Daniel Rodas (Teixeira-PB, 1999) é escritor, poeta e dramaturgo. Graduado em Letras e Mestrando em Literatura e Interculturalidade (UEPB). Editor da Revista Sucuru. Autor da plaquete Eros e Saturno (Editora Primata, 2021) e do livro Umbuama (Editora Urutau, 2021). Integrou as antologias Poesia fora do eixo (Toma Aí Um Poema, 2022), Engenho Arretado: poesia paraibana do século XXI (Patuá, 2023) e Casa Encantada: o conto fantástico paraibano (Arribaçã, 2023). Tem textos publicados em vários meios eletrônicos nacionais e internacionais, a exemplo das revistas Mallarmargens, Ruído Manifesto, Germina, Toró, Subversa, Kuruma´tá, Entreverbo, Trajanos, Aboio, Sepé, Esteros (Uruguai), Literarte (Argentina), Granuja (México) e Awen Magazine Art (Espanha). Fez parte do grupo de teatro ExperIeus da cidade de Monteiro-PB, onde colaborou como ator. Pensa na poesia como um fluxo, como o fluir incontrolável da vida. Vive atualmente em Campina Grande-PB.
SOMENTE
não ouço mais a porta bater
como fazia
antigamente.
não vejo mais o trinco
suspenso –
o cadeado aberto pendurado
no portão.
nada daquele cheiro de ontem
– nem do sorriso
que acompanhava a dança.
somente o golpe-soco do
destino:
o céu dobrado
junto ao rastro dos teus pés.
URSO POLAR DORMINDO EM ICEBERG
no último pedaço de frio
do oceano quente
ele deita um corpo branco
no azulado gelo
não se sabe
se de medo ou de sono
já reclina cabeça
sonha
com uma outra morada
tão repleta de focas
DEPOIS
há milhões de anos
aquela estrelinha amarela
brilhava nos confins do
universo
dizem que em torna dela
rodava um planeta
azul
CACHORRO
Para Jady
doze quilos de puro pelo
por cima da superfície
rosa
me encara com o olhar de
veludo
de quem sempre observa
as trapaças humanas
coça a orelha de um
lado
balança o rabo do
outro
que mensagem cifrada
quer passar?
uma lufada de ar lhe abrasa
o focinho
hora de espiar a rua
CANÇÃO
o rosto da maçã é o
amor
há nele um canto rastro
de pêssegos
e o frio que
aquecemos juntos
aos pés de nossos olhos
fitos
fixos uns nos outros
ABELHAS
a propósito do zumbido das abelhas
não há nada que eu possa dizer
apenas que elas me acordam
mesmo quando estou acordado.
na rede em que me deito e balanço
os ossos numa tarde cansada
as abelhas zumbindo destecem
o bumbo ensurdecido das palavras.
DONA MAURA
os senhores do mundo
traçam guerra.
sobre a mesa
Dona Maura faz um bolo.
é quarta-feira
e não existe mais TV.
as bombas caem.
Dona Maura coça as
costas.
SALVA-VIDAS
a pedra que convida ao salto
fica no alto de outra pedra
ainda mais alta que a anterior
de modo que só de subir
(ou de pensar em subir)
já se desiste da queda