Jorge Augusto – poeta e professor, soteropolitano do bairro da Liberdade. É doutor em literatura e crítica da cultura – UFBA. Integra o corpo docente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB e do Instituto Federal Baiano, onde compõe a direção do Neabi. Coordena os grupos de pesquisa Perifa/ IF Baiano e Rasuras/ UFBA. Organizou diversas publicações entre elas o “Contemporaneidades Periféricas” e publicou o “Mapa de Casa”, pelas Editoras Ciclo de poemas/ Fósforo, em 2023. Atua, também, como editor coordenando as coleções: Novos baianos, contemporaneidades periféricas e a Revista de literatura brasileira contemporânea – organismo.
Amor
quando você sobe em mim
me sela selvagem ajustando
o quadril num quicado febril
fico ao mesmo tempo cavalo
domado e arredio e tudo que
estava por um fio desaba
esse mundo babaca as contas
não pagas os amores perdidos
tudo vira um trocado mirrado
diante o fato d’ eu desejar que o
mundo acabe nesse enquadre: você
sentada e eu livre em suas grades
Minha Preta é Rainha
Para Pretinha
não fiquei preso na sela
das tuas pernas abertas
não foi teu corpo derramado
sobre o meu que me prendeu
como uma roupa que parece
cobrir o corpo desde o osso
não foi nenhuma dessas metáforas,
nem mesmo as fodas mágicas
que jogaram o resto do mundo
no caminho da porta dos fundos
nada tão grande que se possa mostrar
nem tão pequeno que caiba esconder
é como um segredo que não sei qual
transforma sótãos e porões em quintal
Suíte 203
ou amante não tem lar
o quarto estreito e pequeno
cabia aquele segredo imenso
o incenso do seu cheiro no ar
era a isca para areia movediça
que me engolia fácil como água
do mar, teu corpo guloso tua
fome de amar, e o pedido mútuo
para não parar, carnívora dizia que
nadar era para morrer na praia, res
tava matar a sede com água salgada
depois, do lado de fora do quarto
o mundinho medíocre de sempre
certo, errado, castigo e pecado mun-
do covarde do perdão e dos padres
restou o amor trancado na gaveta
a vontade de morar na sua boceta
o ato falho de sentir o corpo molhado
como se tivesse preso naquele quarto
Refrão de Sofrência n 2
“estou sensível demais eu sei”
chorando em novela mexicana
drama no volume mais alto
tipo Gal cantando Vapor Barato
desisti do amor, não é cena,
juro, apenas um salvo conduto
resolvi gozar com o que sobrou,
cambalear de um lado pra outro
sem ter que seguir o mapa do
tesouro, viver o olho por olho
amar é mais difícil que o xadrez
de Karpov, deixo pra quem pode
esse investimento a longo prazo,
aposta sem garantia de retorno
onde é maior a chance de derrota
como dinheiro na mão do agiota
se ainda fosse um risco de para-
quedas eu me jogava de qualquer
altura, mas é como roleta-russa
se errar: tiro na cabeça, sepultura
Garçom aqui nessa Mesa de Bar
sentado no meio fio ouvindo
belchior não importa mais
se o mundo pode ser melhor
espero seu telefonema no meio
da tarde com a fé de quem
reza por um pequeno milagre
quero ter a vida assaltada
minha honra apedrejada na
praça não me importa nada
só a paixão bandida e vagabunda q
devora com seus grandes lábios e
dentes de aço todo meu passado
estapeando a bunda contra minha
cara mentindo um amor sincero
transforma deus num mísero inseto
sem isso até Chico Anísio perde
a graça e só me resta boiar no
mar desse copo de cachaça