3 Poemas de Mailson Furtado

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Mailson Furtado (CE) é autor, dentre outras obras, de à cidade [vencedora do 60º Prêmio Jabuti 2018 – categoria Poe-sia e livro do Ano] e Passeio pelas ruas de mim [e de outros]. Em Varjota|CE, cidade onde sempre viveu, fundou a CIA teatral Criando Arte, em atividades desde 2006, onde realiza atividades de ator, diretor e dramaturgo, além de produtor cultural da Casa de Arte CriAr. Graduado em Odontologia pela Universi-dade Federal do Ceará, possui obras publicadas em jornais, revistas e antologias no Brasil e Portugal e mais de 10 textos encenados no teatro.
@mailsonfurtado/[email protected]


Nuvem

a nuvem
não tem nome
é e é
e pronto
não mais

não vence
se enlata
ou adula vigilância sanitária

é
antes de ser
foi
antes de nunca
ser

: elefante
guarda-chuva
uma guerra dos mundos
(sob o mar de copacabana)

se destila nela mesma
e nunca batizou
vermes
larvas
nem mesmo a ferida de ícaro
que morreu nele mesmo
como nuvem
que sempre foi a mesma
e nunca também
e nunca mais
será

não num avião
que as rebaixam
a terra
a terra de ninguém
a meros pedaços
cortados
guardados
numa janela
numa foto de www
como terras são guardadas
em gavetas de cartório
e cabem todas
as nuvens também
que não tem nome
três-por-quatro
e
já não são


ao torto arado
que Itamar Vieira Jr. nos mostrou

fosse só o açúcar
o ouro
o cacau
o café
a borracha até
mas não

fosse só as bugigangas
o deus chato que não sabe dançar
a feiura estranha
mas não

fosse tudo
e a gente soubesse
fosse tudo

a gente não quis.

fosse tudo
o antes seria maior
e não só mais bonito
o sol pra sempre cochilava no mar
e a gente seria da gente
mais gente de gente da gente
uma pena que não

fosse tudo
mas foi nada
: a benção por vidas inertes
dada a chicote
a saber nada pralém de gritar e gritar e gritar
e nem viver
e nem saber viver

a gente não quis.
a gente não quer.

mas a gente vive
já que eles só sabem morrer


o sol sempre caminho
a gente sempre a futricar o depois

mergulha no horizonte
quando não
em nuvens

tchbummm
tchbummm

o amanhã cabe tanto
tanto e tanto
e


Parábola da Gota

pinga um gota
outra gota
e lá vem outra

depois de quarenta
cento e dez
duzentas e quarenta e três gotas
: um litro
vários litros
uma poça
um rio
um Nilo
um mar de gotas
únicas

única

gota

1 comentário em “3 Poemas de Mailson Furtado”

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