2 Poemas de Natalie Diaz

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Tradução por Belise Campos*


Natalie Diaz nasceu em Needles, Califórnia. Ela é uma poetisa americana Latina e Mojave. Cresceu em um vilarejo indígena Mojave. Estudou em Old Dominion University, onde se formou em Poesia e Ficção. Em 2021 venceu o Prêmio Pulitzer pelo seu segundo livro de poesia, Poema de Amor Pós-Colonial, o qual aborda a violência pós-colonial que os nativos americanos sofreram no passado e que ainda sofrem nos tempos atuais.

 

COMO A VIA LÁCTEA FOI FEITA

Meu rio foi uma vez inseparado. Foi Colorado. Vermelho-
inunda rápido. Capaz de tomar

      tudo o que poderia ser molhado — em uma corrida selvagem —

                                 em meio ao seu caminho para o México.

Agora está destruído por quinze mil represas
mais de mil quatrocentas e cinquenta milhas,

tubos e bombas enchendo
irrigadores e sedentas piscinas

         por Los Angeles e Las Vegas.

Para salvar os nossos peixes, nós os tiramos da árida estiagem,
os libertamos em nossos céus, junto ao púrpura da folhagem —
         ‘Achii ‘ahan, salmão Mojave,

                                         alado peixe do Colorado —

Lá em cima plana como ave, por entre os astros.
Você os vê agora —

          inundam o céu, em um verde-aurora,

                                        barriga e peitos brancos como a lua —
percorrendo seu caminho com velocidade, na hora mais escura,

ondulando a água do céu-safira, como uma estrada galáctica
O rastro que eles arrastam enquanto fazem seu caminho
pelo céu noturno é chamado

      ‘Achii ‘ahan nyuunye —

                                  Nossas palavras para Via Láctea.
O coiote também está lá, agachado atrás da lua,
após sua tentativa falha de pular, a rede de pesca molhada

        e vazia, pendurada nas costas nuas —

                                              um prisioneiro azul que sonha
aos dentes, abrir o zíper da pele sedosa do salmão
Oh, assim é a fraqueza de qualquer boca

                                     que se entrega ao universo

                                      de um corpo de leite doce.
Assim como intercede à minha própria boca a sonhar com sede
os longos caminhos do desejo, as estradas de cem mil anos-luz

       Entre a sua garganta e coxas.

 

*****


EXTRATO DO POEMA DE AMOR PÓS-COLONIAL


Aprendi que as pedras de sangue podem curar uma picada de cobra,
Podem parar o sangramento – a maioria das pessoas esqueceu disso
quando a guerra acabou. A guerra acabou
dependendo de qual guerra você quer dizer: aquelas que começamos,
antes disso, milênios atrás e em diante, não terminamos
aquelas que me começaram, que perdi e ganhei –
essas feridas sempre florescendo.
Fui construída pelo pagar. Então eu paguei o amor e, pior –
pago sempre por outra campanha a marchar
uma noite no deserto para o flash de canhão da sua pele pálida
estabelecendo-se em uma lagoa prateada de fumaça em seu peito.
Eu desmonto meu cavalo negro, curvo-me a você, aí te entrego
A forte atração de todas as minhas sedes –
Aprendi a Beber em um país de seca.
Temos prazer em machucar, deixar marcas
O tamanho das pedras – cada uma um cabochão polido
por nossas bocas. Eu, seu lapidário, sua roda lapidária
girando – verde manchado de vermelho –
das gemas de jaspers do nosso desejo.
Existem flores silvestres no meu deserto
que levam até vinte anos para florescer.
As sementes dormem como geodos sob a areia quente de minerais
até que uma enxurrada atinja o arroio, levantando-as
em sua corrente de cobre, se abrem com a memória –
elas se lembram do que seu deus sussurrou
em suas costelas: Acorde e sofra por sua vida.


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Belise Campos [Curitiba, Paraná] é escritora e poeta. Publicou em Revistas Literárias (LiteraLivre, Toma Aí Um Poema e La Loba Magazine), na antologia Ciranda das Deusas (Enluaradas, 2021 – prelo) e na antologia Na força e No Grito, na palavra persistimos (Toma Aí Um Poema, 2021). É editora-assistente e tradutora do Toma Aí Um Poema – maior Podcast Lusófono de declamação de Poesia. Formou-se em Psicologia na Universidade Positivo com especialização na Universidade da Colúmbia Britânica.

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