Francisco Gomes é poeta e músico. Iniciou as faculdades de História e Letras, abandonando ambas. Publicou os livros: Um outro universo ou tonal (2021),O despertar selvagem do azul cavalo domesticado (2018), Face a face ao combate de dentro (2016), Aos ossos do ofício o ócio (2014) e Poemas cuaze sobre poezias (2011) — 1º lugar no Concurso Literário Novos Autores/2008, categoria Poesia, realizado pela Prefeitura de Teresina. É autor do CD “Diafragma — poemas em áudio” (formato físico, 2018; formato digital, 2020). Tem poemas publicados em revistas, antologias, jornais, muros etc. Dedica-se cotidiana e arduamente à poesia, num trabalho de pesquisa, leitura, contemplação e escrita.
Foto do poeta por Walter Lima.
poema II
(seção: Noites que se acendem)
Nenhuma súplica transcende
o perfume dos jasmins pairando sobre aqueles
que acreditam
no viver-não-é-o-suficiente.
viver é além do sim não às vezes
assim como as mãos são lógicas
quando mergulham no intocável do escuro
tateando
um resquício
daquilo que se foi aceso
e ainda brota
nos gestos do esquecimento
apagando
os corpos.
poema III
(seção: Madrugadas incandescentes)
Impossível quebrar o silêncio
quando o silêncio
está repleto de
delírios e dilúvios
diante do Impossível
do passar-a-noite-em-claro
da insônia
capaz de adolescer as utopias.
Insustentável
É insustentável
acompanhar o ritmo das marés
e perseguir o silêncio
em noites de prévias aventuras.
Seguir quilômetros e quilômetros
de areia
— púrpura ventania
soprando o pó dos desencantos
nas doidas e doídas têmporas
do teu passado…
… tão presente
, de desventuras…
É insustentável
colher a lua
após o pôr do sol de domingo
quando os olhos já não lambem o céu
& as cicatrizes tornam-se feridas.
É insustentável…
Insustentável dar o próximo passo
diante de anjos de sal
que são diluídos
entregues à fluidez límpida
na sede
que cede
ao delirante
desejo líquido…
As flores brotam sob a íris do anoitecer
As flores brotam sob a íris do anoitecer…
Meu silêncio responde aos gestos e apelos
de ambos os corpos
colados flor de lótus — Uno-ser.
As flores brotam sob a íris do anoitecer…
Ser…
Seres…
Colibri & hibisco no chuvisco etéreo
que inunda poros
fecunda o mistério
num infinito ouroboros…
Não quero falar do que convém aos pássaros
Não quero falar do que convém aos pássaros.
Quero falar da incerteza
pródiga
, herdeira dos ácidosdias.
Pretendo explorar o perímetro
que te limita ao mundo
dinamitado.
Meu limite é abrir valas
nas fronteiras.
Só o organismo debilitado
pela ebriedade das idasvindas
sabe
: sentir é um ato
que quebra a continuidade
da certeza posta
diariamente nas mesas.