Jorge Barbosa Filho (Jorge do Irajá), Rio de Janeiro (1960). Formou-se em Licenciatura/Português e lecionou em diversos colégios. Publicou os livros: “Poesia ou Crime Quase Perfeito”, “Mais” (1985), “Mequetrefes” (1990), “Buquês de Alfafas” (2005), “Ópera 44” (2006) e “Transcendência Zero” a sair pela Kotter Editorial. Atualmente mora em Parnaíba, cantando blues e sambas na varanda em finais de semana. Trabalha como Captador de Eventos e realiza Oficinas de Criação e Sensibilização Poética, Oficinais para
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escombros
derrubo as paredes das palavras
para beber o ar e o sol
e tomar um porre com o tempo.
sendo a fala a ginga
o vento olhar de farol,
eu trago o sotaque
de todos os lugares
e de lugar nenhum.
eu fumo os horizontes
e bato as cinzas
na língua das nuvens.
eu chovo, eu relampejo
inundo e fulmino
precipito rumo ao abismo
e meu verso é um risco.
não começo, não acabo
desabo acima de tudo e de todos,
se no meu verbo eu não caibo
não espero, não paro,
meu poema é um grito
veloz de meus remorsos
e para o nosso assombro
encontrei seus olhos perdidos
nestes escombros.
andara d’or I
para Kátia Regina do Morro do Formiga
65 dias internado
sem cirurgia, operação ou namorada
o café-com-leite da monotonia
o nescau do tédio
esses marasmos em pó
nascem meio ao tesão-de-mijo
e o sol debaixo do lençol.
o remédio sempre pontual
as enfermeiras não ousam
como nos filmes americanos
as camareiras enrolam
o resto dos meus sonhos
e as da limpeza
varrem as migalhas
da eternidade…
preciso urgentemente
de uma cama-de-casal.
na fumaça de meu cigarro
moscas, baratas e mosquitos
enjoam-se
de suas espetaculares funções
e as manhãs tardes noites
misturam minhas preocupações
às nuvens do mundo
nas janelas de fundo do
hospital.
quebrei meu braço
em dois lugares
não sei mais se voltarei
a abraçar com toda a força
tudo o que então amara
novamente
tenho vontade de fumar
mas o gás do isqueiro acabou
não há ninguém para me ascender
e não sei se amarei mais
a dormência de minha mão
isquierda.
todos os dias
os pastores evangélicos vêm
ortopedicamente me rezar
mas prefiro instintivamente
Manuel e suas fraturas
suas erráticas bandeiras
ou a moça da limpeza
que vá me salvar.
hoje ela irá à Igreja de São Jorge
comerá feijoada
tomará um porre
roubará o cavalo do santo
e como Godiva enfeitiçada
gritará nua meu nome
à galope
de Quintino à Lapa
da Vila Mimosa ao Irajá.
Maravilha os poemas do Jorge Barbosa Filho! Ele vai no cerne da situação!
Jorge Barbosa Filho, poeta ímpar, paladino da palavra em palafrém desenfreado, esgrimista da gramática, samurai das metáforas, cortando com o aço líquido de sua língua molhada todo o cotidiano que nos parece fazer sujeitos cabisbaixos, com o altissonante ritmo de seu verso envenenado!!! Evoé, saravá, Jorge Barbosa Filho!!!