Lara Matos (PI) é autora da página Caixa de Abelhas, das zines Zênite e Apiário, além de colaboradora fixa da Revista Pólen, do site The Valkirias e esporádica de outras publicações, como o podcast Malamanhadas e a zine Desembucha, Mulher!
Emenda
É preciso versificar
De modo não óbvio os horrores
Para que eles pareçam alheios e bonitos
Ou ao menos ritmados e palatáveis
Para que sejam ignorados no momento certo
Em leituras equivocadas
Sutilezas não se pagam com temeridades
As palavras guardam muito mais do que se espera delas
Muito mais tempo muito mais afeto peso dor escárnio:
basta aprender a esperar por elas
Pudor
Mas que coisa obscena uma mulher que deseja, dizem eles
Arengam: como é possível os corpos com tanto fôlego, respirando fogo
em combustão espontânea
Indagam: haverá algo mais perigoso que uma mulher ardente por si mesma?
Ultrajados por todos crepitares das brasas em nossas superfície, ruídos tão vulgares, eles falam
Do que dizem eles que todas somos grotescas, odiosas, devassas
Eu digo: satisfeitas
Papel é barato
Voz não custa nada
Nossas palmas são instrumentos
O corpo se torce em performance
Rimamos
Fazemos arte
De qualquer jeito
Ignorando cânones
Contando histórias trançadas em nossos cabelos
Beleza nascida de dias difíceis
Vicejando em meio ao mormaço