Lia Testa (PR/TO), Doutora em Comunicação e Semiótica (PUC SP), é professora de Literatura Portuguesa, Brasileira e História da Arte, na Universidade Federal do Tocantins (UFT). É autora do livro de poemas Guizos da carne: pelos decibéis do corpo (Publicações Iara, 2014).
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eu canto a eletricidade do corpo
W. Whitman
concerto para flauta vértebra e corpo violão
a to do tocar na pele da pele
inventivos ícones festivos
gestos de um violão movente
roça os ritmos tão bons dos membros
batuca nas curvas do buraco-coração
música em banquete para carne
o balanço compõe barcos agitados
a memória corporal não cala fala
canta o corpo inquieto
elétrico corpo a corpo
o desejo convertido em línguas
verte festas e vozes
tons timbres tambores
registros ruídos silêncios
palavras vivas
o gozo o dito o cantado
na boca vasos comunicantes
articulações de blues and loves
partituras de ah! oh! hum… aissss
esculturas sonoras vocalises eróticos
o dedo que anda pela pele
lê o compasso da nudez
braile no tecido intraduzível
sem ponto final
sem porto no peito
segue le chant d’ amour
a ladainha em transa
Maya
é bicho e gente na sua dança
batuqueira bandalheira roda gira move
é gente e bicho na sua dança
tem cheiro de salmoura
é gente gente na sua vadiagem
mata come cava colhe
miríades de beleza maquiada
é bicho que come bicho
tamborilando no couro na carne
encarnada bate bate bota fora a fala
de ba.lan.gan.dãs
fitas folhas figas uma flor lilás na cabeça
santos nas pulseiras a tilintar
berenguendéns berenguendéns berenguendéns
para olhos negros e negros de cor
para bardos lascivos ver balançar
corpo que rodopia para e rodopia
com véus porque é gente e bicho e dança