Celso Borges, poeta, jornalista e letrista, parceiro de Zeca Baleiro, Chico César, Assis Medeiros, Nosly e Criolina entre outros. Tem 11 livros publicados, entre eles NRA (1996), XXI (2000), Música (2006) e Belle Époque (2010). Desenvolve projetos de poesia no palco desde 2005: Poesia Dub, com Otávio Rodrigues; A Posição da Poesia é Oposição, com Christian Portela e Luiz Claudio Farias; e Sarau Cerol, com Beto Ehongue. Tem poemas publicados em revistas de literatura, entre elas Coyote, Oroboro, Acrobata e Poesia Sempre. Foi curador da Feira do Livro de São Luís (FeliS) em 2013 e 2014. Em 2020 publicou o livro Pequenos Poemas Viúvos.
3.
primeiro queimam os livros
depois queimam os próprios homens
para apagar de vez a memória dos livros
11.
o urubu que sobrevoa o hospital português
na manhã de 8 de setembro de 1977
é mesmo um urubu?
o poeta bandeira tribuzi jura
que a ave que viu voando
perto da janela do quarto
é uma pomba do espírito santo
20.
o último descendente de julio verne
ri quando ouve falar que seu tataravô
levou 80 dias para dar a volta ao mundo
26.
no cemitério dos vivos
lima barreto passa dias e noites
chamando os lobos
para não dormir sozinho
29.
poemas de amor
escritos na última tempestade
entopem bueiros na praça da saudade
30.
depois que as águas do anil
devoraram os restos do maria celeste
os leões do palácio dos leões
começaram a ter pesadelos
33.
riobaldo demorou
a descobrir que
diadorim
não era uma neblina
46.
talvez o gás acabe
quem sabe o filho acorde
ou na pior das hipóteses
torquato não consiga dormir
61.
guevara lê gullar
dentro da noite veloz
perto de la higuera, selva boliviana
em outubro de 1967.
na quebrada do yuro são 13 e 30 horas
63.
perto de morrer
joão cabral costuma ouvir
o barulho do silêncio da morte
num rádio de pilha sem pilha
67.
anjos da guarda choram no colo
de nossa senhora
nas paredes
da igreja dos remédios
72.
um anjo da guarda desce
das paredes da igreja de são joão
pra passear pela cidade.
pena que o condutor do bonde não vê
quando ele atravessa a rua da paz
com suas asas de catecismo
90.
a poesia é maior que a morte
MARACATU DE CABEÇA reúne três artistas brasileiros contemporâneos de três lugares diferentes do país: O poeta e letrista maranhense Celso Borges, o compositor pernambucano Assis Medeiros e o poeta e artista visual paulistano Daniel Minchoni. Eles estão juntos na produção deste vídeo que tem poema e interpretação de Borges; trilha, mixagem e masterização de Medeiros; e vídeo de Minchoni.
MARACATU DE CABEÇA é um manifesto antifascista contra o atual estado brasileiro, de índole autoritária. A epígrafe do alemão Bertolt Brecht anuncia no começo do vídeo a bandeira de ira e fúria que nos três minutos seguintes é desfraldada nas imagens e versos, lançados ontem nas redes sociais. O poema interpretado por Celso Borges começou a nascer a partir de uma publicação que ele fez no instagram há cerca de três meses, depois que viu uma foto de uma postagem mostrando adolescentes jogando futebol com a cabeça do presidente da república.
“Era um poema mais longo e muito direcionado na figura de JB. Embora ele seja o principal personagem desse núcleo fascista que está no poder, quis ampliar o conceito do discurso antifascista. Enxuguei o texto e o adaptei a uma leitura que coubesse nas batidas da trilha composta por Assis Medeiros”, afirma o poeta, que tem mais de 10 livros de poesia publicados, entre eles Pequenos poemas viúvos, lançado em dezembro de 2020.