Lucas Perito (São Paulo, 1985). Poeta. Escreveu livros ligados a história e fotografia, fazendo os textos de acompanhamento para o livro fotográfico “Caminhos da Mantiqueira” (2011) de Galileu Garcia Junior. Publicou seu primeiro livro de poemas, 38 Movimentos, pela Lumme Editor (2018). Tem poemas publicados em algumas das principais revistas brasileiras, além de algumas revistas de Portugal, Espanha, Galícia, Colômbia, Peru e México.
Extinção de Narciso
Na profundidade do dia
ecoa o olhar de alguns lagartos ao sol.
Derrubados para um fim comum
caminham sob essa tênue linha
que engolfa a memória das manhãs.
A pele de ontem não mais serve
plasmada toda visão
sobre as ondas do século –
o dia dorme –
No espelho das águas
o processo da pedra termina no rosto.
O que Virá
Nas veias
é preciso inverter o caminho percorrido
e deixar ao desejo uma nova solidão.
Cegar os relógios
para oxidar-me em um beijo.
O tempo gasta sua parca matéria no cansaço dos rostos.
O que virá?
O registro de uma voz
a navegar um nome sem história
povoando o que nos escapa.
Houve um dia que nós vimos o futuro que não mais habitaremos.
Entre os Trópicos
Todo homem que conheces é estranho
Sobre o Atlântico nos liberaram dos sonhos
e morremos como pobres apostadores
A porta se abriu para que entrássemos
mas era óbvio que o único volume que tínhamos nos bolsos
eram nossas mãos vazias
De um último centavo joguei aos cavalos que relincharam diante do nosso medo
em uma viagem infinita até uma talvez cidade
Tínhamos como único desejo o fim de algo que nem sabíamos que havia começado
Pisei numa clareira
não havia mais sombra para minhas feridas
Agora tenho a carne coberta com trapos
enquanto a chuva cai sobre uns poucos escolhidos
Os que sonham cavalos
galopam estrelas
