Monólogo do Sultão Baibars – Poema de Alpamys Faizolla

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Tradução por Francis Kurkievicz, poeta e editor. Eventualmente tradutor.

Alpamys Faizolla – é um jovem poeta cazaque. Ele nasceu em 1995, em 6 de março, na cidade de Oral, no oeste do Cazaquistão. Atualmente reside na cidade de Astana, capital do seu país. Alpamys é autor de dois livros de poesia – “Monumento ao amor puro” e “A estrela do meu coração-céu”. Seus poemas foram traduzidos para as línguas inglesa, francesa, chinesa, turca, persa, russa, bengali, azerbaijana e agora para o português brasileiro. Seus poemas tem sido publicados em diversos jornais e revistas literárias estrangeiras.


MONÓLOGO DO SULTÃO BAIBARS*

Neste mundo mortal,
A quem devo relatar a minha dor?
A tristeza, como um crocodilo voraz,
Devora minha alma sem contrição.

Sou parente dos pássaros
Que voaram para longe abandonando minha pátria.
Se somares a minha dor,
É mais do que os peixes do mar.

O meu trono não me dá felicidade,
A minha riqueza também não me dá felicidade.
Quem vai compreender o meu estado de espírito,
Semelhante ao segredo das pirâmides?

O vento lacerou a minha alma,
Aves, por favor, levem minhas lembranças à terra-mãe.
Tal como o deserto, aqui, amarelo,
Há um anseio amarelo no meu coração!

Sinto falta das florestas da minha pátria,
Eis o solo e o céu – como uma chama.
Meus olhos vertem lágrimas acres,
Como a água salgada do mar.

Sinto falta da fragrância da Artemísia,
Sinto falta das toadas dos Kypchaks.**
Formigas e tarântulas da minha terra,
Nostalgia tenho por todos!

Todas as pessoas em meu entorno
Afirmam que o Rio Nilo é sagrado.
Mas sinto falta do Rio Zhaiq,***
Ninguém sabe a dor que me pertence.

Entre velhos desertos rugosos,
Meu coração também ficou enrugado.
À noite, em meus sonhos, vejo
Estepes de Kypchak, longe estão.

Aqui o calor é furioso,
A Queimar-me o coração.
Este é o meu triste destino,
O que posso, com isso, fazer?!

O crocodilo no Nilo
Devorou minha felicidade.
O vento selvagem nos desertos
Furtou-me a alegria.

Vim para cá como escravo e tornei-me Senhor,
Mas estou infeliz, apartado da minha pátria.
Detive a invasão dos mongóis, selvagens como um rio,
Mesmo assim, não logrei ser feliz.

Sinto falta de respirar
O ar fresco da minha pátria.
Posso morrer sem um sonho
Se contemplar vez mais as estepes celestiais de Kipchak!

Notas: * Sultão Baibars – governante do Egito em 1260-1277. Ele nasceu nas estepes de Kypchak (atual território do Cazaquistão) em 1223. Quando tinha 14 anos, foi capturado por invasores mongóis e vendido como escravo. Como escravo, acabou no Egito. Mas sendo ele muito habilidoso, talentoso, forte e corajoso, quando se ficou adulto, tornou-se o governante do Egito. Como sultão (governante), ele era muito sábio e corajoso, protegendo seu país e os muçulmanos dos invasores mongóis e cruzados.

** Kypchaks – a tribo que viveu e ainda vive no território moderno do Cazaquistão. O sultão Baibars era de Kypchak. Kypchak é uma das tribos que compõe a nação Cazaque.

*** Zhaiq – é um rio que atravessa o oeste do Cazaquistão moderno, onde nasceu o sultão Baybars.

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