3 Poemas de Ronald Augusto

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Ronald Augusto é poeta, letrista e ensaísta. Formado em Filosofia pela UFRGS. Autor de, entre outros, Confissões Aplicadas (2004), Cair de Costas (2012), Decupagens Assim (2012), Empresto do Visitante (2013), Nem raro nem claro (2015) e À Ipásia que o espera (2016). Seu livro Entre uma praia e outra (2018) recebeu o prêmio Minuano de Literatura/2019 (Instituto Estadual do Livro/RS) como melhor conjunto de poemas. Dá expediente no blogwww.poesia-pau.blogspot.com  e escreve quinzenalmente no http://www.sul21.com.br/jornal/

 

 

Percurso Noturno

nas bordas da cidade que rebrilha
espreita a escuridão do intenso verde
da mata além fechada sobre ci-
nema cego cioso de voltar-se
para dentro sem posto nem vanguarda
e em desolado esforço se enracina
mais do que a solidão o permitira

o encerro que nem boca me responde
em antecipação exasperada
à viva hilaridade do desprezo
e excede a um modo imorredouro
o estranho desarrojo que lhe tinha

[novembro, 2012]

 

Orumuro

diz o murograma
poeta

mas essa escarificação
essa pichatura

(literatura da pichação
porquanto se cunhou oratura
para literatura oral)

essa pichatura sobre o orumuro
permite também que se troveja e mire
em sua caligrafia malassignada
um M metonimizado em solita sagita –> 
ou uma  T
a meio caminho
de se arrematar / desatar
em M anamorfizado e de
pernas fechadas

assim
pode o murograma áspero no corte
(craca nesse tipo de sistema de
segurança e defesa que sobrou para o
emurado
cidadão pé-de-chinelo à
cata e comensal de vidro em postas
para barganhar com a vida)
encimado de duros cacos
não
obstante sua rijeza monolítica lito-
gráfica pode
dizer       elegendo o impreciso
a escrita defectiva de conturbado urbano
palimpsesto (folhas de rosto
discursos sobrepostos)
o seguinte

poema /
poeta

um pouco tres-
loucadamente também
gosto de ouver no quase-signo do
caligrama indecidível
o murograma murmurando para o design
para a economia dos
seus sentidos
uma sorte de key lexical emprestada de hermes
uma anagramatização in absentia
de algo que imagino assim (me servindo de uma
paronomásia contida no vá de valha)

mensagem /
mensonge

mas ainda
ad-
mire e veja na sequência de
fotogramas do cinemuro (raptografados
criptografados pelo olho táctil desse
antissonantepoeta ali de
passagem em rota pela aldeota)
anima-
dos significantes com vida própria
por contras-
te com a língua amortecida
da escrita cursiva dos
tipos i-
móveis fontes
infantes
desde
mil
e
quinhentos

[resposta ao poema “ogumleituras”, de cândido rolim, 27/28 de fevereiro de 2007]

 

Documento

san juan de la
cruz por conta do sono
nisso sua alma (alta ou
baixa? maria benedita)
risonha entre vivências a
serviço do amor sem souto à vista

enquanto segue do joio à sevícia da alegria ou
alegre porque joeirar é vetor de viço
de joelhos num fisgar de olhos
frente ao senhor
seu peixe (carlos maria?) carillo il
tuo gran cazzo all’anima
mi va

 

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