Aline Cardoso (@linhanegra) é Gestora Cultural, Editora, Escritora e Artista Multidisciplinar. Licenciada em Letras e Mestra em Linguística pela UFPB, Especialista em Gestão Cultural pela Fundação Itaú Cultural. Atualmente, cursa o MBA em Curadoria, Museologia e Gestão de Exposições. Fundou a Editora Triluna (@editoratriluna) em 2019, e em 2020 criou o Projeto Editorial Afirmativo Lua Negra, cujo foco é publicar mulheres, pessoas negras e pessoas LGBTǪIA+, que já publicou mais de 35 obras. Aline Cardoso tem cinco livros publicados: A proporção áurea do caos (2019), Harpia (2020), Ritos Encantatórios y Outras Ladainhas (2021), Abecedário Lírico (2022), e Aldrava (2024). Há também textos de sua autoria publicados nas antologias: Escritoras Negras Brasileiras (Org. Jarid Arraes), Horizonte Mirado na Lupa (Org. Lau Siqueira), Engenho Arretado (Org. Amador Ribeiro Neto) e Um Grande Dia para as Escritoras (Org. Giovanna Madalosso).
Poemas de seu mais novo livro “Aldrava” (TRILUNA, 2024)
ALDRAVA
Hoje,
gostaria de ter escrito um poema sobre esperança,
mas não me veio a passagem
Restou-me apenas a ossatura deste poema e
a graça de imaginar como ele continuaria
sem mim
(Fecho os olhos)
Imagino o rádio de Vó Rosa anunciar um boletim de guerra.
Por que a história se escreve com sangue e a memória vira pó?
Arqueólogos do discurso escavarão o fóssil do poema,
deitado em posição fetal,
sobre as ruínas de uma língua antiga.
VINGAR II
Se há na língua, além do sentido
o gosto da palavra
que se bebe derramada
num sussurro
Se a luz turva e há nos meus versos
serpentes adornadas com escamas-nomes
gatos negros suicidas a saltar ágeis sobre os automóveis
A minha palavra é um parapeito
este corpo bélico-poético
é um precipício irrefreável
Se há nos ossos a certeza de memória,
e se são eles os últimos registros da barbárie,
quanto tempo demora até que
a porosidade deste tempo nos consuma?
Esse meu desejo secreto de inumar tudo
é um ritual, uma prece, uma confissão de fé
é o desejar herbário de querer que tudo ao meu redor
(se) vingue.
POEMA RUPESTRE
Hei de polir a linguagem e precipitar gestos,
das palmas das minhas mãos
tiritará o fogo que crepitará à noite
Dançando ao redor do fogo,
fincarei os pés no pó dos séculos
fecundarei a língua
Hei de sangrar,
e com este mesmo sumo
inscreverei cavernas nas paredes da linguagem.
CABIDELA
Por que você chora mais alto
e soluça sem fôlego
[tão mais triste
você fica]
quando é
de gente branca
o sangue que suja
páginas de noticiários?
BALACLAVA
Mãe é linha de frente,
peito nu em zona de guerra
Útero, músculo-bunker
rarefeita câmara sanguínea, punho em riste
Território elástico
feito de travessias.