“Você sabe quem eu sou?”, Laís nos provoca. Quem são as mulheres, que devido ao corpo que carregam, seguem invisibilizadas? E assim ela nos convida a atravessar a pele-papel que a separa do mundo, mas que também serve de superfície para explorar sua poesia, sua língua, sua escrita, seu bordado. O silêncio, o cansaço e a sensação de fracasso servem de subtexto e impulsionam o seu desejo; o desejo, já realizado, de ser artista, de ter o próprio corpo como matéria-prima de sua arte, um corpo que flutua, que dança, que resiste, que faz poesia. Mergulhamos então em mére-mar-mãe-mátria, esse lugar cheio d’água, profundo, no qual é possível se reconectar com a origem de si e encontrar a pausa da exaustão. De volta à superfície, é preciso puxar o ar com força como quem busca o pathos, “a coragem de descrever o que não é meu e não pertence, apenas é”. Talvez não saibamos quem Laís de fato é, mas decerto sua poesia oferece a outras mulheres um espelho para que elas saibam quem são.
Mátria., de Laís Romero, é um livro-corpo que se divide em três partes: Desejo, Mátria e Pathos. Como o próprio título sugere, trata-se de uma busca pelo lugar de expressão da mulher. Não qualquer mulher, uma mulher que tem um corpo, uma origem, um país, uma mátria, nordestina e singular. A partir do seu desejo, da ancestralidade que remonta a Lilith, aquela que renunciou a um suposto paraíso, Laís mergulha na materialidade de ser mulher para encontrar enfim seu pathos, sua capacidade de comover e afetar a nós, leitores, com sua poesia
Sobre a autora
Laís Romero nasceu em Teresina (PI), em 1986. É mãe do Luís e do Júlio, mestra em letras pela UESPI e especialista em escrita e criação pela Unifor. Atualmente, trabalha como revisora e editora. Mátria é a sua primeira publicação solo.