Livros antigos que devem ser lidos

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por Henrique Douglas

Essa é a história de um imigrante judeu que desembarcou no Brasil em 1936. Fugindo do nazismo, acompanhou pari e passu as investidas do antissemitismo e do racismo na terra de Pindorama.

Leitura reveladora, abarca as manifestações de Plínio Salgado e suas “galinhas verdes” do Integralismo, discursos de ódio, artigos simpáticos ao “reino de mil anos” de Adolfo e reiteradas tentativas da volta das teorias da “Ação Integralista Brasileira” travestidas e disfarçadas com outros nomes e siglas.

(Imagina uma época que acusavam GLAUBER ROCHA, CAETANO VELOSO E GILBERTO GIL de ‘direitistas’! Só um posicionamento à direta de Gengis Khan poderia sugerir algo assim!)

Bonito e digno de orgulho de se ver no livro é a Inegável força e a habilidade – através da boa escrita e do conhecimento – de inúmeros jornalistas brasileiros. Com destreza intelectual, sem erudições, porém com pequenas fintas cênicas na escrita, esfacelam os arroubos fascistas da outra parte, muitas vezes compostas de intelectuais, como é o caso do cearense Gustavo Barroso.

Emocionante ler Orígenes Lessa desbaratar a quadrilha do ódio no seu texto “Aquele Judeu Ladrão”. Linda peça de letras.

(Essa eu não sabia!) Me surpreendeu bastante a existência de uma passagem no livro “Minha Luta” referente ao Brasil: “país na América do Sul, de dimensões continentais, cuja população é composta de mestiços e se alimenta de bananas”.

Por causa disso, se instala um debate. Primeiro porque alguns diziam que no “espaço vital” da política territorial dos nazistas, dizia não interessar o Brasil, e segundo, as edições a partir de 1928, provavelmente teriam sido alteradas para não conter mais tais ofensas com o intuito de manter boas relações com o país. (Aconteceu com a Inglaterra também)

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Termino aqui com uma história pessoal e relativa a esse exemplar autografado que possuo.

Comprado em sebo no Rio, cenário da maioria das histórias contidas, nele há uma dedicatória do punho do autor (Werner Nehab) dirigida ao dono original dessa edição, Sr. Paulo Alexandre Rodrigues, ex-combatente da Segunda Guerra e personagem do livro. Dono da “Medalha de Guerra com 3 estrelas”, ele se apresenta como testemunha da mais alta lisura para legitimar as intenções de Hitler nas falas sobre o Brasil. O então Ministro Lindolfo Collor também faz coro como testemunha ocular e auditiva da manifestação estúpida e preconceituosa de Adolfo em relação ao Brasil.

Todo governo totalitário tenta apagar os rastros que o desagradam.

Penoso por saber que a família do bravo militar da Marinha brasileira se desfez dessa edição assinada pelo autor, documento histórico inestimável, mas feliz porque avançar ou retroceder na história com esse documento ainda pulsante é especial (ou deveria ser) para qualquer brasileiro que deseja um país mais justo. (HD)

2 comentários em “Livros antigos que devem ser lidos”

  1. Prezado articulista,

    Como filho de Werner Nehab, agradeço a postagem que, infelizmente, só chegou ao meu conhecimento hoje.

    Grande abraço
    Carlos Nehab

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