5 Poemas de Verônica Ramalho

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Verônica Ramalho tem dois olhos míopes e uma língua lépida nascidos em Santos, litoral de São Paulo, em uma segunda-feira de tempestade em 1987. Formada em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos, dirigiu curtas-metragens e trabalhou por dez anos como cenógrafa para televisão, teatro e cinema. Atualmente é tradutora e escritora. “Três línguas” é seu segundo livro, contemplado pelo edital de fomento ProAC.


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Coço a orelha com a língua.
Toda a massa meio mole, aflição intensa.


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Deriva a língua na ponta de cima, a ponta se empina, sinal insonoro.
O tempo empilha cada corte de unha, cada resto de resto, cada naco de pele, cada parte de sobra, um grão.
Toda a terra o que sou. O caminho se espalha, camadas de cacas, sou todo chão. Provo o relevo novo, subo morros mirantes escalo. Todo o relevo feito do que caiu de mim. O nada se preenche de aparas.


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Trapos amontoado peles restos podres, acampamento desfeito cheiro humano. Rastros frações amortizadas. Tecido papelão roídos, gordura, gosto conhecido. Saibo queima carvão gravado.
Calha escorre água preta, linfa urbana escorre encontra grelha, deslizo, sumidouro, ultrapasso. Língua queima, molhado aço. Evapora arrasto.


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Línguas erguidas arfam, tremem secas a agonia da espera. Brancas, amarelas, castanhas, o jardim palpita ocre.
Há cortes bolhas bolotas, algumas camuflam herpes. Aftas se reproduzem, escorre pus pelo gramado.
Erguidas, as línguas arfam. Exibem sua decomposição.


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Lambidas pardas cortam a névoa, recendem cáseos. A flora muscular fede. Saburra é escudo e espelho pro cheiro forte, miasma intenso atordoa.
Lambidas desordenadas se esbarram, alvoroço, indisposição e calor.
Corpos em leque, as plantas abanam. Aragem distribui e dispersa o azedo, sopro manso. Assobio simula coro, aravia.

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