Uma Nova Estação Chamada Surrealismo

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Enrique de Santiago (Chile, 1961) é poeta e artista plástico, ligado ao Surrealismo. Foi um dos criadores do grupo Derrame, e editor de sua revista homônima. Tem produzido exposições de homenagem ao Surrealismo e publicado ensaios sobre o tema em diversas revistas internacionais.

Artigo traduzido ao português por Floriano Martins.

Ilustração/ colagem: “a poeta aguça os sentidos” da artista Lia Testa


O Surrealismo é um movimento que vai mais além de uma determinada demarcação formal ou história – na qual insistentemente a academia trata de situá-lo – e por isto mesmo se mantém em um nível constante de verificação e mudanças – sem perder sua essencialidade que provém da alteridade –, demonstrando desta forma uma inacabada atualidade, mesmo quando uma numerosa parte da crítica, em geral, o assimile apenas em termos de um ismo a mais entre muitos outros, ou que reitere uma data de vencimento que nunca houve, seja porque resulta incompreensível para as leis da estética ou do historicismo clássico – o que em geral demarca certas dinâmicas como resultante para um ou outro momento histórico, sem entender que tais efeitos podem se manter sustentáveis quando mudam as condições do entorno que os criou –, com o que aqui dissemos é possível deduzir que este movimento, sem a menor sombra de dúvida, não é canonicamente assimilável. Hoje, com a próxima abertura de uma nova exposição internacional do surrealismo, se comprova esta tese, e com a nova exposição surrealista na Costa Rica se abre um novo capítulo nesta longa história de fatos e sucessos sob as constelações que iluminam o caminho do maravilhoso.

É conhecida por todos a importância que deve, dentro do movimento sociocultural internacional, o surgimento do Movimento Surrealista no ano de 1924, liderado por André Breton, que faz sua aparição pública com o comentado Manifesto Surrealista. Anos depois este movimento nascido a partir da cisão do Dadá, conseguia um vigor e uma influência no mundo das artes e do pensamento pouco visto em nosso século, já que é inegável sua influência no mundo plástico-literário e das ideias, com sua notável marca nos processos de transformação socioculturais. Este último traço é pouco comentado, ou mesmo omitido na hora de se referir às ações do Surrealismo ou ainda enquadrado apenas no processo dos diversos processos culturais (ideias que se referem à alta cultura ou ao pensamento social, excluindo o político), por exemplo, a resistência levada a termo pelo movimento ante a presença abusiva da burguesia e sua própria ideologia capitalista que afeta o desenvolvimento do devir do ser humano a partir de um olhar do avanço da justiça social – sobretudo em sua fase de desenvolvimento, do século XX em diante –, momento em que as expressões de dominação por parte do capital são acentuadas com maior vigor, propiciando uma maior contradição entre as classes sociais, das quais só reconhecemos duas: a dominante e a oprimida. Neste sentido se quis dar ao Surrealismo apenas uma influência a partir do estético, porém esta demarcação não é tão exata, uma vez que, a pintura e a literatura, são para os surrealistas unicamente veículos para a manifestação de suas ideias, as quais promovem a divulgação do conceito de libertação do inconsciente para aceder às transformações esperadas pelo ser humano desde séculos de obscurantismo e opressão. É por tais meios que seu propósito final, a transformação do mundo – via transformação do indivíduo –, cobra nesta apresentação sua essencialidade. Neste sentido, o movimento se propõe ante o orbe como um fenômeno essencialmente antiestético, e antimoralista – desde a perspectiva da moral burguesa – onde a imagem – escrita ou formal – é apenas um meio de expressão deste inconsciente reprimido, a imagem é isto, e não um fim para adornar os museus, servir de objeto decorativo, ou uma moeda de troca dentro dos processos mercantis dos grupos de consumo dessas mesmas classes sociais que se combate. Assim é como se expressa na frase de Breton: “Transformar o mundo, mudar a vida”, fazendo alusão a Marx e Rimbaud, ou como suas afirmações igualmente alusivas a este tópico em A revolução acima de tudo e sempre, de 1925 (Declaração dos surrealistas junto a outros grupos de intelectuais, entre eles os marxistas da revista Clarté): “Não somos utopistas, esta Revolução somente a concebemos sob sua forma social”. Aqui claramente se situa o Surrealismo não como um experimento unicamente para remexer os processos intelectuais, sua clara intenção vai mais à frente, considerando ser um veículo libertador para o homem e uma via de solução para todos os problemas que o afetam.

O ser humano não pode seguir sujeito às correntes que o prendem a um sistema que não lhe permite libertar-se, e que não contempla ou exercita meios sociais de justiça. Esta é então a ocasião em que Surrealismo e surrealistas devem tomar um rol mais ativo e participativo no desafio de propiciar tais mudanças. Hoje em dia é o neoliberalismo como instrumento superior de dominação do capitalismo que tem acentuado, aperfeiçoado e multiplicado seus tentáculos opressores, neste sentido somando e incluindo a ação em conjuntos de seus meios de comunicação alienantes, a partir da saturação de informação nos diversos meios. Podemos igualmente constatar a manutenção dos diversos aparatos coercitivos, os quais possuem uma maneira muito sutil de operar, onde não se exclui a cooperação de referidos meios de comunicação como complementares destes últimos, assim é como se legitima a repressão sistemática, ao nível de uma estrutura de rede policial nas diferentes nações, à qual se soma o medo originado pelo onipresente fantasma da inatividade. Estes fatores têm provocado nos assalariados um estado de resignação e automarginalização nos meios de luta que foram tradicionais por parte das classes oprimidas para aceder a novas conquistas – as que se deram de maneira natural ao final do século XIX e na primeira metade do século seguinte, refiro-me aos sindicatos e organizações sociais de base etc. A pós-modernidade provocou mudanças substanciosas na sociedade, gerando um cenário distinto daquele que conheceram os primeiros surrealistas, o ser humano já não busca seu benefício de maneira coletiva, seu horizonte agora é individual, e com o transcorrer de cada década as condições sociais vão mudando e se liquefazendo, mudando seu aspecto, dando a este estado uma aparência líquida, parafraseando a Z. Bauman. Porém com respeito ao que em termos substantivos se refere, ou seja, a insistência de submeter o ser humano e, por extensão, sua necessidade de rebeldia, se mantêm inalterados desde o século passado.

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Os surrealistas não estiveram alheios a estes acontecimentos relevantes desde sua aparição em cena. Em 1927 seus principais dirigentes, incluindo o próprio Breton, ingressam no Partido Comunista Francês, para participar dos projetos de mudança que este propiciava para a sociedade inteira, porém já em 1930, as políticas de Joseph Stalin, condutores para manipular as ações culturais com a finalidade de falsear as condições de liberdade, somadas à sua política do terror nas repúblicas soviéticas, terminaram por decepcionar os surrealistas. São os anos em que se instaura o chamado “Realismo Socialista”, que não deixa espaço para a busca de novas alternativas de expansão da liberdade e da revolução, quando então se acentuam as diferenças e se produz uma irreversível distância que irá gradativamente provocando o afastamento dos surrealistas deste partido político. Então a esperança de novas e reais possibilidades de mudança para as massas oprimidas se veem diluídas.

No entanto, os surrealistas seguirão apoiando toda intenção libertária, e de igual maneira rejeitando acima de tudo o surgimento de regimes totalitários, como no caso do fim da República na Espanha, durante a segunda metade dos anos 1930, com a condenação dos surrealistas ao aparecimento do terror franquista. Neste sentido, tendo aqui como exemplo, as constantes proximidades de Dalí com as novas autoridades de turno, e seu servilismo à burguesia e à monarquia, fazem com que seja expulso do movimento em 1919, já que havia desenvolvido uma conduta de ambições próprias contrária aos princípios surrealistas. Dalí havia sido seduzido pelo dinheiro, somado à sua aproximação do poder, da fama, e de tudo aquilo que cheira a conservadorismo. Era conduta incompatível com uma atitude verdadeiramente revolucionária, talvez Dalí fosse apenas um artista com talento, que viu na pintura um meio para alcançar tais propósitos, porém sua parte surrealista desapareceu e foi tentado por tudo aquilo que continha aspectos em direta oposição ao Surrealismo. O fato de haver integrado o movimento em seu início, foi talvez um acidente ou uma manobre de seu já reconhecido oportunismo, não me deterei aqui em fazer uma análise inconsequente neste sentido, porém o que está claro é que o surrealista já não habita em sua forma de ser, e não podia seguir sendo chamado como tal – não em vão Breton o rebatizou como “Avida Dollars” – e invocando os princípios surrealistas o pintor foi expulso do movimento, dando claras mostras de que não há meias tintas no seio revolucionário do Surrealismo.

No início da Segunda Guerra Mundial a ameaça da dominação nazifascista faz com que muitos dos surrealistas europeus viajem para a América, onde teriam contato mais profundo e próximo com seus pares no novo continente, e a partir daí se nutrirão do imaginário novo que oferece uma cultura ancestral, a que pode revitalizar e dos pontos coincidentes com o proposto pelo velho continente e que também teve um olhar para continentes milenários como a Oceania. O Surrealismo confirma sua posição internacionalista e sua inspiração em uma sabedoria ancestral comum. É quando as ideias propostas a partir de uma raiz antiga cobram maior vigor. Esses são os anos em que vem à luz Arcano 17, uma das obras literárias de maior luminosidade de Breton. Há então uma febril discussão em torno das opções do movimento e surgem opiniões e textos que permitem ir em busca de uma afinada política para responder aos anos de pós-guerra.

A Revolução de Maio de 1968 trouxe novos ventos de transformação para a sociedade e os surrealistas participaram daqueles dias, e sentiram em tais fatos uma oportunidade única para desdobrar toda uma ação em defesa das transformações esperadas. O mesmo ocorre naquele ano na “Primavera de Praga”, e sucessivamente em todo surgimento de fatos que contenham ventos de mudança ascendente.

O compromisso libertário é um sine qua non, é a seiva para que o Surrealismo se mantenha vigente até hoje, já que esta condição é como a linfa do movimento, e tem sido sua constante até o presente. Por isto mesmo gera a resistência da parte de outras posições que aparentemente se veem próximas, como a de outros grupos de ideologias revolucionárias, porém por sua vez à diferença do Surrealismo, já que estas outras possuem uma linha política mais dogmática. Por outro lado, a partir dessa outra vereda é evidente a rejeição, por parte dos grupos conservadores-reacionários, onde toda atividade suspeitosa de propor mudanças é vista com olhos inquisidores (fazendo alusão também ao trabalho solapado de um importante setor da igreja católica). Tanto a burguesia quanto seus aliados buscam a permanência do Status Quo, e um modo de não alterar as formas socioeconômicas. Neste sentido, os surrealistas, ao sustentar seus princípios e ser fiéis a eles, despertam a apreensão e a antipatia de ambos grupos antagônicos, mantendo-se nesta mediania, flanqueados pelos dois bandos em pugna.

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Como mencionava anteriormente, é desconhecida para muitos a sobrevivência do Surrealismo até nossos tempos, ignora-se que muitos grupos surrealistas – inclusive o de Paris – prosseguiram com sua atividade sem interrupção durante as décadas passadas. Porém o que é mais notável, é o ressurgimento do Surrealismo nestes últimos lustros (de uns quinze anos para cá), com uma força imprevista, onde talvez seja pertinente dizer que surgiu com maior força que a vivida no primeiro quartel do século XX. Neste sentido, em diversos pontos do mundo, tem sido os grupos surrealistas os que retomaram uma febril atividade no que diz respeito a publicar revistas que tomam o pulso do maravilhoso sem deixar de lado os aspectos de insubmissão às questões sociais que nos dizem respeito e importam, o mesmo sucedendo com as exposições internacionais do surrealismo, seu surgimento obedece a que nunca os surrealistas estiveram ausentes, talvez, poderíamos dizer que apenas reduzidos em número durante um lapso limitado de tempo, porém hoje sua presença é mais palpável, devido à adesão de novas gerações e ao surgimento de meios novos de propagação de informação, como a Internet. O motivo deste fenômeno claramente se deve à falta de respostas e oportunidades dadas pela cultural neoliberal imperante, difundida com força a partir dos anos 1980, onde se pretendeu difundir unilateralmente apenas uma ideia, baseada em um pensamento positivista de ver o mundo, a que responde a condutas de consumo baseadas na estimulação da superficialidade e do individualismo, que se nutre na relação simbólica que representa os objetos apropriados ou consumidos, como o fim último de sua existência. É no êxito ou logro próprio no qual se sustenta esta forma de vida, o que faz com que esteja condenada ao fracasso, já que vem deixando de lado a busca do bem-estar coletivo, o encontro com a sabedoria interna, e o cuidado com a biodiversidade que nos sustenta, todos estes últimos elementos significativos para poder ter uma vida harmoniosa e sustentável.

O mundo clama por encontrar algo mais além nesta vida, e o surrealismo, de igual modo que em muitos períodos de crises passadas, ressurge como uma visão da busca interior que se oferece através de muitas vias como uma maneira de nos reconhecermos como essencialidade. Ali estão então os sonhos (o onírico), o animista, o xamânico, a arte dos médiuns, a cultura dos videntes, a metafísica, o lúdico, o absurdo, a suprarrealidade toda, mais real do que a realidade, e mais sábia, para dar entendimento e luzes para a libertação humana, a que foi deliberadamente ocultada durante séculos por aqueles que privaram a todos do conhecimento primogênito e dos sofismas, em favor de seus próprios e mesquinhos interesses.

É, portanto, importante reconhecer todas as partes envolvidas em nossa construção como seres desta parte do mundo, e é aí onde podemos tomar ou colher os ensinamentos anteriores, e apoderar-se da magia que nos circunda, o animismo que é praticamente endêmico destas zonas do globo, o espiritismo xamânico possuidor das chaves para os muitos planos astrais, a sapiência das etnias originárias e outros povos extintos, com uma conexão única com os cosmos. Em tais fenômenos dito animistas, e em particular no trabalho de alguns surrealistas desta geografia, poderemos tocar em uma futura análise, porém para o momento nos cabe fazer menção que os caminhos da surrealidade não estão mortos, pelo contrário, eles se multiplicam, porém devemos perceber que são nestas latitudes e especialmente na América Latina, onde colhemos o que nos pertence, e, por fim, lhe damos um sentido completo e autêntico, onde um novo capítulo acerca da exploração dos mundos desconhecidos e oníricos, sejam um novo e apaixonante manifesto do mundo da cultura e do social, e nesse sentido as necessidades e urgências que surgem das novas expressões de um capitalismo que fagocita os habitantes de toda a latitude que surge em toda a extensão de nosso século se mostra como clara, ou seja, agora é o tempo de nos rebelarmos!

É comum dizer que toda manifestação de vida provém de uma única fonte ou emanação de causalidade, na qual se circunscreve desde cada pequeno átomo até o universo inteiro. Desde as partículas subatômicas até as mais gigantescas galáxias (as mega galáxias), todos em forma simultânea e precisa desde o mais ínfimo até a totalidade imensa, são o “todo único”, de maneira que existe em uma não-existência, que se revela como em uma negação para afirmar-se, é uma dualidade que o unifica, a matéria e o espírito são parte de um todo interativo, como o espaço entre os raios da toda que lhe permitem que gire e possa ser e ter uma função como tal, assim provocando, em cada giro de seu trânsito um quantum que ao simples olhar se torna imperceptível, o mesmo sucede com o universo, segundo se manifesta na mecânica quântica, onde há um lapso em que se produz uma não-existência breve e imperceptível da matéria. Esse mundo por descobrir é a fonte do verdadeiro progresso, o caminho apropriado para endereçar nossas condutas individuais e coletivas. Um novo passo adiante, ou um retomar dos antigos passos arrasados há cinco séculos pela conquista.

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Estes indícios apontam as rotas a seguir, uma vida em harmonia com o entorno, o que hoje se denomina como economia sustentável, a sábia administração dos meios econômicos, da justiça social, de uma vida para um verdadeiro desenvolvimento humano, afastado da falsidade do mal chamado progressismo, já que o progresso é visto somente de um plano tecnológico, prático, e que se difunde dos altares daqueles que predicam este sistema como a solução de todos os males, onde a vida é um negócio, uma oportunidade de elevar cifras na bolsa comercial, uma vida útil, porém para o mercado. Nós, em troca, a vemos de uma perspectiva profunda, desde o interior do ser, o mundo do inconsciente, a verdade desdobrada sem morais torcidas ou ataduras que impeçam a viagem a caminho da verdade ignota. É aqui onde insisto que ao nosso lado encontramos as fontes para nutrir nosso verdadeiro desenvolvimento, e é aqui onde nosso imaginário se confronta com um olhar preso de um assédio midiático, com outro que nos propõe algo “aparentemente novo”, uma vez que afinal é de uma carga de milhares de anos de conhecimento e desenvolvimento espiritual.

Existe uma contraparte que demonstra sua vigência, numerosos grupos surrealistas em distintos continentes que organizam exposições, editam revistas e mantêm uma adesão total aos princípio do surrealismo, e que continuam experimentando com muitos dos recursos propostos por este movimento intemporal: a grande articulação entre literatura e plástica, o contraste entre o verificável, o concreto e o enigmático e invisível, a revelação de coexistências e de uma alteridade desconhecida, assim como a transferência de conteúdos provenientes do inconsciente etc. Há também que destacar que sua propagação por distintos lugares do mundo tem sido vista como uma urgência de estabelecer adeptos, quase com uma vontade política, mas na verdade pensamos que se deva fundamentalmente ao fato de que tudo o que propõe resulta tão afim de qualquer impulso humano por buscar o desconhecido ou de uma natural indagação criativa, de modo que por esta razão tem sido o ismo de maior influência na história da arte durante o século XX e creio que durante os séculos vindouros.

O Surrealismo é um dos movimentos mais influentes do Século XX até nossos dias. Os historiadores da arte consideram uma das correntes vanguardistas da primeira metade do século XX e, desde seu ponto de vista, esta já se encontra morto há mais de 40 anos, o que acaba por nos levar a muitos outros mal-entendidos em torno do Surrealismo, sendo este um bom momento para aclará-los. De certa forma, ao percorrer suas origens, vemos que este momento baseia sua força em uma formidável herança, sendo bastante revisar aqueles pensamentos que o influenciaram, como a alquimia, o hermetismo, as ciências ocultas, o romantismo, o simbolismo, as ideias políticas revolucionários ou os cultos primitivos, para citar apenas alguns.

O Surrealismo, mais do que nunca, se converteu em uma necessidade para o espírito ante a realidade crítica de seu entorno. O ser humano hoje se volta para o crescimento próprio da alma, e não para o êxito banal e improdutivo de uma vida repleta de objetivos vazios. Assim, de igual modo que naquele distante ano de 1924, o surrealismo irrompe de modo vigoroso para apresentar-se como uma filosofia alternativa, que dá luzes para um estado de liberação a partir do conhecimento desde o eu mais interno e profundo.

O surrealismo em todos estes 91 anos de vida jamais esteve morto, sequer envelheceu, e, ao contrário de outras correntes, se manifestou em cada década, em cada lugar, com um vigor renovado. Neste sentido as exposições do surrealismo tem sido o momento e lugar onde este movimento se reúne, reconhece e compartilha suas ideias, sendo até esta data várias manifestações que mantiveram viva a flama da iluminação a partir dos sonhos. A primeira destas manifestações sucedeu em 1935 com a Exposição Internacional do Surrealismo em Tenerife, no Ateneu de Santa Cruz de Tenerife, e logo em seguida Den Frie Bygning em Copenhague. Seguiram-se:

1936: New Burlington Galleries, em Londres.

1937: Galeria Ginza, em Tóquio (depois levada para Osaka, Kyoto e Nagoya).

1938: Galeria de Belas Artes, em Paris (organizada por Breton e Eluard), assim como também na Galeria Robert, em Amsterdã.

1940: México, na Galeria de Arte Mexicana.

1942: The first papers of surrealism, em Nova York.

1947: Galeria Maeght, em Paris.

1948: Exposição Internacional do Surrealismo, em Praga, assim como na Galeria Dédalo, em Santiago (Chile).

1959: Eros, na Galeria Daniel Cordier, em Paris.

1960: Surrealist Intrusión in the Enchanters’ Domain, en Nueva York.

1961: Galería Schwarz, em Milão.

1965: L’Ecart absolu, Gallérie de l’Oeil, em Paris.

1967: São Paulo (Brasil).

1976: Marvelous Freedom/Vigilance of Desire, em Chicago (Estados Unidos).

2008: El reverso de la mirada, em Coimbra (Portugal).

2009: El Umbral secreto, em Santiago (Chile) – em 2010 é levada também para Chillán, Antofagasta e Valparaíso.

2012: Toward the world of the fifth sun, na Pennsylvania (Estados Unidos).

2013: Creados por Amor, Azeret Art Gallery, em Praga – por todo o ano de 2014 percorre outras cidades da República Checa.

2014: Liaison Surréaliste à Montreal, Galería Espace, em Montreal (Canadá).

Uma nova estação será a Exposição Internacional do Surrealismo As chaves do desejo, na Costa Rica. Então agora nos resta somarmo-nos à revolta, incendiar as velhas leis e normas, levar ao paredão os que há séculos têm abusado de nós e fuzilá-los com poesia, pois certamente seus ouvidos rebentarão juntamente com suas barrigas de Ubus. Como bem disse Franklin Rosemont: algum dia Bugs Bunny vencerá em todas as partes do mundo, os Elmers serão derrotados e todas as cenouras serão nossas.

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