Iolanda Costa (Itabuna-BA). Editou, artesanalmente, folhetos de poesia Às Canhas as Palavras Realizam Mil Façanhas (1990), A Óleo e Brasa (1991) e Antese (1993). Tem poemas editados em jornais, agendas, antologias, revistas impressas e eletrônicas e blogs. É autora de Cinema: Sedução, Lazer e Entretenimento no Cotidiano Itabunense (2000), Poemas Sem Nenhum Cuidado (2004), Amarelo Por Dentro (2009), Filosofia Líquida (2012) e Colar de Absinto (2017). Coordena a coleção de plaquetes poéticas Pedra Palavra (2012 -2020).
Do Amor
o amor se alimenta do livro
resvala-se dele. seus capítulos
de sol e água
e cabras de fortes pulmões
parágrafos e extremos
: cortinas
cor de carne e mão e pélvis
o amor rumoreja
seu vocabulário repetido
urge. atravessa
paredes e séculos
: tentáculos e urdiduras
Tear
meada
entre
meada
o algodão em flor
gosma, do liço
seu amarume
de estames
Festim
variada no tempo
saltada de dentro do jarro
como nenúfar, lava
palhaço de molas
ossos sobre restos
a fome diária e contumaz
dos ossos como festos
sentenciando a carnadura
fremindo o sal, o veio
o passar do poema pelo sangue
atirou-se sobre ela, um dia
o amor
puxando-lhe o braço, a albumina
o cálcio, o nutriente
a bacante e a sua boca
de tremores
Colar de Absinto
do colo ao quadril
adorna e flamba a carne
adereço que a restaura,
abjurada em chamas.
formoso é o pescoço
e as sete vértebras
que o estende aos ares:
lava. pira. serpe.
o pescoço de labirinto
e de fogo
por onde ardeja, verde
o absinto que me trazes.
a losna-maior farfalhando
como folha (em nervuras
e delírio), teus exílios.
Cogito
júpiter transitará saturno e tudo será
refletido. os acontecimentos do mundo
caberão na sala entre um supérfluo e
outro, uma taça, um círio, Gorki e os
poetas russos, o inglório e concuspicente
idealismo dos homens. nascemos para
estarmos juntos, senhor. alinhados entre
planetas distantes e constantes constela-
ções, não importa o que nos distanciem.
os astros libram.
Herança
O ponteiro sela a hora e nunca estivemos tão próximas,
assim, como quando faltou-lhe a respiração.
O corpo crescido do outro, o corpo devotado do outro,
a gene, a cromossomática generosidade
das seres que se perpetuam em assíduo encarne:
cabelo trompa boca lábio vulva mama.
A mãe morta.
Bravo, Iolanda! Eu gosto de duas palavras não corriqueiras, mas coerentes com o todo. “Xero.”