2 Contos de Luís Mendes

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Luis Antonio Mendes, nascido em São Joaquim da Barra estado de São Paulo. Desde cedo entrou em contato com a pobreza e a vida dura destas populações, assim como também, com a sua religiosidade, em especial as de matrizes africanas. Entrou em contato com os movimentos de reivindicações e também os movimentos culturais na região do Itaim Paulista. Frequentou rodas de capoeiras e toca na bateria da Unidos de Santa Bárbara. Também teve um de seus textos adaptado e encenado ao ar livre na Praça de Oxum, na Bahia. Outro texto foi solicitado para uma tese de doutorado na Universidade de Coimbra em Portugal. Foi convidado para uma roda de conversa entre professores no CÉU Paraisópolis. Ultimamente trabalha como orientador sócio educativo em um centro de acolhida para homens acima dos dezoito anos em situação de rua. É autor do livro de contos/crônicas “Conversa de Encruzilhada”.


Um Conto para Oxum

Oxum estava nervosa, também pudera, estava em São Paulo. Andava aqui e ali na grande cidade e não encontrou um rio com águas limpas para se banhar. Não encontrou cachoeiras e o rio Tietê que a anos recebe recursos para sua despoluição sequer se consegue tirar um copo de água limpa. Não é só isso! Oxum a orixá do ouro, da maternidade e riqueza não se conforma com a pobreza de seu povo. Gente vivendo nas ruas e revirando lixo para comer. Mães, com seios magros, tentando alimentar filhos e filhas que nasceram fora da meritocracia propalada por aqueles que comem.

Oxum também conhecida por sua beleza, chora ao ver seus filhos e filhas negras sofrerem racismo e preconceito na escola e no trabalho. Viu a intolerância religiosa e mulheres, em sua maioria negras, sofrerem violência física ou sexual nas ruas e em suas residências, conforme pesquisa do IBGE. Chorou com a solidão da mulher negra. Também ficou tomada pela ira ao ver negros sabujos em conluio com o governo fascista! Nas periferias por onde passou a orixá companheira de Oxóssi, orixá da caça e da fartura, não dançou para alegrar seus filhos e filhas. Estamos em tempos de fascismo, intolerância, depredação de terreiros e falanges armadas. A cidade está cinza, reflexo da falta de política para a população que reflete fortemente na cultura onde não vemos mais tambores de maracatu, jongo e ijexá para Oxum fazer seus meneios com a cintura. Oxum da seu grito de guerra e se transforma em Oxum Opará, a guerreira.

Criaturas das águas doce ouvem seu grito e vêm em seu chamado. Criaturas das águas salgadas também ouvem seu grito e vem acompanhados por Iemanjá. Oxóssi vem com Ossain, Curupira e outras entidades das selvas brasileiras se apresentam. Ogum vem com seus ferros. Nossa senhora Aparecida vem sem o manto mas carrega uma lança e se posta ao lado de Oxum, são irmãs. Nas periferias os atabaques ao som do ijexá voltam a bater e o povo se anima pois o sol, nessa cidade cinza, está nascendo com a cor do ouro.

Ouro de Oxum. Ora ie ie ô ô!


Orixás Jacobinos

Os orixás jamais seriam de direita! É impensável uma Yansan ou Ogum compactuando com a Klu Klux klan em apoio ao candidato inimigo dos povos. Pelo contrário, Ogum com seus ferros espalharia o terror nessas hordas fascistas, como os comunistas fizeram na praça da Sé em 1934.

Yansan com seus raios e ventanias convocaria os espíritos e búfalos africanos que fariam tremer os porões fascistas. Não meus amigos! Por mais que alguns filhos ou filhas apoiam tais candidaturas, os orixás jamais seriam de direita, gerundinos!

Como poderia um Oxóssi ou Ossaim apoiando um governo que defende o agronegócio e o desmatamento da Amazônia? Logo eles cujas moradias são justamente as verdes matas e florestas.

Como Oxóssi, com suas flechas certeiras fariam suas caçadas?

Como daria seu grito que até o Uirapuru faria silêncio para ouvi-lo?

O que dizer de Ossaim com suas ervas secretas de cura e feitiços? Assim como Oxumaré e seus arco-íris representando a diversidade!

E a bela Oxum protetora dos rios e riachos de águas limpas, o que faria com os rios assoreados? Como a bela Oxum se banharia e banharia seus filhos se não houverem mais os rios?

Sem as cachoeiras e suas pedras como Xangô daria seu grito assombroso que mais parece trovoadas para assustar os corações dos mentirosos?

E Oxalá, pai dos homens e mulheres, o mais sábio entre todos? Como faria para preparar suas canjicas branquinhas se não haverá mais canjicas, somente soja, cana de açúcar e milho para a exportação?

Como faria a poderosa Iemanjá com os mares poluídos e a caça às baleias como pretende o candidato fascista e inimigo dos povos!

Como ela receberá seus presentes todos os anos e acolher aqueles que sucumbem ante a fúria dos sete mares?

Como faria Exu, o protetor das comunidades e mulheres grávidas, para manter suas portas abertas para receber os pedidos de seu povo nas encruzilhadas? Orixá temido e muito perseguido por ser associado erroneamente ao diabo cristão.

Não meus amigos e amigas, os orixás jamais seriam de direita, são sim jacobinos!

São ferozes combatentes africanos, combatem com justiça e ternura, igual aquele guerrilheiro das selvas cubanas.

Estarão sempre ao lado dos gays, pobres, mulheres, putas, democratas, negros e negras que lutam por um outro mundo possível.

Para aqueles filhos ou filhas que insistem apoiar candidaturas que não respeitam a diversidade, Orunmilá-Ifá jogou suas contas e deu aláfia, foi confirmado!

Terão que responder pelos seus atos nos pés de Olorum.

1 comentário em “2 Contos de Luís Mendes”

  1. Parabéns Luis Mendes, você merece, precisa divulgar seus contos e crônicas que são fenomenais. Revista ACROBATAS traga mais obras desse escritor, ele é ótimo.
    Parabéns pelas publicações de nível.

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