores performances, e esquecemos de comemorar o final da jornada, e o final, convenhamos, nem sempre é na velocidade da felicidade e muito menos cheio de glamour estroboscópico.

Além disso, algumas comemorações podem ser discordantes e parecem desoladoras.

Inconteste entre 1969-1973, o músico Lanny Gordin acompanhou alguns dos nossos mais importantes artistas, no palco ou gravando discos fundamentais. Fundamentais MESMO!

Adoeceu (um diagnóstico de esquizofrenia) e isso mudou drasticamente sua trajetória.

Ele volta nesse documentário mostrando o que faz e o que pensa agora, e não é um diálogo fácil.

A cartilha da dupla de cineastas é bastante heterodoxa e posso dizer que é um papo com um estranho que traz desconexão ou conexão com fundamentos bem distantes do convencional. Alguns vão dizer que é só loucura mesmo.

Mas se Lanny é apresentado como um artista genial (que ele foi), singrando os limites do artístico, deixo pra você se entender com ele!

Hoje, o músico não possui mais a destreza que o iluminou e apresentar isso foi inevitável.

O método criativo da produção arriscou enfrentar a fatalidade da vida com esse retrato alienista, como se Simão Bacamarte criasse uma nova “Casa Verde” e pra lá enviasse seu personagem.

Posso dizer que uma coisa reflete o documentário: o vazio de comentários em matérias de vários importantes jornais eletrônicos e de amplo alcance.

Nenhum comentário sobre uma trajetória que não se importou em ser normal ou convencional, e que aparentemente ninguém ouviu ou quer ouvir. Mesmo que, sem ter a mínima ideia, sempre ouçam em grandes discos!

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E depois o louco sou eu. (HD)

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