.2 Poemas de Nina Rizzi

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Nina Rizzi (SP/ CE, 1983) é poeta, tradutora e pesquisadora. Autora de tambores pra n’zinga, A Duração do Deserto, geografia dos ossos, quando vieres ver um banzo cor de fogo e caderno-goiabada (no prelo). Escreve em seu blogue quandos [http://ninaarizzi.blogspot.com.br] e coedita a revista escamandro – poesia tradução crítica [https://escamandro.wordpress.com]


Sem Título, com Água y Sal

eu também circulei aquele poemabismo
flexiono pra trás numa postura de herói lembrando a noite e a noite

há uma dor aqui
algo tão mudo junto às marcas do meu corpo-
dentro como um abismo de se cair que dissesse
sexo não é libertação

crescendo junto ao silêncio e as fitônias que murcham co’água
há uma dor aqui
um diamante de fogo dentro do útero
aquela água toda
e tudo se alarga assim uma queda sem-fim
uma suspensão, um incômodo tartamudo

tenho um livro inteiro pra riscar
circular
– queimar um outro de hermenêutica
tento pensar em temas grandiosos
deus, a videterna, o abismo. não:
há uma dor aqui
os rasgos são só um ciúme, uma ansiedade, um coração-aumentado

chorar. esperar. partir.
os dias passam com suas horas poucas
tantas
como alcançar um supercilio, um silêncio que não arda
respirar desde o diafragma ate os pulmões

silêncio.

um intervalo pra um oi
um bella, ciao
um nada
há uma dor aqui


Vertebral

penso palavras tão puras
palavras tão negras

uma mão escreve o silêncio
outra mão agarra o nada

e uma flor
e outra flor

um vau de rio na escuridão
um vaso índio e a pura lama

penso palavras tão puras
palavras tão negras

o olho mansidão
claraclaridade

o mar e o cheiro do mar
o barco e o barqueiro

uma respiração do abdome
aos pulmões ao abdome

penso palavras tão negras
palavras tão puras

no movimento dos dedos
a ligação do céu co’a terra

no movimento dos quadris
a união do vento co’ fogo

na imobilidade
a mais completa ação

penso palavras tão puras
palavras tão negras

nossa verdade ninguém vê
o fogo a textura a série

uma ruazinha
nascada de tinta

um precipício na esquina
arribação do tu&eu

penso palavras tão negras
palavras tão puras

e o poema está inteiro

                                  in progress

1 comentário em “.2 Poemas de Nina Rizzi”

  1. Os poemas são lindos e tocantes.
    Gostaria de saber se houve algum erro de revisão no verso “nascada de tinta” do segundo poema.
    Caso contrário, o que quer dizer “nascada”?
    Aproveito para pedir que publiquem mais textos dessa poeta.

    Responder

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