Apresentação e seleção de Floriano Martins
O palco foi a grande escola de arte de Valentine Hugo (França, 1887-1968). Não como expressão corporal, mas antes como campo transbordante de visão para sua obra plástica. Começou desenhando cenas de balés, o que a levou a desenvolver suas próprias concepções coreográficas, além de executar gravuras e maquetes. Desta forma trabalhou ao lado de Jean Hugo, com quem se casaria, em balés de Jean Cocteau, Eric Satie e Ígor Stravinsky. Valentine também realizou muitos retratos dos surrealistas. Sua amizade com André Breton e Paul Éluard data de 1917, antes mesmo do estabelecimento do movimento surrealista. Era de Valentine o carro com que o trio costumava viajar no início dos anos 1930. Nesta mesma época ela criou o Objeto de funcionamento simbólico que seria apresentado na Exposição Surrealista de 1933. Salvador Dalí já havia esclarecido que tais objetos se prestam a um mínimo de funcionamento mecânico e se baseiam nos fantasmas e representações suscetíveis de ser provocadas pela realização de atos inconscientes. Foram inúmeros os cadáveres deliciosos que Valentine fez com Breton e Éluard, mas também com Greta Knutson, Nusch Éluard e Tristan Tzara. Tais desenhos ganharam uma dimensão estética singular graças a uma visão requintada de Valentine Hugo ao sugerir que os mesmos fossem realizados com guache em papel preto, criando assim uma perspectiva ilusionista de grande efeito. Sua vida amorosa foi algo tumultuada. O casamento com Jean Hugo demorou pouco e logo teve um romance tempestuoso com André Breton que resultou em uma felizmente frustrada tentativa de suicídio após uma briga, tendo sido socorrida a tempo por Éluard. Valentine Hugo foi notável ilustradora de obras de Lautréamont, Rimbaud, Achim von Arnim e Paul Éluard. Desde o princípio do movimento surrealista ela participou de praticamente todas as suas exposições internacionais, o que certamente não justifica que Breton a tenha deixado de fora de seu livro Le surréalisme et la peinture (1928), tampouco a mencionando – a ela ou a nenhuma outra mulher – na conferência-manifesto Situação surrealista do objeto (1935). Sua intensa atividade expositiva e de criação, no entanto, jamais lhe deu uma boa condição financeira, e suas privações, agravadas por problemas de saúde, a levaram a afastar-se de tudo. Morreu já praticamente uma desconhecida, aos 81 anos de idade.
Una enorme alegría el poder ver estas imágenes! Muchas Gracias!
Breton parece não ter merecido os seus fantasmas!