7 Poemas de Acilino Alberto Madeira Neto

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Acilino Alberto Madeira Neto. Escritor, poeta, letrista, compositor e membro da UBE (Paraíba). Piauiense radicado em João Pessoa (PB) desde 1998, filosofo e economista de formação, auditor fiscal do Estado da Paraíba. No campo artísticos, publicou, em 2007, o livro “Nos Confins da Missão” com onze contos e uma mininovela, em 2008, o livro Monarquia de Sedução, com dois ensaios antropológicos sobre Zé Lins x Gilberto Freyre e Augusto dos Anjos, acompanhados de uma seleta de poemas para a cidade de João Pessoa. No campo musical fez parcerias com Kennedy Costa, Adeildo Vieira, Cristiano Oliveira, Titá Moura, Junior Tarjino, Titá Pereira (Piauí) e Fran Fidalgo (São Paulo-SP) e outros mais. Com Xisto Medeiros é parceiro desde meados dos anos 2000, com canções escritas para o seu CD Prana (duas canções: a faixa título e Repasto de Luxuria) e mais recentemente para o CD BlackXistus – 2014 – em cinco canções, uma inclusive dedicada ao grande músico Sivuca, intitulada Menino Amarelo, interpretada por Chico César e outra dedicada ao virtuosíssimo maestro Moacir Santos, interpretada por Lenine, no referido CD BlackXistus. Em 2019, publicou o livro de poemas “A Ilusória Geometria da Insanidade”, pela editora Mondrongo, Bahia.


Um Ponto Fora da Curva

Aceno de mau augúrio
Pedra na comida fria
Cálculo renal
A dor que não passa
Incômodo da cegueira intensa

E o tempo fora de prumo
Espaço picotado por minutos neuróticos
Noves fora nada
Mar de randomia em ebulição
Nem plano e nem reta
Sem sequência estatística


Sobras de Yorubá

Dengos de bem querer
Cantigas desatinadas
Rebentos de melodia
Na paz inteira do dia
Palavras dilaceradas

Ai sobras de Yorubá
Minha flor de ternura
Bogarim

Deixai a inocência viva
Perambular na sacada
Que vela o mundo por mim


Intimidade das Estações

Um dia a flor que lamentava a perda do encanto
Secara em vida e seiva
Antes da estreia de um outono
Que se ouvira falar
Sei do inverno quando me sinto triste
Na frieza da alma úmida
Em veste que não protege
Bogarins despetalados
Antes do verão esnobe e pabo
A primavera pôs-se a consolar
A mesma flor sedenta de resgate
Com promessas de cores firmes
E cheiros renovados.
Tudo imaginação
Em minha aldeia
Não vigam as quatro estações
Só a utopia e a felicidade
Estampada no rosto de Alice
Ou talvez de Nicinha
Em tempos de carnavais


Psicologia da Ausência

As vozes do lar da infância
Grave som matinal paterno
Nas trilhas do passado
Um sentido de pertencimento
No acolhimento da casa
Enfeitada e estrangeira
Pesares sublimados
Pela doce calma
Domingo segundo
Agosto de meu pai sempre


Diáspora dos Amantes

A rua que tu andas tem bogarins danados
De cor e salteado sabem que vai rolar
Jardins ofertam flores pétalas multicolores
Figuras que se formam no chão do pensamento

As luas do Atlântico enlouquecem muito mais
O vento na varanda mucama e capataz
Praia em Cabo Verde com porto de encomendas
Ferrada a carne morta na distância dos casais

Na dúvida das manhãs não sei onde me encontro
Eu rogo aos santos a festa de um dia te encontrar
Para sonhar azul gaivota solta
Infanta e bela no céu da nossa conquista

A árvore do esquecimento
Lonjuras de além-mar
Nas brenhas da diáspora
Vergonha de mil cais


Furtadas Intenções

Seus olhos desconfiados
Parecem-me tão lindos
Como se a desconfiança deles
Deixasse-me neutro em dias previsíveis

Seu jeito vestido de meiguice
Furta-me delicadamente as intenções
Banhadas de ternura
Contida em meu ser

Que massa
Seus olhos desconfiados


Balangandãs & Bandeiras
(para Antônio Amaral)

Ei cardeais ofegantes da alegria
Detentores de dengo e de segredo
Vadios moleques, malungos e desterros
Querubim mulato e aleijadinho
Desvirou meu carnaval

Sambou e cantou no tom
Falou do meu Cafuçu
Balangandãs e bandeiras
Louvando a musa crioula
Nicinha me acuda na glória
Brincantes no “mei da feira”

Meu Deus do céu Teresina
Não volto mais pra Lisboa
Ficarei aqui pretinha
Bem perto das labaredas
Ardendo o quengo da bossa
Curtindo na camarinha

Meu martelo não dá conta
Da malandragem que mora
No centro do pavimento
Pelouro não mais se aguenta
Soberba seduza e chora
E o mar vai molhar na aurora
Das bordas temporais infindas

Banana na cumeeira
Sinais do tempo na barra
Da saia da vida é bela
Na tela de meu cinema

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