DIQUE: Um Processo de Criação

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Adalberto Oliveira (PE) graduado em Cinema Digital pela Faculdade Maurício de Nassau em Recife – 2011. Atualmente fazendo Pós Graduação em Técnicas de Áudio e Produção Musical na faculdade


A proposta de documentar a paisagem sonora da relação do dique com o ambiente social olindense, nasceu a partir de uma identificação pessoal por morar grande parte da minha infância no bairro de Casa Caiada. Nos anos 80, era possível observar uma mudança significativa na ecologia, urbanização e pessoas que freqüentavam o local. Quando jovem, a pescaria era mais intensa devido a maior quantidade de peixes e espécies de crustáceos. Cito como exemplo, a quantidade de espécies de Marias Farinhas que habitavam as praias com o triplo do tamanho do que as que vemos nos dias atuais. As edificações possuíam menor altura, possibilitando um melhor aproveitamento de entrada do sol no Dique e na região, além de facilitar a circulação de ventos na cidade. Quando criança, fazia visitas constantes ao local acompanhado do meu pai. Ele e seus amigos tinham como costume a prática da pesca, o que proporcionou um contato intimo com grande parte dos arrecifes e diques da costa Olindense. Quando adolescente, pratiquei pesca de mergulho fato que me fez ter uma proximidade maior, pois pude conhecer a parte submersa da região.

Aproximadamente 25 anos se passaram e a sonoridade ficou muito diferente, o processo urbano aumentou, as espécies de peixes, crustáceos e passaros se modificaram e percebo uma outra realidade sonora construindo uma idéia de cidade. Olinda aparece aos meus olhos pelos enquadramentos imagéticos e sonoros escritos nesse filme. Assim, fazer esse projeto sonoro e visual tem como intuito registrar os processos de transição registrados nas paisagens olindenses a partir das reformulações urbanas inscritas no dique.

No ano de 2010, fiz uma oficina chamada “Ambientes Sonoros Imersivos” ministrada pelo Sound Design Thelmo Cristovam. Ela me fez exercitar a minha escuta e perceber os sons presentes ao meu redor. Nela dei inicio aos estudos sobre música concreta e paisagem sonora, influência direta para esse projeto. Após a oficina vi a possibilidade de abordar o meu objeto de estudo de maneira muito diferente do que imaginava fazer. Iniciei visitações no local para entender como ele – o som – poderia ser ouvido e por que não “visualizado” em dias variados da semana, de horários também variados.

Observei, portanto, a melhor maneira de abordá-lo para dar inicio as gravações do ambiente. Essa pesquisa diminuiu o meu tempo de escuta das horas gravadas, tendo em vista que uma idéia de paisagem eu já tinha estruturado no processo de pesquisa. O Passo adiante era compor essa paisagem a partir das reformulações digitais do som. Passei a trabalhar a imagem e os sons desenhados, etapa por etapa. Até chegar a uma impressão de Olinda que mistura olhar de criança, adolescência e essa fase nos tempos sonoros inscritos nesse projeto. Dique é antes de tudo um olhar de um transeunte, é também um lugar de pesquisa e amadurecimento profissional.

Para além, acho importante a existência desse projeto, pois ainda que seja uma visão pessoal, deixa espaços para a formação de olhares e ouvidos documentais sobre as mudanças urbanas vistas. Acredito que se não entrarmos em harmonia com o que podemos identificar de natureza, tudo o que conquistamos será em vão e apenas restarão as construções inertes no tempo, paisagem sonora que procurei descrever é antes de tudo, movimento, conflito entre espaço urbano e ambiente natural, erosões, novos prédios, caranguejos e homens.

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