Graça Graúna: povo potiguara (RN). Membro do Conselho de Educação escolar indígena (Ceein/PE). Doutora em Letras – Teoria da Literatura, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); pós-doutorado em Literatura, educação edireitos indígenas pela UMESP. Coordena o Grupo de Estudos Comparados: literatura e interdisciplinaridade (GRUPEC), junto à UPE/CNPq. Coordenou o Projeto Literatura e Direitos Humanos, junto ao MEC/SEACD/UPE, e a Comissão Temática Literatura Infantil e Juvenil, no III Fórum Nacional do PROFLETRAS. É pesquisadora e autora de livros (poemas, ensaios e literatura infantil) voltados, sobretudo, ao universo indígena.
Canção Peregrina
I
Eu canto a dor
desde o exílio
tecendo um colar
muitas histórias
e diferentes etnias
II
Em cada parto
e canção de partida,
à Mãe Terra peço refúgio
ao Irmão Sol, mais energia
e à Irmã Lua peço licença poética
para esquentar tambores
e tecer um colar
de muitas histórias
e diferentes etnias.
III
As pedras do meu colar
são história e memória
são fluxos de espírito
de montanhas e riachos
de lagos e cordilheiras
de irmãos e irmãs
nos desertos da cidade
ou no seio da floresta.
IV
São as contas do meu colar
e as cores dos meus guias:
amarela
vermelha
branco
negro
de Norte a Sul
de Leste a Oeste
de Ameríndia
ou de LatinoAmérica
povos excluídos.
V
Eu tenho um colar
de muitas histórias
e diferentes etnias.
Se não me reconhecem, paciência.
Haveremos de continuar gritando
a angústia acumulada
há mais de 500 anos.
VI
E se nos largarem ao vento?
Eu não temerei,
não temeremos,
pois antes do exílio
nosso irmão Vento
conduz nossas asas
ao círculo sagrado
onde o amálgama do saber
de velhos e crianças
faz eco nos sonhos
dos excluídos.
VII
Eu tenho um colar
de muitas histórias
e diferentes etnias.
Colheita
Num pedaço de terra
encabulada, mambembe
o caminho de volta
a colheita, o ritmo
o rio, a semente
Planta-se o inhame
e nove meses esperar
o parto da terra.
Planta-se o caldo
e docemente esperar
a cana da terra
Palavra: eis minha safra
de mão em mão
de boca em boca
um porção Campestre
Potiguara ser.
Geografia do Poema
O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.
Um corpo virou cinza,
Um sonho foi desfeito
E mil povos clamaram:
_ Não à violência!
A terra está sentida
de tanto sofrimento!
[…]
O dia deu em chuvoso
na geografia do poema.
[…]
Pelas ruas
a tristeza dos tempos,
a impossibilidade do abraço.
Nos corredores da morte
meninos e meninas
nos becos da fome
consome a miséria: matéria prima
de nossa sobrevivência.
[…]
Nos quarteirões,
dobrando a esquina
homens e mulheres
idôneos, cansados
lastimam o destino
de esmolar o direito
nos tempos madrugados.
Se o medo se espalha
virá o silêncio
o espectro das horas
e as cores sombrias.
Se o medo se espalha
Amargo será sempre o poema
O dia deu em chuvoso
na geografia do poema:
um corpo virou cinzas,
um sonho foi desfeito.
A terra está sentida
de tanto sofrimento.
Olá, muito lindos os seus poemas. Gostaria de saber se poderia utilizá-los em um caderno pedagógico que estou montando para um projeto que desenvolvo na SEDF. Sou educadora na secretaria, da área de códigos e linguagens e também sou pedagoga de projetos. Meu contato é :
tel: 61 999914209
Gratidão!
olá Ana Karina
vou lhe passar o e-mail da Graça Graúna para que fale com ela.
[email protected]
agradeço pela visita no site.
Conheço estes três dias algumas poesias da Graça Graúna, minha conterrânea, são maravilhosas. Paulo Sena.
Lindas as poesias!!! Parabéns!
Gostaria de saber de qual obra de Graça Graúna foram retirados os poemas aqui publicados! Grata.
Olá Renata. Não sei lhe informar, pois foi ela mesma que enviou a uns anos atrás. Quando na época fizemos a publicação ainda em uma edição impressa. Imagino que eles devam estar em um livro coletânea/antologia.
Maravilha ler graça. Também escrevo sobre minhas vivências. Mora em comunidade tradicional. Sou fã da Graça Grauna
Gostei! Gostei! Enfim,
Veio a mim
A poesia não é só alegria
É tristeza também
No silêncio da floresta
Gritos se escuta além…
De algum lugar
Quem será… Quem
#PoetaFantasma