5 Poemas de Castílio Nhansue

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Castílio Manuel Maurício Nhansue, nascido e domiciliado em Maputo (Moçambique), é graduado em Ensino de Português pela Universidade Eduardo Mondlane, professor e poeta (emergente). Tem alguns poemas publicados em Mallarmargens (brasileira), Toró Editorial (brasileira), Mbenga (moçambicana) e Tlön (portuguesa). Poetas como José Craveirinha e Fernando Pessoa foram determinantes em sua escrita.



***

Parece-me que as roupas só ficam
eternamente lindas aos manequins
das montras da vida

As cores, os detalhes, as marcas e os preços,
que simbolizam poder e luxúria
são reféns da efemeridade,
assim como a vaidade
de que os dias se vestem

Em mim quando novas,
ainda que estanhas, se ajustam,
mas passado meses já não me sinto
janota com as mesmas

Porém a indumentária que visto
desde que me conheço por gente,
esta sim, é indelével e transcendental


***

Estamos profundamente enamorados,
mas há uma parede entre nós,
que bifurca o meu corpo do teu louco…
Uma parede invisível a olho nu

Já não há cópula
não conheço os teus lábios
não conheço o teu corpo

Prevalece a inoportuna parede…

Mesmo assim,
nos amamos telepaticamente
como se estivéssemos distantes

E no clímax,
os teus gemidos rasgam o silêncio
e o pulsar do meu coração no teu,
entre a parede tão minúscula,
porém intransponível,
que nos separa do sabor da vida


***

O teu coração está árido
à minha semente,
por isso não brota

Mas vou construir uma cabana
aconchegante para me asilar
bem no centro da estiagem
até que chova paixão

A longanimidade me acompanhará
no pulsar dessas diuturnas noites frias
até que o teu coração atinja a fertilidade
e ceda ao meu frutífero amor


***

A insipidez consome o prazer da vida
na ampulheta,
enquanto o sal do isolamento
tempera a ensimesmação

Roo as unhas de tédio,
convivo com a reminiscência,
escabicho sons e imagens deleitáveis
e reconstruo expectativas
num horizonte obscuro,
olhando para o futuro
que insiste em ser incerto…


Perdi a santa ceia!

Esperei ansiosamente por esta hora,
e as canções de louvor acompanhavam as orações
que consagravam os elementos da ceia

ouvia as instruções,
enquanto procurava pelo meu corpo para tomar da ceia

Precisava da ceia,
mas havia comido do corpo
antes da sua consagração

procurei desesperadamente por algum pedaço,
mas só me vinha às mãos o pó dos seus fragmentos

Como tomar do sangue sem o corpo?

Ah!
Perdi a ceia no embalo do sono
numa calçada soturna da Santa Isabel

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