Trocando uma ideia com Ricardo Imperatore

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por Aristides Oliveira

foto: arquivo pessoal

Ricardo Imperatore faz parte daquele restrito grupo de Djs autorais que toca um repertório único com um balanço próprio da perfeita fusão entre a música brasileira e mundial com beats globais. A partir de 2000 que Imperatore desenvolve o projeto BOTECOELETRO. Influenciado pelas diversas vertentes da música brasileira e mundial, do pop ao folk de raiz, passando pelo erudito, e valeu a BOTECOELETRO o Prêmio de melhor álbum eletrônico de 2005 nos Prêmios da Música Brasileira.

Quando você ligou os botões e decidiu ser DJ? Quais foram os enfrentamentos iniciais que passou até chegar aqui?

Ligay os botões quando vi que não só havia mercado pra um musico e produtor  exercer Djing, como também poderia ser divertido e inovador pra minha carreira.

O ofício do DJ é marcado pela construção sonora a partir das mixagens e releituras. Como você trabalha seu repertório através da denominação “autoral”?

Produzindo minhas próprias releituras e versões além de fazer, ao vivo, intervenções musicais performáticas.

Quantas histórias interessantes e aprendizados pode compartilhar conosco no período que realizou parcerias musicais com Marisa Monte, Man At Work e Titãs?

As interessantes são volta de 1789 historias.

E o BOTECOELETRO? Como é realizado o processo criativo para construção do repertório, levando em conta a ampla diversidade de estilos que você pesquisa?

O Boteco sempre abre pra tudo que me comove, move e emociona. Ou seja, ouvindo músicas que me tocam.

Os ouvidos captam, mandam as “info” pro cérebro e este, por sua vez, pro coração. Daí eu sei que aquela, é uma música que quero, respeitosamente, meticulosamente, mexer e tentar ficar, no mínimo, tão linda quanto sempre foi.

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Pelas suas andanças no mundo espalhando a sonoridade brasileira, como compreende a percepção do público em relação a nossa música? É um consumo passivo-festivo ou existe interesse em aprofundar sobre nossas particularidades?

 Diria que é ativo-festivo. Diria que o público gringo (de todas as partes do mundo) é interessado e curioso e aberto de uma forma que nos brasileiros não somos. Eles são menos dominados pelo mainstream do nosso povo.

Prêmio TIM 2005

Em tempos de restrição social e impedimentos sanitários nas aglomerações, o que andou articulando para seguir com seu trabalho, diretamente voltado a eventos reúnem muita gente para dançar?

Pelo contrário. Aconteceu algo que eu desejo há tempos. Aconteceu de me chamarem pra produzir trilhas musicais para audiovisual. Cinema, no caso.

De alguma forma essas músicas reuniram muita gente. Não para dançar. Mas pra viajar, certamente.

Você acompanhou a “evolução” dos modos de ouvir música ao longo da sua carreira. Seja através do vinil, fita K7, CD, mp3 até as plataformas digitais. Que leitura é possível fazer sobre os hábitos de experiência do(a) ouvinte com os suportes que estão disponíveis? O que mudou no consumo da música com a chegada dos novos formatos de acesso?

Mudou pra pior. Mudou para o imediatismo. Mudou para o consumo superficial. Mudou para “ouvir 5 segundos  e pular pra próxima”.

Por outro lado, há muito mais chances de se estar em um lugar e ouvir música “em harmonia com o ambiente”, desde quem faça a playlist tenha um mínimo senso estético.

Ainda assim, pra quem produz, esse consumo digital codificou por baixo o trabalho que fazemos. As plataformas pagam uma ninharia por nosso trabalho.

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Democratizou? Claro. Caiu o nível de qualidade artística? Enormemente.

Quais são as referências que marcam sua formação de DJ? Que álbuns/artistas não podem faltar na rotina de criação musical?

Olha como são as coisas… Em contraponto ao que disse não outra resposta, o mundo digital é como um milagre para a pesquisa e elaboração do trabalho.

Tenho grande dificuldade de responder as referências que marcaram minha formação de DJ. Sabe por quê? São milhares. E todos os santos dias aparecem novas…

boTECOeletro Vol. 2
boTECOeletro-Coconutzmass

Em relação à música brasileira contemporânea, qual sua avaliação sobre as produções em andamento em termos de potência criativa? Através da sua experiência como produtor, artista e ouvinte, como está nossa fase musical nos últimos anos? Que nomes são representativos no cenário e como esse diferencial pode ser percebido pelo público?

Produção da música brasileira contemporanea: 90% rasa e massificante e repetitiva, e ruim.

Por um lado a produção contemporânea tem muita qualidade técnica. Por outro, em outros aspectos, artística, melódica, harmonicamente… Letras então…

E claro, há 10% de maravilhas sendo produzidas.

Esses 90-10, isso é  uma aproximação intuitiva da minha percepção . Como circulo muito, seja de corpo presente, seja na internet ou TV, a quantidade de música ruim que percebo sendo tocadas por aí, é muito maior.

Sou essencialmente um cara popular. Digo, ando por onde andam as pessoas, os populares. Do boteco pé sujo ao clube ‘chic’. Ando pelas ruas. Falo com todos nas ruas, saldo os garis da limpeza pública. Saldo o pescador e o vendedor de hortaliças. No boteco converso com os locais (de Búzios, no momento). Falo sobre tudo com as pessoas. Inclusive sobre música. E… falo minha opinião. Hehehe… De vez em quando a chapa esquenta.

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