Mônica Ribeiro, ou Mô Ribeiro, é mineira de Belo Horizonte. Arquiteta de formação, descobriu-se poeta por insistência do inconsciente. Participou da antologia É Urgente o Amor, Edições Vieira da Silva, Portugal, e também da Antologia Ruínas, da Editora Patuá. Foi publicada pelas revistas Caliban, Desvario, Germina, Literatura & Fechadura, Mallarmargens, Mirada, Revista de Ouro e Revista Ser MulherArte, entre outras. Nasceu em 1971 e deu trabalho para vir à tona: o parto foi de fórceps. A escrita, ao contrário, vem nas contrações que dão à luz seus poemas. Partos rápidos, mas não sem dor, e depois o cuidado com a cria. Assim é sua escrita.
ÂNIMA
As coisas têm vida
se vida damos a elas
[quem me ensinou foi Patti Smith]
Mas eu já sabia
Só não tinha coragem
ainda
de falar com as coisas
E tinha menos coragem
ainda mais
ou ainda menos
de ouvir as respostas das coisas
Mas não
Coragem de ouvi-las
não tenho
ainda
Para tanto
é preciso saber
ouvir o dentro
As coisas não se ouvem de fora
JÁ QUE NÃO SEI FOTOGRAFAR
Uma nuvem gigante traça um plano cinza-escuro no céu
Acima, o breu e a lua:
esta adornada por seu halo também cor de chumbo
Eu partida ao meio
Algumas estrelas
– talvez mortas, para ela vivas –
fazem a escolta da lua
falsa imóvel
A terra gira
mas tudo parece parado
Apenas meus cabelos e as plantas e minha saia provam
que o ar hoje quis correr
sob o pseudônimo vento
PAGANÍSSIMA TRINDADE
Falo a partir do umbigo mas
quando peço: “fale, umbigo!”
ele se fecha
teimoso
falso profundo
sequer um centímetro de breu
Teme mostrar-se
o ele-eu
Quando o guardo sob tecidos
ele resolve escapar
e diz: “agora eu falo!”
No fundo de seu fundo
não quer calar sua-minha voz
Pensamento-voz-sem-timbre
Dedos escrevendo
Palavra grafada
Eis
nesta simultaneidade
minha Paganíssima Trindade
MAXILAR
Meus dentes
são entes
de osso
Os de cima
nos de baixo
em desalinho
Maxilar desrepousado:
sempre!
Quando durmo:
pesadelo!
Range a cabeça
Acordo:
duros os ombros
bambos os dentes
Maxilar meu:
por favor
se assente
PÓ DE ESTRELA
Na mobilidade o tempo
caminha a passos largos
como os da velocidade da luz
aquela moça que
não satisfeita com a finitude
de suas pernas
corre montada em pernas de pau
feitas de luz de estrelas
Simplismente maravilhosos! ❤🙏