Lau Siqueira nasceu em Jaguarão-RS em 1957. Reside na Paraíba desde 1985. Publicou oito livros de poemas e participou de algumas antologias importantes. Entre elas, Na virada do Século – Poesia de Invenção no Brasil, organizada por Cláudio Daniel e Frederico Barbosa e Bicho de Siete Cabezas, antologia bilíngue de poesia brasileira lançada na Argentina, organizada por Martin Palacio Gamboa. Atualmente escreve resenhas para a Mallarmargens – Revista de arte eLiteratura e mantém uma coluna semanal na Revista Crônicas Cariocas. Para o próximo ano prepara um livro de poemas para as primeiras leituras, em parceria com a ilustradora Mariana Siqueira e um livro de crônicas. Seus livros podem ser encontrados na Editora Casa Verde – [email protected]
CONDIÇÃO PERENE
nas cheias
o rio comanda o espetáculo
e as margens são apenas
degraus para o leito mais fundo
nas secas
o rio é a margem
TAPERA
O tempo é uma casa
desabitada e esquecida
no meio da estrada.
Quem passou por ela
e viu apenas uma
casa, na verdade não
viu nada.
LETAL
aqueles seios bélicos
apontando seus bicos
…
pequenas torres
do desejo derretendo
em minha
boca
RESISTÊNCIA
o que me sustenta
sobre a carne e o osso
é não ter aprendido
a desistir
viver é voar
até sumir
PARADIGMA
a vida
é um eterno
ir-se embora
costura de
instantes diluídos
na eternidade
tempo
de retornos
irreparáveis
e encontros
irreconciliáveis
BIZARRO
olhar
ecoado
no espelho
os dias passam
sem que a vida
devolva nenhum
dos pedaços
ESGRIMA
metade de mim
é um beco sem saída
caminho sem volta
traçado sem tropeço
lonjuras disfarçadas
desde o começo
SERTÂNICA
metade era
soco
outra metade
sopro
e tudo era tanto
pro meu coração
tão pouco
TINTO SECO
Querido diário. Vírgula.
Novalinha. Sou um cidadão do
meu tempo. Ponto. Olho ao redor
e vejo que a esperança habita
somente os olhos de quem luta.
Ponto. Vejo lampejos de medusa.
Ponto. Vejo tudo pelo olhar que
assusta. Ponto. Vejo a louca
entre a viagem e a musa. Ponto,
ponto, ponto. Vejo a vida difusa.
Ponto. Inconclusa. Ponto.
E ponto. Ponto.
PORNOGRAFIA BRASILEIRA
madrugada
três meninos
ajeitam seus lençóis
de sacos e jornais
no mercado público
de mangabeira
chove
Lau bebeu da fonte dos poetas alternativos, do lirismo e concisão de Leminski, em tantas águas literárias nacionais e internacionais. O resultado é essa poesia minimalista, extremamente musical e que tem o que dizer. Salve Lau, o poeta universal de Jaguarão.
Que maravilha! Muitas emoções nas rimas nas palavras…
Que 2021 seja leve e muito produtivo ! Feliz Ano e que seja bom! Parabéns todos ✨
os versos de lau siqueira – e ele diz tudo com palavras precisas, não sobra nem falta um milímetro! gosto – gracias!