3 Poemas de Sílvia Barros

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Sílvia Barros, nascida em Natal (RN,) cresceu na cidade de Niterói (RJ). É professora de português e literatura, pesquisadora na área de autoria feminina e autoria negra, com doutorado em literatura brasileira pela UFRJ. Como escritora, tem trilhado o caminho da publicação coletiva, participando de diversas antologias, entre elas, Cadernos Negros, volumes 41 e 42, Negras Crônicas, Narrativas Negras e Contos para depois do ódio (Flup 2019). Buscando o voo solo, tem, no prelo, Em tempos de guerra, livro com 11 poemas escritos durante o primeiro mês de isolamento social devido à pandemia de corona vírus e financiado inteiramente com recursos pessoais. Escreve a coluna Travessia quinzenalmente na revista Ruído Manifesto. Sobre a obra, Sílvia nos diz que: “Se eu não exigir existir na palavra, se eu não for capaz de colocar meu corpo nela e ela em mim, ninguém vai. Reconhecendo a memória do meu corpo e a memória do corpo coletivo de mulheres, a memória do corpo dissidente, fora da norma, fora das performances esperadas, com coragem de colocar esse corpo nu diante do espelho das palavras, escrevi Poemas para meu corpo nu.”


Disclaimer

Este é um livro de poemas
Sobre a nudez
Porque a forma da poesia
É a única capaz
De mostrar meu corpo.
Se eu conhecesse
Outras maneiras de fazer arte
Com pincel, argila ou voz
Faria de um jeito
Que não precisasse tirar a roupa.
A poesia despe
Com as palavras
E cria o retrato do meu corpo nu.


Exorcismo

Este é um exorcismo
De um corpo que habita meu próprio corpo
Como um obsessor
Que me odeia
Cujo peso me achata.
Preciso mandar embora esse corpo-sósia,
Doppelgänger do corpo-eu real,
Que por vezes demais aparece no espelho
Me pondo medo,
Pois quando o vejo penso:
Essa sou eu sou eu sou eu.


Estrias

Esgarçada
Minha pele se abriu
Em rios e afluentes de estrias
Primeiro rosadas
Depois esbranquiçadas
Em contraste com a pele marrom
O corpo desenhado de listras
Irregulares
Que sobem e descem
Riscam de fora a fora
Desenrolam-se como plantas trepadeiras
No jardim do meu corpo.

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