6 Poemas de Ieda Estergilda de Abreu

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Ieda Estergilda de Abreu, poeta, cronista, narradora. Autora de Mais Um Livro de Poemas, Grãos-poemas de lembrar a infância, A Véspera do Grito e O Jogo do ABC (para crianças).


NARDJA

A que me pegou pela mão e me jogou pela escada em espiral, eu que encontrasse a saída no fundo dos olhos.
Ela não podia estar ali só para entender, enquanto lágrimas de sargaços molhavam os pés da moça da estátua na noite do Sena, na noite de todos os rios do mundo.
O rio que corria ao contrário e a massa de óleo amedrontavam barcos que voavam pelas mãos de homens fugidos da moça em chamas.
Ela que não parava em lugar nenhum, por mais que seus segredos e símbolos pesassem como asas não resolvidas.
Seus passos eram plumas, mas deixavam marcas do gelo que lhe corroía, o aconchego se perdera no sonho, no rio que não voltava, não seguia, o rio difícil.
O café mais próximo parecia um barco perdido no mar de brumas, neons e olhares se diluíam, pálpebras repousavam nas janelas.
O encontro do dia seguinte já acontecera, sobrava tempo, dizia, suspensa nas próprias sensações.
Transparentes setas de chuva anunciavam a estação das formigas, das vespas e de meninos perdidos.
Muito antes que amanhecesse, ela fincou nos olhos estacas de luz.


ENCONTROS

Marquei encontro com Rimbaud, Piva, Elliot, Mário de Andrade, Pagú, em algumas esquinas do mundo próximo e distante, dentro e fora dos meus domínios e limites. Luzes brancas me guiarão em noites e becos, sombras e perfume de jasmim. O medo me paralisará nas ladeiras, nos neons, mas seguirei sorrindo no escuro, guiada pelos olhos dos gatos fiéis. Até enxergar o arco-íris, tenho suas cores gravadas. Em leito de folhas secas descansarei do cansaço da espera nas esquinas que viraram nuvens, pelo encontro com Rimbaud, Piva, Elliot, Mario de Andrade, mais Pessoa e Baudelaire. Todos brincamos o jogo do esconde, do onde, ande, esqueça.


GATO DE PAPEL

O gato miou, miou, deu voltas ao redor dele mesmo e foi para o canto
da página, uma página azul com estrelas que tinham escapado da noite.
Um sol, desses que aparecem nos desenhos, riu para o gato que fosforeceu, piscou para a luz que entrava pela janela da página,
depois continuou quieto no seu canto.


A CARNE

é uma metáfora
seja viva, seja morta, transita.
A carne arde e esfria com o toque
uma hora tudo para com a carne
e recomeça.


NUVENS, CENAS

O lobo e a princesa correm pelo céu
um trem cruza o azul
na mais alta e volátil velocidade.
O lobo corre, a princesa desfalece e desaparece
na sombra da nuvem
o vento forma icebergs de luz.


COMENTANDO EDGAR ALAN POE

Era só um corvo bicando na janela fria
ele que desconhece qualquer lado de dentro
ele dos ares ancestrais
o que se dissolve na noite,
um corvo como se fosse uma mulher
a dizer para um homem: nunca mais.

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