Poema de Kalpna Singh-Chitnis*
Tradução de Francis Kurkievicz/Brasil*
I
It did not weep
did not plead for mercy
nor complained.
It fell silently,
the tree.
~~
Não chorou
Não implorou misericórdia
Nem se queixou.
Silenciosamente tombou
A árvore.
II
My hands,
yellow as its flesh
dripping white blood,
shuddering with
the deafening sound
of the chainsaw.
I’m the tree,
and the one
who kills it.
~~~
Minhas mãos,
Amarelas como sua carne
Vertendo sangue branco,
Estremecendo com
O som ensurdecedor
Da motosserra.
Eu sou a árvore,
E aquele
Quem a mata.
III
Its blood was white.
We took away its rouge
and the greenery of its leaves.
~~~
Branco era seu sangue,
O rubro lhes tiramos
E o verde de suas folhas também.
IV
When a tree is decapitated
before the eyes of other trees
how do they feel?
When I asked this question to the trees
in response, they stood silent
with their heads down.
~~~
Quando uma árvore é decapitada
Na presença de outras árvores
Como elas se sentem?
Quando fiz esta pergunta às árvores
Em resposta, quedaram-se em silêncio
Com a fronte baixa.
V
Have you ever seen
the execution of a tree?
It is said that the tree
weeps all night
before the day it dies.
It knows the meaning of
the red dot on its chest.
~~~
Você já viu
A execução de uma árvore?
Conta-se que a árvore
Chora a noite toda
Antes do dia em que morre.
Ela compreende o significado
Do ponto vermelho Em seu peito.
VI
They came,
took down the tree
the sun moved to the west
and everyone left.
Only the earth remained
and me, motionless
where the tree stood once,
filled with joy and gratitude.
~~~
Eles vieram,
Tombaram a árvore
O sol deslocou-se para o oeste
E depois se foram.
Só a terra permaneceu
E eu, paralisado
Onde a árvore esteve outrora,
Plena de alegria e gratidão.
VII
Before the adieu
it left me its shade
leaves and straws for
the birds’ nests
and the last seed, in the dried palms
of the earth’s hands.
In the seed
the mysteries of life and death.
The day they had come
to mark red on its forehead,
it knew they would be back again soon
to behead it.
~~~
Antes do adeus
Me deixou sua sombra
Folhas e gravetos para
ninhos de passarinhos
E a última semente, nas palmas secas
Das mãos da terra.
Na semente
Os mistérios da vida e da morte.
O dia em que eles apareceram
Para marcar de vermelho sua fronte,
Compreendeu que em breve retornariam
Para decapitá-la.
VIII
The day it’s born, brings joy.
When it grows—gives flowers, fruits, and shade.
And one day, it’s life.
My desk is the bare chest of a fallen tree.
Laying my head on it, I can hear its heartbeats.
And leaning on the shoulders of
every window and door of my home,
I can listen to all the forests on earth
weeping together.
~~~
O dia em que nasce alegria traz.
Quando cresce – flores, frutos e sombra dá.
E um dia, é a vida.
Minha mesa é o peito nu de uma árvore tombada.
Deitando minha cabeça nela, posso ouvir seu pulso.
E apoiado nos ombros de
cada janela e cada porta da minha casa,
Posso ouvir todas as florestas da terra
Num lamento único.
IX
The grass wasn’t here.
It was seeded.
Once lived a tree on this ground.
The grass is a green stole
on its tomb.
~~~
A relva não estava aqui.
Foi semeada.
Uma vez viveu uma árvore neste solo.
A relva é a mortalha verde
Sobre a sua tumba.
X
Was it just a coincidence
that the tree died before my eyes?
Or had it been waiting for me
as one awaits for the loved ones
in the final days?
Before breathing last,
it inherited me an epic.
~~~
Foi apenas uma coincidência
Que a árvore morreu diante dos meus olhos?
Ou ela estava esperando por mim
Como se espera pelos entes queridos
Nos últimos instantes?
Antes do suspiro final,
Ela me legou um épico.
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Francis Kurkievicz é poeta. Tem um BA em Filosofia e um MBA em Produção de Rádio e Televisão. Publicou em 2020 o livro de poemas B869.1 k96, pela Editora Patuá. Vive em Vitória, Brasil, onde se dedica exclusivamente à meditação e literatura.
Kalpna Singh-Chitnis é uma poeta indo-americana, escritora, cineasta e autora de quatro livros de poesia. Sua poesia, ensaios e traduções foram publicados em proeminentes revistas como “World Literature Today”, “Columbia Journal”, “California Quarterly”, “Indian Literature”, “Silk Routes Project” (IWP) esta última da Universidade de Iowa, “Life in Quarantine” da Universidade de Stanford. Sua poesia já foi traduzida para quinze idiomas, e tem recebido elogios de eminentes escritores pelo mundo, tal como o indicado ao Prêmio Nobel de Literatura Dr. Wazir Agha, destacado escritor, poeta, crítico e ensaísta paquistanês de língua urdu. Kalpna Singh-Chitnis também recebeu os prêmios Vaptsarov, Ordre des Arts et des Lettres, e o prêmio Amrita Pritam como poeta, letrista. É a diretora do filme Gulzar. Os poemas do seu premiado livro “Bare Soul” e do poético filme “River of Songs” foram incluídos na “New Collection” e na “Polaris Collection”, cápsulas do tempo do programa espacial Codex Lunar que deverão ir à Lua nas próximas missões da NASA em 2022 e 2023. O último filme de Kalpna Singh-Chitnis, “The Tree”, baseado em seu obra poética, está circulando por diversos festivais internacionais e já ganhou o “Best Experimental Short Film Award” no Festival de Cinema sobre Direitos Ambientais do Dakota do Norte em 2022. Kalpna Singh-Chitnis, ex-professora de Ciência Política, é membro da Advocacia das Nações Unidas dos EUA, é também Editora-chefe da revista digital “Life and Legends”, e Editora de tradução do IHRAF, jornal do Festival Internacional de Arte dos Direitos Humanos, publicado em Nova York. Seu próximo livro de poesia, “invadindo minhas terras ancestrais”, está em elaboração final. Mais informações poderão ser acessadas na página pessoal da autora: www.kalpnasinghchitnis.com
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Francis Kurkievicz is a poet. He has a BA in Philosophy and an MBA in radio and TV production. Published in 2020 the book of poems B869.1 k96, by Editora Patua. He lives in Vitoria, Brazil, where he is dedicated exclusively to meditation and literature.
Kalpna Singh-Chitnis is a Pushcart-nominated, award-winning Indian-American poet, writer, filmmaker, and author of four poetry collections. Her poetry, essays, and translations have appeared in notable journals like “World Literature Today,” “Columbia Journal,” “California Quarterly,” “Indian Literature,” “Silk Routes Project” (IWP) at The University of Iowa, Stanford University’s “Life in Quarantine,” etc. Her poetry has been translated into fifteen languages, and she has received praise from eminent writers, such as Nobel Prize in Literature nominee Dr. Wazir Agha, Vaptsarov Award, and Ordre des Arts et des Lettres recipient Amrita Pritam, and poet and Academy Award winning lyricist, and filmmaker Gulzar. Poems from her award-winning book “Bare Soul” and poetry film “River of Songs” included in the “Nova Collection” and the “Polaris Collection” Lunar Codex time capsules are set to go on the moon with NASA’s missions” in 2022 and 2023. Her latest film, “The Tree,” based on her work of poetry is making festival rounds, and has won the “Best Experimental Short Film Award” at the 2022 North Dakota Environmental Rights Film Festival. A former lecturer of Political Science, Kalpna Singh-Chitnis is an Advocacy Member at the United Nations Association of the USA, the Editor-in-Chief of “Life and Legends,” and the Translation Editor of IHRAF WRITES, a journal of International Human Rights Art Festival, published from New York. Her forthcoming poetry collection, “Trespassing My Ancestral Lands,” is in the making. Website: www.kalpnasinghchitnis.com