Gabriela Sobral é escritora, jornalista e gestora de projetos. Formou-se em jornalismo e concluiu o mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural pelo IPHAN. Imergiu na literatura com a mediação do clube literário Leia Mulheres, na cidade de Belém, e o projeto “Imaginárias – Um encontro entre narrativas imagéticas e literárias – com referência no trabalho de escritoras”, na Ilha do Marajó, contemplado pelo Prêmio de Experimentação, Pesquisa e Difusão Artística da Fundação Cultural do Pará – ambos em 2016. Lançou, em 2017, seu primeiro livro de poesias, Caranguejo, pela Editora Patuá (2017). Já morou nas cidades de Belém, Soure, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital carioca, produziu a Bancada, feira publicações independentes e artes gráficas (2019). No momento, atua em projetos de cultura e comunicação no Rio.
Manifesto pela Obviedade
Buscamos comunicação integral
doc., text., não completam uma palavra
Já estruturamos o direito ao onírico
ao grito
a um nariz que nos coubesse
e a pretensão de uma humanização em artigos
Revisamos nossas formas
Como se renascer fosse possibilidade
Não é.
Manifestos redigidos por afetação
quem dera fosse paixão
Qualquer obviedade, agora, é sobrevivência
Clamamos, a partir de então:
o Manifesto pela Obviedade.
Daqui deste buraco
com algumas plantas, algumas madeiras
repetir os materiais reconhecíveis
O primeiro ato é a toca consciente de nossas mãos
os acertos infantis para o consenso
Precisamos formatar sem exigências
Construir como manuais navais
Todo cuidado com a primeira matéria:
Não repetir o que somos – os restos.
Praça dos Estivadores
Eu preciso catalogar as palavras que digam
com autorização semântica:
gosto de água, em temperatura fria, caindo na testa
na praça dos estivadores.
Que palavra é essa que vai abrir uma rachadura
e fazer aparente todos os filhos da terra.
Se eu acho essa palavra
pego ela na unha.
Pau Amarelo
Numa decisão química
fiz nosso apagamento
Eu não preciso mais completar tuas frases
resolver histórias soltas e repetidas,
ordenando-as,
para que no final do dia
tenhas um esquema gigante
de como ensinar ao mundo
a gravidade das empatias.
Não é mais permitido que rogues
por teus objetos
como se eu fosse uma santa a quem se recorre
Serás, agora, tu
a filha perdida
Só enxergarás uma cadeira sem frente
e quando tiveres sorte
será possível,
estando um pouco de lado
olhar uma senhora de pau e pedra,
assentindo
que ainda és
reconhecível.
lindos
Que beleza Praça dos Estivadores! Uau