Daniela na Lua

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Por Carlos André

Produzir livros de poesia temáticos é um desafio que poucos autores contemporâneos tem topado. E, menos ainda, se o tema em questão for um clássico já tratado à exaustão pela história da literatura.

Pois foi esta e empreitada assumida por Daniela Pace Devisate em “Muitos Quartos Lunares”: escrever a lua.

Escrever o que a lua inscreve em sua experiência de mulher artista. Em sua poética.

Ler o que a lua escreve com sua tinta de luz e sombra.

Serão as fases da lua feitas para que se movam as palavras pelo poema?

O satélite ganha diferentes dimensões no texto da autora. Integra e desintegra esta escritura conforme se situa pelas páginas do livro, numa intensa tradução intersemiótica.

Um dos paratextos, vale anotar, já parece um tanto a obra, escrito pelo grande poeta e pesquisador literário Rubens Zárate – que apresenta Daniela como uma igual amante dos enigmas.

Vale dizer ainda do apuro técnico de Tantos Quartos Lunares. A autora alcança notável expressividade pelo recurso a um consciente sintetismo imagético – de quem é, antes de autora, uma leitora atenta de poesia.

O livro é repleto de passagens muito belas, de pequenas jóias literárias.

Daniela lê a lua ao ser lida por ela, num equilíbrio de forças entre sujeito e objeto, sem que se possa saber em qual lado cada um esteja.

As faces da lua são também as faces da poesia, que se modifica a cada máscara desvelada pelos versos. Por isto os poemas, partindo de um tema comum, alcançam amplo terreno discursivo, e tratam, a partir de um mesmo centro, de inúmeros outros aspectos que envolvem nossas vidas.

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Estas mesmas vidas caretas que precisam da lua e da poesia para que sejam sempre outras.


Carlos André é de Diadema, periferia da Grande São Paulo. Pesquisador, professor de literatura, poeta, autor de mínima lâmina, é também compositor musical, arte-educador literário e idealizador e apresentador do Canal Clóe de Poesia.

Daniela Pace Devisate é uma canceriana lunática, nascida no dia em que o homem (dizem) pisou na lua, em 20 de julho, mas dois anos depois, em 1971, em São Paulo, capital. Depois morou nas montanhas mineiras e hoje mora na praia, no litoral sudeste de São Paulo, na Juréia de Iguape. Formada em Pedagogia e licenciada em Artes Visuais, com pós-graduação em Artes Visuais, leciona Arte na escola estadual local e fabrica livros artesanais de poesia, que expõe em feiras de publicação independente. Publica frequentemente poemas e alguns contos, nas redes sociais, em sua página “Palavracoisa” e no grupo literário que criou em 2017, “Alcateia”. Tem poemas publicados em diversas revistas literárias digitais, como Mallarmargens, Literatura&Fechadura, Germina, Gente de palavra, Carnavalhame. Participou da antologia Voos Literários, editora Essencial, em 2018, e em 2020, participa da plaquete Poemas de Amor, antologia de poemas organizados pelo professor doutor Claudio Daniel. De vez em quando usa os pseudônimos Devi Sat e Iandella Cape.

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