4 Poemas de Denise Emmer & Álvaro Alves de Faria

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Poeta e musicista, Denise Emmer conquistou os prêmios ABL de Poesia (2009); José Marti UNESCO, pelo conjunto da obra; APCA de poesia; Olavo Bilac (ABL); PEN Club do Brasil de poesia e de romance; entre outros. Publicou vinte e um livros, dos quais dezessete são de poesia, três romances e um de contos. Participou de relevantes antologias da poesia brasileira, tais como 41 poetas do Rio (Minc), Antologia da Nova Poesia Brasileira (Ed. Hipocampo), Poesia Sempre (Fundação Biblioteca Nacional), Ponte poética Rio–São Paulo (Ed. 7letras), bem como das Revistas Califórnia College of the at Eleven Eleven (EUA), Newspaper Surreal Poets, (EUA) e Revista da Poesia, Metin Cengiz (Turquia), Revista Crear in Salamanca (Espanha), traduzida pelo Alfredo Pérez Alencart.

Jornalista, poeta, autor de teatro e escritor, Álvaro Alves de Faria conquistou os prêmios Poesia e Liberdade Alceu Amoroso Lima (RJ, 2018), pelo conjunto da obra; Prêmio Poesia Guilherme de Almeida (2019, SP), pelo conjunto da obra, Prêmio Jabuti (1976 e 1983) como crítico literário e por sua atuação em favor do livro no jornalismo cultural e ainda, pelo mesmo motivo, três vezes o APCA ESPECIAL (1981, 1988 e 1989). Tem mais de 60 livros publicados no Brasil, incluindo romances e ensaios literários, além de 22 livros publicados em Portugal, oito na Espanha e um na Itália. Foi o iniciador, nos anos de 1960, do movimento de recitais públicos de poesia em São Paulo. Realizou nove recitais no local e foi detido cinco vezes pelo Dops, acusado de subversão.


1

Uma dor assim profunda,
dessas que doem
no fundo da noite,
como nos poetas românticos
do século 18
que deixavam a vida
em qualquer lugar.

Assim tão plena dor,
dessas que ardem
e cortam como as águas
que lavam os pés
à margem de um rio.

Tão longa dor,
dessas que doem distantes,
assim ausentes
na ampla sala de estar,
lendo os poemas
que não foram escritos
porque faltaram as palavras
que se negaram a existir.

Álvaro Alves de Faria


2

Tua dor é minha noite escura
então me cubro de ausências
para dormir um tempo sem relógios.

Peço-te.
Desperta-me,
tão logo a escuridão se esvaia
como soldados vencidos,
arruinados.

Encontros partidos
que jamais se cumprem
em qualquer tempo,
imprevistos rumos
do provável
desalento.

Denise Emmer


3

Faço de mim
o que me resta
e de mim
não resta nada

senão aquela lágrima branca
que eu não tinha
mas sentia sempre
ao anoitecer

anoitecia em mim
uma noite como uma pedra
aquela que guardava
nos bolsos do casaco
que usava sempre que chovia

e choveu tanto
que me perdi nas poças
de uma calçada
que não existia
em meus sapatos sem rumo
a andar distâncias
que não sei

agora procuro despertar
mas meu quarto se estreitou
e meu corpo desapareceu
sem que eu percebesse

sei apenas dos finais
tantas noites
nos meus ais.

Álvaro Alves de Faria


4
Se chegasses
com teus olhos de meia-noite
haveríamos de bater em revoada
mesmo que de ti
não reste nada
se não a lágrima branca
– minha alvorada

também de mim
não sei mais nada
a não ser
de um tempo pretérito
de cidades despertas
– hoje chagas

sim,
as noites são pedras
e eu carrego um assombro
no sapato,

meu rastro é nada
que segue
sem que eu saiba.

Denise Emmer

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