por Aristides Oliveira e Demetrios Galvão
Conhecemos Bernardo há muitos anos e sempre estamos trabalhamos juntos, pensando e fazendo as coisas acontecerem, através de parcerias entre Acrobata e Quinta Capa. Ele é um agitador cultural, editor, artista visual, criador e articulador do que temos de mais interessante no Quadrinhos em Teresina (pacote completo) e movimenta vários eventos na área.
Impossível falar do assunto no Piauí e deixar seu nome de fora, porque a história dele se confunde com sua própria arte e ofício. Sua livraria especializada em quadrinhos completa 10 anos e só temos a comemorar. Em tempos de Amazon, ser livreiro é resistência. A conversa foi boa. Dá uma sacada.
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Retomando as origens: qual revista te despertou para o universo dos Quadrinhos? Como foi esse encontro?
Não lembro de uma em particular que tenha manifestado isso. Como sou o mais novo de 3 irmãos, eles, provavelmente, começaram a ler primeiro que eu. E todos nós líamos e tínhamos uma caixa onde guardávamos nossa coleção. Eventualmente, lia infantis, como Disney e Turma da Mônica, mas nossa caixa era cheia mesmo era dos formatinhos da Abril de super-heróis. Lembro, especialmente, de uma época em que gostava bastante da fase chamada Hulk na encruzilhada.
Me marcou muito uma dessas histórias em que o Hulk vive com um ser parasita preso em suas costas, com quem ele precisa aprender a conviver. É uma história triste, porque o monstro acaba morrendo e o Hulk chora, como se tivesse perdido o único amigo. Era uma edição, provavelmente de 1988, e eu era uma criança de apenas 6 anos, mas aquilo já teve o poder de me marcar.
Hoje eu entendo que era o tipo de história onde o gigante esmeralda era muito mais que uma simples massa demolidora que grita “Hulk esmaga!” e que o gibizinho mensal de super-herói pode falar muito mais do que aparenta. Talvez, mesmo sem esse discernimento na época, esse tenha sido um motivo que tenha começado a me prender no mundo dos quadrinhos.
Você se envolve com produção e edição de vários artistas visuais. Que desafio você enfrenta para materializar esses projetos, numa cidade com circuito restrito de leitor_s disposto a pagar por um produto cultural?
Primeiro, existe um desafio pessoal de organização e de produção. Dentro da esfera profissional existem dois cuidados principais: a livraria e a produção de quadrinhos. Por um lado, sou um comerciário que vende revistinhas, pelo outro, sou um produtor cultural que procuro editar a mim mesmo e a outros artistas. São duas coisas muito diferentes, mas que interagem. Tudo é muito desgastante e eu procuro sempre ter meus momentos diários de lazer. Imaginem que estou nessa há mais de 10 anos sem saber o que são férias! No máximo, existe um feriado prolongado.
O catálogo da livraria possui quase 20 títulos e apenas 5 ou 6 nomes além de mim mesmo e do meu irmão. É pouquíssimo se você quer se apresentar como editora. A dificuldade agora é aumentar esse leque de nomes. Provavelmente, lançaremos um edital para receber propostas de quadrinhos.
Tenho falado com alguns autores, mas muitos ou se autopromovem ou já estão em contato com outras editoras. Estamos em um mundo onde, se você manja minimamente de edição de texto você pode mandar seu livro para a gráfica. Nosso desafio é mostrar que a livraria tem um histórico e canais de vendas que podem beneficiar o autor.
Posso dizer que em 10 anos de livraria, recebi duas ou três pessoas com vontade de publicar algo, seja um quadrinho ou um romance. Ou era algo ainda muito verde ou algo que não interessava entrar em nosso catálogo.
Falta, no Piauí, produtos maduros ou iniciativas abertas a longo processo de criação e edição. Entretanto, sabemos que existem inúmeros entraves para a produção deste tipo de material. Por isso queremos lançar um edital, que foque na cooperação mútua entre editora e autor, para que a gente possa produzir novos trabalhos a médio prazo.
Que análise você faz da contribuição do Núcleo de Quadrinhos do Piauí (NQ) para o cenário cultural de Teresina relacionado às edições da Feira de HQ?
Hoje eu vejo a Feira HQ como um grande catálogo de autores que incentivamos a construção. Não posso dizer (ainda) que, de dentro da Feira HQ nasceu um grande sucesso internacional da nona arte, porque sei que não depende só do NQ ou da feira que fazíamos, mas tenho certeza que o evento nos apresentou muita gente talentosa, que hoje está no mercado de trabalho, alguns dentro das artes outros não.
Por exemplo: Leno Carvalho, um autor que hoje já tem representatividade e vários trabalhos publicados no exterior, tanto no mercado norte-americano quanto europeu, não foi alçado a esta condição pela Feira HQ, mas tenho certeza que foi no nosso evento que Leno descobriu o que significa expor o seu desenho pela primeira vez, numa galeria de arte. Isso se repete com vários nomes locais que, além de descobrirem a importância da participação em um evento coletivo pela primeira vez, puderam ainda ser premiados ou publicados, também pela primeira vez, por conta disso. Acredito que isso conta muito.
Claro! E existe a esfera do público consumidor. Os leitores que visitavam a feira. Nosso evento pode reunir tanta gente e trazer tantos convidados numa época em que isso não existia em nosso Estado. Nosso evento teve alguns ineditismos: primeira exposição competitiva de quadrinhos, primeira vez que vários artistas e convidados vieram para cá, primeira vez que realizamos uma exibição de desenhos animados japoneses, primeira vez um dublador veio e fez uma oficina aqui. Enfim, histórico não apenas pelos ineditismos, mas por ter acontecido por tantos anos.
Imagens da Feira de Quadrinhos em Teresina (PI):
Você já trabalhou na Fundação de Cultura do Estado do Piauí. Como foi essa experiência de ser artista e vivenciar os bastidores da política cultural do Estado, atualmente cercada de polêmicas em torno dos editais “Aldir Blanc” e “João Claudino”, permeadas de suspeitas ligadas a favoritismos e aprovações de nomes que não se encaixam nas categorias indicadas?
Lembro do Albert Piauí comentando comigo, indignado com o fato de uma Fundação ter a mim, uma pessoa que já tinha quase 10 anos de Feira HQ de experiência, em seu quadro de funcionários e não ter me aproveitado e estimulado a promover um grande evento nesta área. De diversas maneiras, ele está certo, mas não totalmente.
O que quero dizer é que a FUNDAC tinha dificuldades de extrair o que tem de melhor de seus funcionários. Existia um calendário frenético de atividades a ser realizado e enorme escassez de recursos. Para uma das Feira HQ, que realizei durante meu período em que trabalhava na FUNDAC, o máximo que consegui foi ser liberado do trabalho durante os dias do evento. Não consegui passagens ou cachês para convidados ou mesmo recursos para as premiações.
Com relação a editais de cultura, imagine que a FUNDAC sempre precisou criar projetos para a Rouanet ou editais semelhantes. É da natureza de uma fundação: você praticamente não tem recursos próprios e, por isso, pode pleitear essa grana e concorrer normalmente a um edital, disputando com outros produtores culturais.
Os Folguedos, por exemplo, maior evento cultural da pasta, é, na verdade, uma enoooooorme vaquinha governamental. Vocês precisariam ver uma reunião de planejamento dos Folguedos com representantes de uns 20 órgãos públicos, ocasião para, entre outras coisas, passar o pires, pedindo desde copinhos de água mineral à Agespisa (na época), até frutas da Ceasa para servir lanches para os convidados. É uma insuficiência crônica, mas que só revela a dureza e a força que é realizar este trabalho. Tenho profunda admiração por Sônia Terra, Carlos Mata e Chagas Vale, meus chefes na época da FUNDAC.
Seguindo nesse campo de suas experiências na FUNDAC, você também desenvolveu pesquisas acadêmicas no campo da história discutindo políticas públicas e instituições culturais em Teresina, comenta um pouco sobre esses trabalhos.
Na dissertação que fiz entre 2014 e 2016, meu objeto de estudo era o Salão Internacional de Humor do Piauí, que completaria 30 anos naquele período e que era considerado um dos melhores eventos do gênero, em todo o Brasil. Acabei focando meus problemas na relação entre políticas públicas culturais e parcerias público privado, já que a Fundação Nacional de Humor, que realizava o evento, não era um órgão público, apesar de realizar um evento de natureza pública e gratuita.
Confesso que fiquei um pouco deslumbrado com minha pesquisa e eu deveria transformá-la em 2 ou 3 artigos completamente diferentes, porque fiz uma história do processo de institucionalização da cultura na política piauiense, uma história da Fundação Nacional de Humor e uma história das políticas de incentivo à cultura no Estado.
Acredito que o que há de mais relevante em minha pesquisa foi mostrar, através de um histórico dos recursos destinados à cultura no Piauí, dentro de um recorte de quase 30 anos, um verdadeiro desmonte institucional na área.
Analisando os dados que coletei, pude confirmar o decréscimo constante no repasse de recursos, como que se estabelecendo uma prática clara de desvio oficial dos recursos da política pública cultural no Piauí para outros setores, da ordem de 0,60% do orçamento total do Estado, entre 1986 a 1990, para apenas 0,22%, entre 2011 a 2014. Nos 12 últimos anos revelados pela minha pesquisa, entre 2003 e 2014, o governo do Estado gastou uma média de apenas 0,19% de sua receita com cultura. Isso é risível.
Outro ponto importante revelado por minha pesquisa é o abandono do Salão de Humor. Um evento tradicional que foi, originalmente, criado pelo governo do Estado, depois levado por uma fundação privada e que foi esquecido por ambos, ao final de sua trigésima edição. O governo do Estado deveria retomar sua cria e dar continuidade ao segundo maior evento cultural público do Piauí, já que o Salão só era menor que os Folguedos.
Seu personagem mais conhecido por nós é o “Máscara de Ferro”. O que podemos saber mais dele no seu processo de criação?
O personagem foi criado entre 2000 e 2001, como um extra para uma história que eu havia escrito chamada “O Messias e o Narrador”. Ele era o que o professor de filosofia da UFPI, Heraldo Aparecido, chama de poser-herói, que, em poucas palavras, quer dizer que ele finge ser alguém, possuir uma moral, que realmente não tem, ou não consegue alcançar.
Em “Por dentro do Máscara de Ferro” (2013), eu me via no personagem, mas na verdade estava usando-o para contar uma história que eu precisava contar. Desde então, em “O Inefável Máscara de Ferro” (2016) eu passei a me projetar para fora do personagem e entender o que aquela característica do poser-herói original significava.
Em “Máscara de Ferro vs Zumbis” (2020) procurei deixar claro tudo isso e começo a entender o Máscara como alguém boçal, burro, hipócrita. Uma paródia de quase tudo que tem de pior na humanidade. O único ponto positivo do Máscara é que ele quer tentar fazer o bem, mas é muito burro para perceber que, na maioria das vezes, é apenas inocente (ou infantil) demais para perceber que está errado.
Em 2020 eu pensei em fazer uma história elseword do Máscara, onde ele revela simpatia pelo Bolsonaro, mas fiquei com receio do público ainda não ter o discernimento que eu tenho do personagem e pensar que meu hipotético quadrinho fosse algum tipo de elogio ao presidente. Então, no futuro do personagem, pode esperar muito mais idiotice e insensatez ao estilo do que os tempos nos revelam.
Junto com seu irmão (Caio Oliveira), você produziu “Foices e Facões” (2009 primeira versão / 2018 segunda versão ampliada), HQ sobre a Batalha do Jenipapo. Como é transitar na narrativa histórica e torná-la visual, em busca de uma linguagem acessível a todos os públicos?
Nossa! Eu já escrevi um artigo científico inteiro sobre essa sua pergunta. Vou começar pedindo para que você publique o link aqui
http://abatalhadojenipapo.blogspot.com/2019/07/historia-e-arte-batalha-do-jenipapo.html
Eu comecei aquele meu artigo citando uma frase de Paul Veyne, que diz: “a história é um romance real”. Então, como um historiador que tem compromisso com a verdade ou, pelo menos, com o verossímil, a gente tem de transitar entre a consulta das fontes históricas e a forma da narrativa. E os quadrinhos são uma dessas formas. Fazer isso é muito interessante.
Eu penso que dentro desta narrativa ficcional histórica que a gente faz, a história serve como um alicerce, como uma coluna vertebral do que pretendemos contar. É claro que, se você pretende ser mais realista, esta estrutura limita sua construção, porque te aponta um norte muito bem definido, que são os fatos que não devem ser alterados. Mas se sua narrativa inspira-se levemente em fatos reais, e você pode abstrair a realidade, você pode construir fantasias históricas como num gibi que li sobre a independência do Brasil com zumbis, escrita por Fábio Yabu.
Os amantes de HQs, super-heróis e ficção científica, estão acostumados a ver/ler referências de outros lugares, de culturas de outros países, como vê a importância de um quadrinho que aborda um fato marcante, não só da história do Piauí, mas do Brasil, levando em consideração que a Batalha do Jenipapo foi um dos poucos movimentos de fato, de luta de adesão à independência?
É muito comum a gente se perguntar o que são os quadrinhos brasileiros. Para mim, a primeira coisa que vem à mente são os quadrinhos de humor, tipo Turma da Mônica ou Chiclete com Banana. Acho que a importância dos quadrinhos históricos reside, justamente em ajudar a construir uma perspectiva dentro deste contexto. Quer dizer, ajuda a revelar mais brasilidade em nossa produção do que apenas o quadrinho feito por brasileiros, porque, muitas vezes, o artista brasileiro pode tá fazendo o Superman e sua trupe para o mercado exterior.
Os mais críticos vivem falando que super-herói brasileiro não dá certo, que a gente não conseguiria aceitar bem um Homem-Aranha entre os prédios de São Paulo. Mas acho que tudo depende da forma como podemos dialogar com nosso contexto. Consigo imaginar, por exemplo, um quadrinho de super-herói numa abordagem crítica como Watchmen ou The Boys, se passando durante a ditadura militar brasileira. Mas também é possível fazer algo como a DC fez com a Yara Flor, sua nova Mulher Maravilha amazonense, que utiliza folclore brasileiro como base para a personagem.
O que quero dizer é que fatos históricos, ou mesmo estruturas socioculturais, sempre são uma excelente argamassa para sustentar uma história que queremos contar. Foices e Facões é, assim como uma história sobre a independência do Brasil, um drama sobre uma família que precisa entrar numa luta sangrenta da qual não gostaria de participar. Se essa história será contada como uma ficção científica, um terror, uma aventura super-heróica ou fantástica, cheia de aparições folclóricas, isso depende de seu autor e de seu público.
Quase todos que iniciaram leituras em HQ na cidade já passaram pela livraria Quinta Capa, que completa 10 anos de existência. No tempo em que grandes corporações abocanham grande parte da fatia dos lucros em venda de livros e revistas pela internet, o que você tem a dizer ao chegar até aqui vivendo do ofício de livreiro?
Em 2017 eu fiz um vídeo chamado Amazon vs Livrarias. O vídeo está disponível em nosso canal Papo Quadrinhos e Participações (PQP) no You Tube. É engraçado, porque tudo que eu falei naquele vídeo continua certo, na minha perspectiva. Eu disse que a Amazon praticava dumping e prejudicava enormemente o meu comércio.
Passei a ter enormes dificuldades para manter meus clientes, porque eles preferiam comprar na Amazon, que oferecia grandes descontos que podiam variar de 30 a 70% ao custo de um enorme prejuízo que era sustentado pelas ações da empresa de um dos homens mais ricos do mundo. No outro lado da conta estávamos nós, os pequenos livreiros e, no fiel da balança está o cliente.
É claro que não podemos criticar o cliente que tem a opção de comprar algo com 70% de desconto e frete grátis! E não podemos insistir no romantismo do “ajude o pequeno comerciante”!
Acontece que, devido a enormes baixas que ameaçavam minhas contas em 2019, em dezembro daquele ano eu passei a cadastrar meu estoque na Amazon para tentar o comércio on line, motivado pela mesquinharia da mais nojenta das atitudes do livre comércio: descobri que eu tinha encalhado em meu estoque de quadrinhos esgotados no mercado e que eu poderia vender pelo dobro ou triplo do preço.
Digo isso sem o menor pudor! Se o cliente pode ter a opção de não comprar comigo porque a Amazon vende com um desconto impraticável, eu posso usar a lei da oferta e da procura e equilibrar minhas contas vendendo um produto por um preço absurdo, mas que o capitalismo acha justo e que alguém pode pagar. Não reclamem com o “mercenário” do livreiro! Reclamem com a editora para colocar o produto em catálogo por um preço justo que, assim, ninguém vai ter de pagar três vezes mais do que vale certo gibi.
Como a pandemia afetou os negócios da livraria e que novas alternativas você encontrou para manter as vendas?
Foi justamente essa guinada para as vendas digitais que me manteve ativo mercado. A forma como precisei trabalhar com a Amazon se revelou fundamental e representou quase 57% do total das minhas vendas em 2020.
Fechei a livraria para o público presencial em março e só reabri e voltei a fazer pedidos com as distribuidoras em setembro. Foram 7 meses com a livraria fechada e fazendo apenas vendas on line e entregas nas casas dos clientes. Nesse período, foquei em trabalhar com meu estoque, que graças à mão invisível do capitalismo, estava bem avaliado no mercado.
Mesmo assim, perdi pouco mais de 50% do total de vendas que tive com relação ao balanço do ano anterior. Mas como passei 7 meses sem fazer nenhuma encomenda e, quando reiniciei, foi com muita calma e cuidado, consegui manter as contas em dias e com uma folga melhor que no ano anterior.
Em 2020 nós completamos 10 anos de livraria e não pudemos comemorar. Normalmente, fazemos encontros com clientes, um bazar ou bingo nestas ocasiões. E não pudemos fazer nada! A gente lançou 3 quadrinhos naquele ano e não fizemos nenhum tipo de evento para comemorar. Apenas em janeiro de 2021, quando lançamos uma nova publicação, organizamos um evento em uma praça, próximo a um cruzamento e semáforo movimentados de Teresina. Na ocasião, lançamos um livro de tirinhas do Jota A. Foi à alternativa que encontramos para não passar em branco a ocasião.
Muito se fala – num exercício de futurologia distópica – que o livro, daqui a alguns anos se tornará um objeto de fetiche para leitores retrô e o digital será hegemônico. Qual sua posição sobre o futuro das publicações impressas? As livrarias vão fechar e nossas leituras serão em arquivos PDF? Kindle? Será?
O fato é que estamos vivendo em um mundo onde quase não há mais bancas de revistas. Estamos mudando para um mercado digital e viver de vender impressos parece cada vez mais algo restrito ao século XX. O cenário tá muito estranho! Quando a história generalizar nossa vida em recortes temporais, irão dizer que no século XXI o mercado de impressos teria diminuído tanto, que seria algo excêntrico de colecionadores ricos ou de museus.
Se minha previsão estiver errada é porque acredito também que, assim como a natureza encontra um jeito, como disse o dr. Ian Malcolm, o mercado também encontra! Então, as facilidades para qualquer autor independente ingressar no mercado de impressos estão cada vez maiores e essa facilidade da imprensa se gerir, fragmentar, segmentar, pode ser o caminho para superar os problemas de custos de impressão e distribuição, que pode iniciar uma nova era de impressos no mundo.
Já pensou uma editora de São Paulo mandar um arquivo para suas filiais nos vários Estados do Brasil que iriam imprimir e distribuir localmente o mesmo produto, cortando os altos custos de distribuição nacional? Isso pode ser feito hoje!
Então, não! Não acho que o mercado de impressos irá acabar. Pode diminuir, mas acredito que o universo do colecionismo irá aumentar e ninguém tem, realmente, paixão por contas de streaming ou irá deixar de herança senhas para acessos às suas contas digitais. Também, um pai não vai assinar uma dedicatória numa versão kindle do livro preferido do filho como um presente para ele. E isso não é puro romantismo. Acredito que é a essência de uma reafirmação do materialismo como lugar de memória, e que irá perseverar, sempre.
Imagens: arquivo pessoal.
Massa! Valeu pelo espaço