3 Poemas de João Henrique Balbinot + Colagens de Marcela Lauber

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João Henrique Balbinot, 1989, é paranaense de interior. Além de escritor, é também psicólogo. Como autor, publicou os livros de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012) e “Permeabilidades do Intransponível” (Ed. Patuá, 2016), e também os livros de poesias “Pequenezas e outras infinitudes” (Ed. Multifoco, 2014) e “O medo de tocar o medo” (Ed. Patuá, 2018). Instagram: @poesia_fugidia

Marcela Lauber é uma artista paranaense que busca expressar a vida em suas aquarelas e colagens digitais surrealistas. Além de artista, é também designer gráfico, e realiza exposições, projetos e parcerias com artistas regionais, como o João H. Balbinot. Instagram: @marcelalauberart


Eros, erros e roedores
Para Eduardo Lacerda

deixe um equívoco
como uma réstia de erro
por misericórdia
não há humanidade na perfeição
nem alguém que nunca errou
o poeta deve amar seus enganos
pela nossa miséria

ninguém faz líricas como dita um mecânico marcapasso
a vida pulsa e pulsa e vaza
a palavra vivendo entre arritmias e saltos neuronais
nos sulcos das caramiolas
o rigor técnico põe todo o acaso em risco
escapar errante é o que resta
na poética convulsionante da teimosia

Eros, erros e roedores


Ferragens maciças, afônico rangido

Não há nada que me arremesse daqui
Sem quedar em tal malogrado logradouro
Bailarinando em edifícios condenados
Conglomerado desértico de brita

Desassossegada condição
Ser ente perante duras cinzenturas
Meu Deus e meus pais acharam que em ninho de concreto a vida também canta
Ou ao menos se pede urgente

Mas tudo se acimenta em confortável dureza
Os metais se contorcem, única sinfonia que vislumbro
E logo me atravessam as vísceras em inorgânica indiferença
Não bastasse o atrofiar de minhas asas
Ainda me querem em armadilhas

Ferragens maciças, afônico rangido

Pandêmica êmese noturna que nos sequestra a paz, o indigesto desses dias
(Decaídas que se debatem no desmoronar de nossas saídas de emergência)

Em cada uma dessas noites algo brada pela janela
Algo que não se entende de todo, entre escapes e apreendidas apreensões
Algo entrecoberto pelo passar do coletivo que não para, um desespero sussurado
Porque a cidade não para de mandar nossos pobres (os mais afortunados entre) para a morte
Entrecortados de loucuras, ou carências
Interrompidos interromperes rompantes, agraciados pelos direitos básicos ainda mantidos (mas nem tanto)

Desesperos se inauguram no calar de cada noite
Ao calar de cada corpo que cessa e logo perde seu calor
Em incessante luta, ciclos de 24 horas
A forma de contagem, o tempo em que se atualizam as notícias, os meneios estatísticos
Que rodopiam na mente daqueles que precisam e carecem de dormir
Porque amanhã precisam se deslocar
Transloucada necessidade de colocar uma parcela de nós em vulnerabilidade
Frente ao fronte, dando a cara à tapa

E quantos são os tapas
De tantas direções por diversas intensidades e formas
Que não deixa de ser toque
Que não deixamos de entender como cuidado
Ou atenção segredada em abusiva busca, segregados em sacrificados postos
Espalmando quem deve transpor o toque de recolher
Imprimindo a linha da vida, do dinheiro e do amor
Nos vincos do rosto ressequido de quem precisa ir

Quando somos, por onde viemos
Em obrigações que nos exigem
Negamos ao longo do dia perturbações que nos martelam
Preocupações das quais apenas nos pós-ocupamos, nocauteiam nossos sentidos
E o senso meio zonzo de ir daqui ali
Intercalado pelas sísmicas surras que dizem “não pense”

Mas o sono
O sono entrega e denuncia
Nos revira
Enquanto ao longo da noite a sacada e a sala silenciam
O peito dói
Ou seria o pulmão?

O corpo porta tantas dores
Comporta, comportado
Uma pertinha da outra
Não se distingue
Em uma nítida confusão
Acaso fora tosse ou apneia?
Não sabemos

Mas eles
Eles quando nos dizem “parabéns”
Eles sabem
E dormem, distantes, e ininterruptos
Sabendo que cada ventilador possui um nome
O nome de um deles, um nome que não nosso

Pandêmica êmese noturna

2 comentários em “3 Poemas de João Henrique Balbinot + Colagens de Marcela Lauber”

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