Alê Motta nasceu em São Fidélis, interior do estado do Rio de Janeiro. É arquiteta formada pela UFRJ. Participou da antologia 14 novos autores brasileiros, organizada pela escritora Adriana Lisboa. É autora de Interrompidos (Editora Reformatório, 2017) e Velhos (Editora Reformatório, 2020). É colunista da Revista Vício Velho.
O chefe era do mal. Mandou dois peões juntarem todos os gatos que ficavam zanzando pela obra do shopping, amarrar cada um deles, enfiar num saco e jogar morro abaixo.
Eles demoraram a tarde toda pra cumprir a tarefa porque tinha gato de todo tipo e por todo lado. Um dos peões era malvado igual ao chefe e cumpriu a tarefa sem culpa. Mas o outro era bonzinho, ficou assombrado e quase chorou com aquele monte de gato miando embolado no saco resistente – pra aguentar as unhadas.
Quando jogaram os gatos morro abaixo, o saco sumiu no meio do matagal. O peão mau foi embora sossegado e o peão bonzinho decidiu ser mau.
Na manhã seguinte encontraram o chefe amarrado na cadeira do escritório, dentro de um saco gigante, quase morto, com falta de ar. O peão bom nunca mais apareceu. O peão mau continuou sossegado.
Acho que o peão bom resolveu ser melhor, Alê Motta.
Saborosos, seus minicontos.
Para mim, justiça é o tema desse conto.
Saber construir contos breves é uma arte. Parabéns.