3 Poemas de Nercy Luiza Barbosa

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Nercy Luiza Barbosa reside em Rio Branco-AC. Nasceu em julho de 1960, natural de Aparecida do Taboado/MS. Formada em Letras, pós-graduada em Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa. professora de Língua Portuguesa e Literaturas pela Secretaria de Estado de Educação do Acre e de Língua Portuguesa no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Acre. Atualmente é professora capacitadora do Sistema Braille na instituição CAP/AC – Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual do Acre.
Membro Da Ordem Da Confraria Dos Poetas Brasil. Obras editadas pela Shan Editores, Porto Alegre: ãtэsdoþensamento… o mar, 2009. O Melhor da Poesia Brasileira. Poesia Contemporânea Brasileira, 2006. Alexandria – Meu Poema. Menção Honrosa em cinco poemas – Antologia Poética Brasileira, 1998. Como convidada participou com um poema no livro – Caminhando Juntos, 1999. Selecionada entre autores premiados, tem dois poemas editados em – Novos Rumos – Série Internacional, 2000. Premiada e editada pelo Concurso “São Paulo Em Prosa & Verso”, 2004, LITTERIS EDITORA LTDA.


ALIGHIERI…ando

A todo tempo procuro o pedaço inteiro do tempo de um eu feliz
Não me encontro inteira a tempo em tempo inteiro algum
Às vezes, não me toco por um triz, por instar, meu foco insólito no espelho quase vi
Com estes olhos cegos que cegam uma cegueira de dilatada visão incomum
Ou com a imemorial palavra-pensamento que perpetua o primogênito sorriso
Numa de minhas verdades incontestáveis nas faces existentes da face um
Nas outras? Ah, são fugazes!
O mesmo esboço, nelas, desenhado foi a giz – não os li!

Agora quero os meus eus em mim
Verdadeiros, eternos donos do mesmo nariz
Dante que me perdoe!
A Divina Comédia é mais horrenda do que a literatura prediz
É diabólica sim! Por dentro tantas vezes viva a senti
No sensível ela é arroubo sem fim
Devasta – dissonante agride – fere a real atriz
Força a primeira de mim, que reluta, mas ainda ri
A estereotipar ao mundo um saltitante arlequim
Foi sempre assim…
Ao mérito arlequíneo, a miserável premiação, não condiz
Pago o preço! Dispo a máscara…
Sem resquícios de demência
Vislumbro a essência de um quase querubim
A comédia ao humano é verossímil: há demônio, anjo, fogo, garfo e clarim
Desintegra o unificado em mim. Você que me lê! Será esta parte insana a matriz?
Tantas vivem aqui. Sem disfarce, a mãe-do-corpo, é o eu apresentando-me a ti
Somos autênticas! Uma se cala, a outra, no palco do grande circo nada diz
A reminiscência das que restam, divagam em pensamentos carmesins
Pode tocar essa veracidade em mim? Sou partes inteiras, sutis…
No instante de um eu feliz – o tempo monocromático – em parte é matiz!

Dentro, todos somos órfãos e impuros. Vivemos solitários e morremos sozinhos
Acendam os refletores! Tragam à tona a faceta dos disfarces chamariz
Perversidade e benevolência – nas mãos da história – são senis
Que seja a culpa desmascarada no ponderado camuflar vizinhos
Nos eus de mim, de vocês e na falsa inocência imaculada do juiz


LIMITE

a pior parte da morte é estar viva
ter que a todo tempo representar um papel
no tosco palco da vida:
seja feliz
seja eficiente
seja dócil
seja exemplar
seja amorosa
esteja no perfil
não fique doente
não sinta
não chore
não externe tua tempestade interior
tenha bom humor
sorria… você está sendo filmado

merda, deixe que eu seja eu!!!


ATRIZ PRINCIPAL

Meu palco é a folha
A escrita – misterioso cenário
Às vezes sou escárnio
Em poema sem salário
Outras, sou piada em cena trágica
Aquela – onde se fica estática
Numa impotência clássica
Quando diante da página
Fogem as palavras cálidas
Mas nada disso importa de fato
A seguir vem o próximo ato
Da vida denotando o teatro

Não sou atriz – Sou palco!
Da comédia humana sou o laudo
Desses atores audaciosos
Sou retrospectiva silenciosa
Pois o tablado vazio me diz:
– Na peça real a verdade é de verniz
Então abandono o personagem
Sem pudor visto-me de miragem
Agiganto-me frente à rotina
Abro a janela – subo a cortina
Saio e volto como eterna aprendiz
Para a arena de papel onde sou feliz

1 comentário em “3 Poemas de Nercy Luiza Barbosa”

  1. Nercy Luiza, tuas impurezas, no palco da folha, assombram minha orfandade. Atriz principal desta comédia em três atos, o limite é só um hiato, porque tua comédia é tão humana que chega a ser divina. Agora, entre Dante e Milton, és tu – mais principal do que isso, impossível. Muito grato por ser, nesta manhã , o sol do meu quintal.

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