3 Poemas Óscar Ferreiro (Paraguai, 1921-2004)

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Óscar Ferreiro, poeta paraguaio, nasceu em 1921 e morreu em 2004. É considerado um dos maiores expoentes da poesia de vanguarda em seu país. Dramaturgo e ensaísta, representou a tendência de vanguarda em que se destacou sua excelente tradução de clássicos franceses como Rimbaud, Apollinaire, Éluard e Prévert. Em seu longo trabalho cultural, ele se dedicou com grande interesse às tarefas antropológicas. A sua constante atuação campestre lhe deu a oportunidade de conhecer a fundo seu país e dar corpo a uma interessante série de “compostos”, poemas narrativos transmitidos oralmente que se relacionam com romances espanhóis. Radicado na Argentina por diferenças políticas, suas obras mais importantes incluem Poemas (final dos anos 1970), Antologia (1982) e uma de suas últimas, El gallo de la alquería y otros compuestos.


BALDIOS

Eles comeram os solos
e emporcalharam as águas
com sal amargo saturaram o mar
sal do suor infame
sal das lágrimas dos escravos
sal dos explorados
concentrado e amaldiçoado em um mar morto.

Tudo está pisado e sujo
Ai da terra saqueada!
Agora sabes de fome
e outras coisas sórdidas como o homem
traída
como o galope seco dos cascos
sobre teu ventre estéril
ou os discos cortantes da morte
tatuando ferraduras em teu peito.

Teu túmulo está na areia
profanado
com mil potes quebrados e alvejantes
e este rancor taciturno que nos apodera
na borda do deserto nos tempos
com este coração que está morrendo
como um companheiro rápido em sua amargura.


VERTIGEM

Era o ponto – não vértice – não sombra
ele não era
era o espaço – em sua dor baldia
ele não era
era o sem nome – sem número – à margem
ele não era
era o ponto – não vértice – não sombra
ele não era
até a onda – o mundo – até o nada
ele não era
até as três – a ponto de morrer.


VOO

Porém um branco tão branco
histérico de sem manchas
polariza os cometas azuis
com magnéticos dedos revelados.

Aeroplanos perdidos
paralíticos pássaros do céu
despertando a selva
com prateados presentes.
Cruz celeste voando
sobre o osso aberto deste mundo
cortando os arames do silêncio
para extinguir os fogos do espanto
para acalmar a fome dos partidos
para apagar os focos de revolta
para enterrar o vômito e o pranto
de tanto povo sujo.

A tribo entoa
então
subida na montanha
a canção da tumba
miserere!
com pupilas vítreas
cravadas no alto
resignada a morrer
sem remédio.

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