O Pop-Naif-Reciclado de Binário Armada [Mokōî Ygarussu]
Por Marcos Maia
Gil Duarte quer nos levar para a infância. Mas não só a infância dos doces, dos sorvetes e das pipas. Também a infância das cenas incompreensíveis nos sonhos estranhos e curiosos, onde imagens que ainda não conhecemos, informações que ainda não compreendemos, sons ininteligíveis, nos são apresentados em sequências caleidoscópicas e ao mesmo tempo suaves, talvez numa prévia do mundo complexo que nos espera com o avanço dos dias. É para esse lugar no espaço-tempo que Gil Duarte quer nos levar com suas cenas multi-linguagem, resgatando através de seus traços naif, suas colagens da pop art e suas bases recicladas, aqueles fins de tarde onde misturávamos pensamentos de calor e frio, apertando a garganta e marejando os olhos, sem saber se o que havia era alegria ou dor.
Juntando as lembranças da juventude pelas ruas de Fortaleza – sua cidade natal – e as experiências acumuladas pelos anos de andança musical pelo Brasil e pelo mundo (Gil é também músico profissional, fluente na flauta transversa e no trombone, entre outros sopros), sua obra foi criando corpo e ganhando contornos definidos em sua mente. O Pop-Naif- Reciclado de Gil Duarte mistura com precisão as linhas primitivas da arte naif, o significado contemporâneo e cosmopolita do pop e a preocupação ecológica com a reciclagem dos materiais. Utilizando restos de embalagens descartadas, folhas de livros velhos, lacres de cigarro, e também tintas de máquinas de datilografia marcadas nos papéis com carimbos em cortiça e clichês metálicos, Gil imprime seu imaginário onírico – às vezes pueril e inconsequente, às vezes ácido e cheio de crítica – com a simplicidade característica do naif aliada ao online full time da pop art.
Suas obras despertam o olhar da memória sobre o presente e encantam os olhos daqueles ávidos por novidade. Suas cores e formas representam o traço contemporâneo de um artista sedento e inquieto. É algo para ser visto e sentido em sua plenitude.
