Luís Inácio Oliveira nasceu em São Luís do Maranhão, em dezembro de 1968. É professor do curso de filosofia da Universidade Federal do Maranhão. Publicou em 2012 o livro de poemas Forasteiro rastro e em 2008 o ensaio Do canto e do silêncio das sereias – um ensaio à luz da teoria da narração de Walter Benjamin, nascido de uma pesquisa de mestrado.
ARREBOL
o que não mata a sede do aguardente
o que afoga dentro da voz da cantora
o violão de 7 cordas
o que naufraga a tempo de virar gesto
e degringola cacos
de vidro assim chamados madrigais
noturnos
o que te espera na próxima esquina
e nem te lembras com alarde
o que se deve à cicatriz de uma palavra
e é alado e ilegível
FILIGRANA
na página
o luto
do alecrim
passeia
como fora
a luta do afogado
a haste
da lua
o jasmim
na veia
quando aflora
alheia a noite
o silêncio onde
a puta
cheia de dedos
tateia
RESTO DE MANIFESTO
palavras mais secas
sem esses enfeites
a não ser os assim
esfarelados
esfarinhados ao gosto do despejo
limpar o terreno
uns poucos cacos
3 rolos de arame farpado só nessa tarde
já provaste a Praça Deodoro
armada assim entre os teus dentes?
encouraçada: croas do sábado?
escancarar a porta dos fundos
abrir espaço beber abril
nenhum oboé
nenhuma verbena
um escangalho alguns latidos
e uma máquina de esburacar
à noite
BOTECO
de onde espias a curva que um corpo faz
antes do mais irrisório rio
e bebes chispas uivos baratos comes dilúvios
muvucas ovelhas negras comes com os olhos
sem pressa e mesmo dardejas sessões de cinema
esquecidas já no fundo, farelos do sanduíche
relâmpagos mesquinhos que sem jeito
ainda ateias
assim ateu no rosto de quem passa
como se nem selva súbita fosse