Cacto na boca pode ser lido como um único poema em forma de peça teatral. Ou como uma série de poemas que constroem uma denúncia do teatro intolerável em que a vida se converte. Mas a voz que, aqui, faz do poema um teatro, ergue-se para dizer que se nega a continuar atuando e, mais ainda, a aceitar os papéis a que tem sido relegada pelo “colega branco”, pela “amiga branca” e também pelo “crítico branco”.
O fato de essas figuras serem bem pouco ou nada ficcionais (não demora para que os leitores reconheçam, no palco do poema, seus próprios papéis) explica a urgência da poesia de Gianni Gianni, em que os traços mais instigantes e combativos da produção contemporânea se fazem sentir. “É sempre útil ter um cacto à mão”, ainda mais se lhe couber o papel de “atriz não branca” nessa peça em que vão lhe dizer que não vale gritar, em que sempre aparecerá alguém para lembrar as “regras do jogo”.
São muitos os cactos enfiados goela abaixo. No entanto, os versos de Gianni são a prova de que os cactos engolidos podem se transformar “numa metralhadora de espinhos […] na garganta”. Ou a partir da garganta, mirando alto. A força dessa voz que se constitui pelo acúmulo de incômodos, de violências que a invadem, é impressionante. Aliás, “observa se/ ao te retirares das páginas/ levas espinhos nos dedos”. É certo que levarás.
Sobre a autora:
Gianni Gianni nasceu em Recife, em 1991. É escritora, editora e arteterapeuta. Publicou o livro é feito em círculos (Flecha, 2021) e o zine-poema Big bang (edição da autora, 2022). Participou das antologias Faça um samba enquanto o bicho não vem (Telaranha, 2024) e O poema se chama política (Impressões de Minas e mtst, 2021).
Ficha Técnica
Título: Cacto na boca
Autora: Gianni Gianni
Formato: 13,5 x 20 cm
Número de páginas: 40
ISBN: 978-65-6139-012-5
ISBN e-book: 978-65-6139-047-7
Preço da plaquete: R$ 44,90
Envio da caixa para assinantes: novembro
Data de livraria: 10/12/2024
Editora: Círculo de Poemas