6 Poemas de Chris Herrmann

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Chris Herrmann é escritora/poeta, musicista, editora, tradutora, webdesigner carioca, radicada na Alemanha desde 1996. No Brasil, estudou Literatura, Música e Webdesign. É pós-graduada em Musikgeragogik na Alemanha. Organizou e participou de diversas antologias de poesia no Brasil e no exterior. É autora dos livros de poesia Voos de Borboleta (Tubap / Clube de Autores, 2015), Na Rota do Hai y Kai (Tubap, 2015), Gota a Gota (Scenarium, 2016), Cara de Lua (Sangre Editorial / Mulheres Emergentes, 2019), dos romances Borboleta — a menina que lia poesia, (Patuá, 2018) e Peccatum (Arribaçã, 2020), e de minicontos Entre Amoras e Amores (Ser MulherArte Editorial, 2020). Tem poemas publicados (em algumas também colaborou como autora) nas revistas eletrônicas Algo a Dizer (colaboradora), Zona da Palavra, Blocos Online (colunista), Revista Plural – Scenarium (colaboradora), Mallarmargens (colaboradora), Germina, Ruído Manifesto, Revista Caliban, Literatura & Fechadura, Mirada, entre outras. É editora da Revista Ser MulherArte.
www.christinaherrmann.com / www.sermulherarte.com / http://anchor.fm/podsermulherarte


O Tridente

como um tridente
espetando o céu
começaste
a ferir e sangrar
nossos sonhos
: jogá-los no olho
do furacão

agora só nos restam
olhos de nuvens
paisagens cinzas
acostumadas
às tempestades
e aos ventos frios
da solidão


Felina

com olhos faiscantes
e lábios de mel
ela o fascina
você a beija
e a sussurra
doçuras

com manto de fogo
e corpo ardente
ela o arranha
vocês se assanham

envoltos por labaredas
vocês se incendeiam
gritam e se gozam
infinitamente
enquanto dure…

…a não descoberta que:
as suas mãos
não passam de patas,
embaixo da sua cama
há outras gatas,
por detrás das suas
falas de amor
só havia garganta

então ela o deixará,
continuará gata
e você, anta


Paisagem

agora ela dormia, depois de resistir
a mais um dia e uma noite de agonia

agora, nem o cheiro da cachaça
e as humilhações do marido a doíam
durante aqueles minutos infinitos
era como se não tivesse sofrido
os seus desmandos, seus urros
seus medos, murros, muros
e covardias

Maria tinha o sonho de um lugar
de um tempo que nunca esteve
de uma paz que nunca viveu
era toda sua aquela beleza
aquela vegetação, aquele silêncio
aquele céu e aquela ponte
que tornava possível os delírios
mais distantes

era todo seu aquele caminho
ao lado do rio e por isso
Maria sorria com aquela imagem
tão bela como uma tela pintada,
tão bem retratada como fotografia
tão carinhosa como a paisagem
de um afago que a maldade
não conhecia

(só Maria)


O Banco

o banco daquele jardim
testemunhara doçuras
agruras lamentos sorrisos
anseios de ricos
e pobres

permitiu-se cobrir
de folhas secas
como meus olhos
de outono
de pétalas de jasmim
das primaveras
que não festejei

naquele banco
coube um universo
de sonhos
que eu desconheço
só não cabe nele
o imenso vazio de mim


Flor da Pele

enquanto as couraças
se distraem com as certezas

a pele se arrepia
com as dores dos ventos
na linguagem dos moinhos
subcutâneos

e o corpo se levanta
pela única certeza
de que ainda se espanta
com a tez das flores


Muda

nunca tive a certeza das árvores
vi minhas raízes crescerem
nômades, avançar rios, lágrimas
cachoeiras sem eira nem beiras
fazer cabo de força de mim
entre continentes e oceanos

nunca tive a certeza dos troncos
mas a dos trancos e barrancos
das tempestades sem fim

a certeza, eu aprendi
foi com a muda
que teve a planta dos pés
queimada
e as folhas arrancadas
por outonos atrevidos

a muda me ensinou a falar
para sobreviver
à próxima estação

me ensinou também
a ter a certeza
de que tudo
muda

3 comentários em “6 Poemas de Chris Herrmann”

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