4 Poemas de Verónica Cabanillas (Peru, 1981)

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Curadoria e tradução de Elys Regina Zils

Verónica Cabanillas Samaniego (Lima, 1981) é poeta e artista visual. Realizou exposições individuais em Lima e exposições coletivas na Europa e América Latina: El surrealismo hoy, homenaje a Eugenio Granell no Museo Eugenio Granell, Santiago de Compostela, Espanha (2012); El asombro del colmillo na Le Petit Canibaal, Valência (2014); Ludwig Zeller, componiendo la ilusión na Galería Taller de Rokha, Santiago do Chile (2017); Cien años de Surrealismo no Centro Cultural Espacio Matta, Santiago do Chile (2019-2020); International exhibition of surrealism na Galería Kudak, Cairo-Egito (2022); Eco del surrealismo contemporáneo no Instituto francês de Alexandria, Egito (2022). Em 2023, expôs em Talca em três ocasiões, incluindo a galeria Mauricio Frois do Teatro Regional do Maule. Em 23 de março deste ano, ela inaugurou uma exposição coletiva chamada Exposición Fraterno em Santiago do Chile, com cerca de 45 artistas de grande trajetória, sendo a única peruana. Este ano, ela se prepara para expor em diversos homenagens pelos 100 anos do surrealismo, na La Maison André Breton (St Cirq Lapopie), Paris, Toulouse, Birmingham-Alabama (EUA), com diversos grupos surrealistas internacionais.

Publicou em 2014 TUyYO e participou de várias antologias de poesia: IXQUIC. Antología internacional de poesía feminista (Editorial Verbum, Madrid, 2018); Wagered deep on the run of six rats to see which would catch the first fire / Surrealist and Outsiders (RW Spryszak, Chicago, 2018); Liberoamericanas, 80 poetas contemporáneas (Liberoamérica, Espanha / Argentina / Uruguai, 2018); Narrow doors in wide green fields / Surrealists and Outsiders (RW Spryszak, Chicago, 2019). Participou do V Festival de Poesía de Lima (2014); IV Feria del Libro Alternativo Antifil, Lima (2019); e da 27ª Feira Internacional do Livro de Lima (FIL 2023). Seu trabalho visual é divulgado nas revistas Derrame (Chile), Canibaal (Espanha), La Vertèbre et le Rossignol (Canadá), Vol (França), The Room (Egito), Revista Innombrable (Colômbia), Agulha (Brasil), Oblivion (França) e Lithaire IV (França). Faz parte do livro 120 noches de Eros, um compêndio de mulheres surrealistas organizado por Floriano Martins (ARC Ediciones, Brasil, 2021). Vários de seus poemas foram traduzidos para o francês e inglês e publicados na Antología surrealista internacional” da Belle Inutile Editions (França) em 2022.

Atualmente, codirige com Magdalena Benavente a revista Honidi Magazine, em Algarrobo, Chile. Pinta e está preparando para este ano a publicação de um livro inédito escrito aos 19 anos e uma seleção de poemas dos últimos 20 anos, que será editado pela Belle Inutile Editions na França.


26 DE ENERO

Vejo o mar subir
Preencher os abismos que me separam de mim mesma
Essas pontes de água sufocada ardente
As ondas sobem e arremetem
as estrelas dos teus olhos invencíveis
Sobem com o mar
Transborda o paraíso que habitamos
O oceano é um coração enorme
E esse coração está aberto como uma fossa feita de pranto
A escuridão começa
E meu nome nas trevas
Descalço anda por caminhos improváveis de tranquilidade
O oceano é teu dorso
E teus cabelos ao vento que agita minha memória
Deslizam sobre essas ondas cintilantes e se tornam meus
Não quero a calma estéril
Quero que o tempo me calcine
E as águas me afoguem
E a sede me faça percorrer
As montanhas dos pensamentos mais elevados
Os caminhos de lugares ainda sem nome
Os seres mais fabulosos e repousar em suas mãos meus sonhos impossíveis
Porque tu és a utopia
E andei entre as trevas
E agora vejo as ondas alcançar o céu, que atravesso
Desprendem-se fulminantes os dias do passado descolando-se no vazio da minha mente
Quando caminhava sem sentido e o único sentido era a imagem que de ti perseguia dia e noite
E agora aparece entre as nuvens
E o céu se dessangra em pequenas luzes tricolores
Quisera afundar-me neste céu
O mar abaixo é um manto de sal ardente
As nuvens são como manchas que projetam sombras sobre o mar
E cada sombra um profundo buraco onde submerjo meu agudo lamento
Ouço o canto das aves que circundam o sol nesta tarde que se apaga
Como eu diminuo, quando tua ausência é essa sombra sobre mim e sobre os céus deste mundo
Tudo se fecha com a única palavra que curará esta época
ou lhe porá fim
Seguirá a única ação após essa palavra
Um novo mundo começará
E esta será a lembrança de um terrível engano
A luz atravessa a luz
E as águas do mar
Afundando-se
Cairão comigo
Onde sempre estive
Sem ninguém ouvir minha voz desesperada
No fundo de tudo.


XX

Por que voltei? Por que não fiquei entre os eruditos espaciais? Por que entre vocês? Poderia ter ficado lá em cima, por que voltar entre a morte? Entre os mortos.
Quantos anos mais restam aqui para voltar ao casulo da vida, à sublime residência das hecatombes espaciais.
Disfarçados de verdes, egos como o violeta da minha vida, por que não me esperaram os guias do futuro?
Meu choro vermelho como o mel do rebanho;
Rebanho, por que dormes?
Rebanho, por que comes?
Rebanho, por que as preces para mim?
Eu teria vivido bem longe daqui, no além, longe da morte, do suplício, da ousadia, da valentia, da morte, da calúnia, das zombarias, da profanação do espírito, longe da pérfida, do homem decadente, da insensatez do orgulho, do nada, do engano, da pena, da dor, da agonia, da desgraça de ter corpo. Por que me fiz corpo?
Por que voltei? Não me deram explicações, apenas um silêncio vermelho ardente.
Uma agonia transportada ao futuro,
A insurreição da carne,
o fel da viagem,
o ultra mundo em meus pés dolorosos.

sonhada
ida
invertida
extraterrena
a pena do gênio se chama incompreensão
a fuga daqui, idealização realista.


XXIV

A loucura é a doença dos sãos, saltei a muralha rompendo-a com a minha cabeça e vi a infinitude. Uma vez destroçada minha cabeça e meu corpo, alcancei o deserto mental, o espaço onde andar, que intuía existir para mim, desde antes da minha loucura, desde a minha infância.
A loucura é a sabedoria da imaginação.


XXV

Aqui onde os sonhos são elaborados,
sobre esta nuvem de realidade vivente,
construo os sonhos que me tomarão e farão de mim; claridade total.
A vida é um reencontro, uma maravilha dos sentidos e da pele.

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